Chapter 8

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Matt
— Se quer saber, eu não ando com eles! Aliás quem estava com eles era você!
"Estava indo para casa e eles me seguraram, fiquei desesperada!! Agradeço por ter me salvado e agradeço também a Deus, mas você não tem o direito de falar comigo assim! Não me julgue Matt! Você é bem pior do que eu. E não me chame de Katrina, eu odeio isso! -ela gritou.
Eu a odeio ainda mais agora. Ela é chata, irritante, certinha, superficial, tediosa e tudo de ruim que consigo me lembrar. Devia tê-la deixado nas garras dos irmãos Dick! Olha só como ela me agradece! Abri minha boca, logo que ela terminou de gritar comigo no meio da rua, para falar tudo que estava em meus pensamentos. Olhei bem dentro de seus olhos e vi como eles eram super escuros, suas bochechas estavam vermelhas e ela parecia estar quase chorando. Mas ela era muito bonita mesmo. E então eu fiz. Eu a beijei, ternamente como nunca beijei ninguém. Eu continuaria, mas minha consciência foi mais rápida. Que merda eu estou fazendo? Sou um excluído, não sou como eles e muito menos como ela. Tenho raiva de tudo e de todos e vou continuar assim. Ela é como Jim e eles são perfeitos um para o outro. Provavelmente não me empurrou ainda por causa do choque, já que seus braços permanecem colados ao lado do corpo. Separei meus lábios do dela bem rápido e murmurei um "desculpa" de merda antes de praticamente sair correndo e deixá-la parada, imóvel e de olhos arregalados no meio da rua de sua casa. Cheguei em casa quase uma hora depois. Abri a porta de madeira da frente e encontrei meus pais sentados no sofá, conversando baixo. É claro que eles pararam de falar assim que entrei.
— Filho o que aconte...
Não deixei minha mãe terminar. Simplesmente entrei no meu quarto e bati a porta com muita força para que todos naquela merda de casa realmente ouvissem e não viessem me incomodar. Mas que droga! Joguei o pequeno abajur cinza contra o espelho, que se rachou e gritei muito alto mesmo. Não conseguia controlar minha raiva, estava subindo pelo meu peito, queimando e eu queria voltar lá e esganar aquela maldita Katrina por ser tão irritante e por me obrigar a salvá-la de um maldito quase estupro. Eu a odeio e se a ver de novo, com certeza vou despejar boas verdades na cara dela. Ela bem que merece.

Terça-Feira: 20:00
Julie
*ligação on*
Mary: vou passar na sua casa Ju. Seu pai está?
Eu: não, ele viajou e só volta na sexta. Pode vir. Só você está vindo?
Mary: sim, não falo com Penny ou Kat desde Domingo. Chego aí em 20 minutos.
*ligação off*
Eu estava sozinha em minha pequena casa andando de um lado para o outro. Estava realmente preocupada com Kat. Ela não respondera nenhuma das minhas mensagens e ninguém conseguia falar com ela. Mary não estava vindo aqui por causa disso, não comentei sobre minha preocupação com ninguém. Mas estava me sentindo meio só e resolvi convidá-la. Meu pai só chega na sexta, eu não sei para onde ele foi mas vi o bilhete. Mary chegou em mais de 20 minutos, colocamos um filme e fizemos pipoca. Estávamos rindo do Adam Sandler em Gente Grande, quando a porta abriu. Não, não, não. Por favor não. Não na frente dela. Pausei o filme.
Pai?
Ju-Julie!! Você está em casa, que milagreeee! -ele gritou.
Mary me olhou, já percebendo algo errado pelo tom da voz dele.
— Julie? Senhor Roger está bem? -ela peeguntou.
— Mary, se eu pedisse pra você entrar no banheiro e ficar lá até eu mandar você sair, você faria isso por mim?
— O que está acontecendo Ju?
Eu senti vontade de chorar, mas tentei ao máximo me conter. Respondi que estava tudo bem e acabei convencendo Mary a entrar no banheiro.
Peguei meu pai pelo braço para levá-lo ao quarto e por incrivel que pareça, ele não protestou. Quando estava prestes a deitar na cama, Mary deve ter deixado algo cair.
— O que é isso? Quem está aí?
— Mary. Ela...ela estava no banheiro.
— É por isso que brigo com você! Você sempre esconde as coisas de mim!
Ele continuou falando, mas não vou citar aqui porque é sempre a mesma ladainha. E acabou como sempre. Deixei ele deitado na cama, chorando e me pedindo desculpa mais uma vez e voltei com uma pequena marca roxa na bochecha, lado direito. Bati na porta, e esperei que Mary saísse pensando em como eu iria explicar tudo para ela.

Quarta-Feira
Penny
Essa semana estava realmente horrível. Eu não tinha falado com nenhuma de minhas amigas e minha mãe estava nervosa por eu não estar mais fazendo companhia para minha avó. Ela continuava na mesma situação e nunca saía daquela cama. A verdade é que eu realmente não queria vê-la naquela situação. Ela não se parecia com minha avó querida, para quem eu contava tudo e que era tão amável quanto Pastora Jane. Mesmo assim, entrei no pequeno quarto antes de ter que sair para o curso de inglês ás 16:00.  Estava escuro lá dentro, com as janelas fechadas. O piso de madeira rangendo sobre meus pés. Quando meus olhos se ajustaram a escuridão pude enxergar a pequena cômoda branca com porta-retratos em cima. A colcha rosa e branca desenhada de flores cobria minha avó, que estava com os olhos fechados, mas pela sua respiração, não parecia dormir. Sentei na beirada da cama, quase derrubando do criado mudo, o porta-retrato com uma foto do casamento dela com meu avô.
— Desculpe! Você quer conversar vó? -sussurrei.
— Claro, porque não me ajuda a sentar? -ela abriu os olhos.
Depois que ela estava sentada, com o travesseiro no colo e coberta até a cintura, pude observa-la bem. Seus olhos azuis estavam escondidos pelas olheiras, a pele branca como papel e os cabelos loiros bem ralos. Mas ela continuava com aquela expressão que dizia "pode me contar qualquer coisa".
Não conversamos muito tempo, mas perguntei como ela estava se sentindo e depois contei dos últimos acontecimentos da minha vida. Ela até se divertiu, mas depois pediu para deitar e deixei ela em paz. Cheguei na esquina do curso muito rápido e depois de andar uns 200 metros no máximo, vi Jim do outro lado da rua.
— Ei Jim! -gritei.
Ele virou a cabeça para o lado e acenou quando me viu. Começou a atravessar a rua. Eu tentei avisa-lo. Mas eu vi tarde demais e quando ele resolveu olhar para o lado também era tarde demais. J andou até o meio da rua sem olhar para os lados. Ele estava olhando para mim, já perguntando "o que eu fazia ali" e quando escutou a buzina, arregalou os olhos. Escutei alguém gritando, e depois percebi que era eu. Eu estava gritando. E correndo. Tentei fechar os olhos, não queria ver aquilo acontecer. Mas pela terceira vez, foi tarde demais. Porque eu vi nitidamente, quando o carro o acertou em cheio.

I'm a messOnde histórias criam vida. Descubra agora