Chapter 5

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Kat
5:45. Despertador. Escola. Casa. Conversar com Jim a tarde. Ensaiar o gesto. Ir para a igreja a noite. Dormir. Mesma rotina durante toda a semana até sexta feira. Descobri que Mike (irmão de Jim) tem uma namorada e eles estão praticamente noivos. No Domingo eles não falaram com ninguém por causa de Matt, que tinha uma personalidade um pouco difícil (palavras dele). Até agora eu tinha começado a entender um pouco essa família. Mas Jim já tinha virado um amigo, mesmo o conhecendo a tão pouco tempo e eu tinha certeza de que Mike, Sônia e Ommar também eram ótimas pessoas. Quanto á Matt... é mais complicado. J não falou quase nada sobre ele, mesmo quando eu sutilmente perguntava algo, e eu não queria que ele achasse que era sua amiga apenas para saber das coisas, então decidi esquecer, afinal nem dá pra conversar com o garoto. Estávamos todos (minha mãe, meu pai, Julie, Pen, Mary, até mesmo Lucca, Will e Gabe) ocupados com os preparativos para o Congresso de Jovens. A semana foi extremamente corrida, mas quando chegou sábado, finalmente, tudo estava pronto e só restava se arrumar. Meu pai saiu para buscar equipamentos do som, então só íamos encontrá-lo lá na igreja, minha mãe foi para a casa da Pastora Jane ajudar com os lanches para depois do culto e ia se trocar lá mesmo, então acabei ficando sozinha em casa o dia todo. Meu cabelo e minha cara estavam uma bagunça então tomei um banho, e com a toalha enrolada na cabeça, fiz minha unhas (mão e pé), escolhi minha roupa e fui estudar algo na bíblia para falar no culto. Sequei meu cabelo e encaracolei as pontas, enfiei meu vestido azul marinho de renda pela cabeça e coloquei saltos pretos, não tão altos. Olhando para o meu reflexo no espelho eu percebi que estava até...bonita. Geralmente eu não era nada tão deslumbrante. Meu cabelo era castanho bem claro com pontas mais claras ainda e ia até um pouco depois dos ombros. Tinhas olhos castanho-escuros, era magra mas com poucas curvas (pensei em Pen) e minha pele era bem bronzeada, naturalmente. Sorri para mim mesma no espelho (ok, eu estava bem bonita hoje), peguei minha bolsa e saí ansiosa para hoje a noite e um pouco aflita, sem saber se tudo daria certo.

Matt
Já estou cansado de ver as pessoas dessa casa correrem de um lado para o outro. Até parece que estão se arrumando para o Oscar ou alguma merda assim. São tão patéticos, todos eles! "Arruma minha gravata", "Amor, onde está aquela minha camisa?", "Fecha meu vestido?". Fico com mais raiva a cada momento mas hoje não vai ter festa devido a problemas policiais. Grande droga. Quando estava quase na hora de sair, pareceram perceber que eu continuava vestido em minhas calças pretas, all star também preto e camiseta...preta. Meu pai parou na frente do sofá onde eu estava esparramado e me encarou. Os outros nem se deram ao trabalho.
—Vamos Matt. Se quer ir vestido dessa maneira tudo bem, mas não nos atra...
— Eu não vou. Já arrumei um emprego. O acordo acabou.
Nem vou citar tudo o que ele disse e o que eu disse depois disso. Foi uma briga feia, uma das mais feias que tivemos e por não ter nada para fazer e não aguentar mais ele me enchendo o saco, disse que iria na merda do Congresso mas que era apenas hoje. Entrei no carro com meus outros dois irmãos. Mike falava com Dani, sua namorada chata e certinha no celular e Jim conversava com meus pais sobre como estava gostando de tudo e blá blá blá. Não abri minha boca.

Penny
EU ESTOU ATRASADA. DE NOVO! Vamos mãe!!
— Não grite Pen, sua avó está na cama.
Fazia um tempo que ela estava doente. Estava ficando preocupada e sentindo falta daquela alegre a divertida avó que nos animava e pra quem eu podia contar todos os meus segredos. Os médicos não sabiam o porquê do problema de coração e ela tinha que ficar em repouso. Minha mãe estava correndo com a igreja, os hospitais e tudo o mais. Eu sei o que deve estar perguntando: e seu pai?? De verdade, não faço a menor idéia de onde ele está e nem quero saber.

Julie
Graças a Deus que ele não está aqui. Já está difícil de cobrir estes hematomas, imagina se eu arrumar mais. Me arrumei bem hoje, porque mesmo com todos os problemas que ninguém (nem mesmo minhas amigas mais próximas) sabe, eu trabalhei muito por esse congresso. Coloquei meu vestido verde água e salto alto, passei um pouco de maquiagem, prendi meu cabelo em um coque com fios solto na frente e estava pronta. Estava dentro do meu quarto e quando pensei ter ouvido a porta, simplesmente pulei a janela.

Mary
O vestido rosa pink deslizou pelo meu corpo sem dificuldades e eu fiquei feliz. Mas isso passou logo quando minha barriga roncou bem alto, reclamando a falta de comida do dia inteiro. Fazer o que? É o preço a se pagar. As vezes queria ser como Kat, Pen ou Julie que podem comer o que quiserem e nunca engordar. Elas são lindas sem esforço. Não tenho a mesma sorte. Não me arrependo, pois olhando no espelho, com o vestido perfeitamente ajustado, meu cabelo chanel preto liso e reto caindo nos olhos e o delineado perfeito vejo que o esforço realmente valeu a pena.

Kat
Cheguei na igreja a poucos minutos. O culto ainda não começou, mas todo mundo já está chegando e está tudo lindo demais. O trabalho valeu a pena.
— O que houve com seu braço, Julie? Está roxo...
— Sou muito desastrada! Bati em uma parede!
Ela se vira e sai andando corada. Eita Julie, só você mesmo!! Tiro algumas fotos com todo mundo, quando vou abraçar Mary, penso encostar em uma de suas costelas bem aparentes, mas não comento nada. Ela está realmente linda. Todos estão. Estou ficando nervosa, porque o culto vai se iniciar com o gesto. Preciso de água. Saio de fininho, viro o corredor a direta e antes que possa chegar ao bebedouro, bato com tudo em alguém, me desequilibrando e me assustando ao ver seu rosto.

Matt
Eu parecia estar sufocando ali dentro e aquela droga de culto não começava.  Resolvi sair para tomar um pouco de água. Os olhos de todos pareciam me seguir mas eu não dava a mínima. Saí pelas portas centrais, virei a esquina e só vi um lampejo de azul antes de sentir uma batida forte contra o meu ombro. Comecei a protestar, já ia xingar o filho da mãe que não olhou por onde anda quando a vejo. Quer dizer, a vejo de verdade, seu rosto e antes que ela caia sou obrigado a segurar em suas costas, por puro reflexo. Pareço congelado por um segundo e ela também. Mas isso passa, ela sorri e pede umas mil desculpas irritantes.
— Sou Kat, lembra de mim?
Ela está sendo simpática, mas posso ver um certo tipo de horror em seus olhos quando eu não respondo nada ou sorrio. Também vejo que ela fica sem graça, e até tenho vontade de esboçar um sorriso mas nã o faço.
—Hum, realmente preciso ir.
Ela coloca o cabelo atrás da orelha, dá um passo para o lado e sai andando, quase correndo. E eu continuo ali parado, por muito mais tempo. Uma estranha sensação de vazio crescendo dentro de mim.

I'm a messOnde histórias criam vida. Descubra agora