Chapter 2

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- Katrina, você está me atrasando de novo. -meu pai disse enquanto eu corria para dentro de casa novamente, meus saltos ecoando pelo hall.

- Esqueci o suporte do sax! Segure o elevador!

Faltavam 15 minutos para a escola dominical começar quando entramos em nosso Ford Ka branco e demos a partida. Depois que nos mudamos para esse apartamento, a dois anos atrás, temos que sair mais cedo para chegar á igreja no horário. E todos os Domingos eu parecia esquecer algo, o que fazia meu pai ficar bem nervoso comigo, já que ele odiava chegar atrasado, por ser o professor da classe de homens. Mas ele perdoava. Percorremos todo o caminho até a igreja em silêncio, alguns hinos do Fernandinho tocando baixinho no rádio. Passamos na frente do pequeno mercado e logo depois, do salão de cabeleireiros da esquina. Descemos a ladeira, e duas ruas depois entrávamos na Rua Otávia, tão familliar, onde o número 10 guardava um lugar precioso para mim e para minha família. Um belo prédio, não tão grande, mas também nada pequeno, todo pintado de branco, com detalhes azuis por fora, com um jardim na frente, bem colorido, onde parecia haver centenas de espécies de flores que deixava toda a frente colorida e alegre. Eu pisava naquele lugar e já sentia uma pequena sensação de paz e conforto dentro de mim, por estar revendo todas aquelas pessoas que já me conheciam e me mimavam a anos, meus amigos (que confesso, estavam quase todos ali) e claro, por estar adorando ao meu Deus. Entrei pelas pesadas portas de madeira, bem no meio, onde já podia avistar toda a extensão da igreja, com os envernizados bancos enfileirados, e lá no final o grande púlpito cheio de cadeiras vermelhas de veludo, as paredes brancas com detalhes de pedra e vitrais que iam quase do chão ao teto por onde entrava a luz de fora para iluminar todo o lugar. Sentei no banco de todos os Domingos a tarde onde ficava a minha sala de 15 a 17 anos da escola bíblica. Já estava quase começando, devido ao fato de eu ter atrasado meus pais, então quando vi Mary entrando apenas acenei para que ela viesse logo sentar ao meu lado.

- Oi Kat! Quanto tempo! -ela me deu um beijo na bochecha.

- Nos vimos anteontem no ensaio da orquestra! -dei risada- E pena que você perdeu a confraternização ontem a noite. Foi muito legal! Chegaram até pessoas novas.

Enquanto eu pegava uma bala de dentro da bolsa dela, ela respondeu:

- Depois você precisa me contar tudo! Mas que pessoas novas?

- Os filhos do pastor Ommar: Matt, Jim e Mike. Eles são bem legais, tenho certeza de que serão nossos amigos. Pareceram ter se enturmado bem.

Nesse instante, Pen chegou e sentou do meu outro lado, já entrando de cabeça em nossa conversa:

- Quem parece ter se enturmado? Ah, os "novos". Mary, eles são simplesmente muito gatos!

- Ah, pare Pen! Você só pensa nisso? -respondi, já começando a rir novamente.

- Jesus ainda precisa mudar meu coração nessa parte, juro que estou tentando. -ela olhou para o teto como se estivesse olhando para o próprio Deus pedindo perdão.

- Mas então... Eles são mesmo gatos? -Mary falou em voz baixa.

Quando Pen abriu a boca para responder, nosso professor, o pastor Fitz (Gerald Fitz) pediu que todos fizessem silêncio pois a aula iria começar. Mary fez um sinal com as mãos para Pen, indicando que ela deveria lhe contar depois. Tudo correu bem, a aula falava sobre a importância da família e como devemos honrar aos nossos pais para que possamos ter uma boa vida. Quase todo mundo estava participando, menos Lucca, Gabe e Will, que sempre conversavam no banco atrás de nós. Julie como sempre, chegou atrasada, quase na metade da aula, mas como sempre, havíamos deixado um lugarzinho vago para ela ao lado de Pen, para o caso de não ter sobrado nenhum. A aula durou até 17:00, quando o pastor Isaque finalizou para que tomássemos nosso café da tarde e depois já voltássemos para o culto, que ia começar às 18:30.

- Vamos para a sua casa hoje Mary? -perguntei.

Mary morava na rua de trás da igreja e íamos muito pra lá, aos Domingos e até em dias de semana.

- Melhor não, minha mãe está dormindo, com crise de dor na coluna. Vamos deixar ela em paz hoje.

Estávamos indo sentar no banco da lateral, eu com minha xícara de café com leite quente, Julie com um pacote de M&M's que estava dividindo com Pen e Mary. E nós os vimos. Eles pareciam seilá, um trio de anjos ou algo assim, quando andavam daquela maneira. Os três juntos haviam saído do carro, estacionado meio longe e subiam a rua com a maior expressão de superioridade. Esqueça o que eu disse sobre amizade, eles eram metidos demais para ficar com qualquer um de nós. Mas eles eram realmente gatos. Jim parecia ter saído daquelas revistas famosas, com aquele cabelo extremamente preto, liso e jogado na testa que contrastavam mais ainda seus grandes olhos meio acinzentados. Mike era do tipo esporte e descolado, o cabelo dele era bem curto rente a cabeça mesmo, o que deixava seus olhos, cor mel e castanho lindamente expostos e ampliados pelo óculos de grau que usava. E por fim Matt, que expunha um sorriso de dentes branquíssimos naquele mesmo momento enquanto cumprimentava alguém, tinha o cabelo preto penteado para trás, o que deixava um charmoso topete no alto de sua cabeça, os olhos eram da mesma cor do irmão, Jim.

- Fechem a boca, a baba está escorrendo.

Tomei um susto e logo me senti corando ao ver a Pastora Jane, bem na nossa frente, tendo uma crise de riso. Pastora Jane era a amiga e conselheira que todos gostariam de ter. Ela era avó de Julie, mas todas nós a considerávamos como se fosse nossa também. Ela transpirava amor, carinho e...gracinhas! Podíamos contar tudo para ela, e ela iria dar sempre o melhor conselho, nos ensinando a agir conforme a vontade de Deus e a tomarmos a atitude certa. Mas aquilo tinha sido embaraçoso até mesmo para com ela. Estávamos literalmente secando os novos garotos.

- Vó! Estávamos só...-Julie começou.

- Checando pra ver se ainda havia mais vagas na rua! -Pen tentou terminar com essa desculpa esfarrapada.

Ela fez milhares de comentários que nos constrangeram ainda mais, mas terminou nos dizendo para tomar cuidado, pois nem conhecíamos direito esses garotos e a aparência não era tudo. Quase eu disse a ela que com aquela aparência não se precisava de mais nada, mas me segurei, afinal, mesmo que eu quisesse negar, ela tinha razão. O intervalo acabou bem rápido, e eu fui para o meu lugar na orquestra, montei meu saxofone dourado e toquei sem errar nenhuma nota (o que era um milagre porque eu ainda estava aprendendo). Pensei ter visto Matt me encarando durante o culto, mas é claro que havia sido somente uma impressão. Eu tinha que parar com isso, afinal ele nunca, nunca mesmo gostaria de uma garota como eu. É obvio que eu não nutria sentimentos por ele nem nada assim, mas quando me peguei pensando nisso, pude sentir uma pequena pontada de dor, bem lá no fundo do coração. Ele não gostaria de uma garota como eu.

I'm a messOnde histórias criam vida. Descubra agora