Capítulo 8

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Enquanto observava William se afastando, Alice repara que a tensão que tinha sentido ao dar a notícia do seu noivado começava a desaparecer. Fechando os olhos, passa as mãos pelos cabelos e deixa que a leve brisa lhe acariciasse o rosto. Depois vira-se para William e olha para ele.
- Meu Deus, ele está tão bonito. Mesmo depois de tanto tempo.
Alice o observava. Apesar do céu que escurecia, Alice viu os músculos dos braços dele.
Começa a andar na direção de William e enquanto caminha, olha ao redor e constata que tinha se esquecido do quanto tudo ali era lindo e cheio de frescor.
Alice andou pela doca e pela primeira vez em três semanas aquele sentimento de ansiedade desapareceu. De alguma maneira, Alice precisava fazer William saber do seu noivado, e enquanto pensava nele, recordou de uma coisa que os dois tinham compartilhados durante o verão que haviam passado juntos. De cabeça baixa, andou devagar, a passos curtos... Procurou até encontrar uma frase entalhada na madeira - William ama Alice - dentro de um coração, gravada na doca poucos dias antes dele ir pra universidade.
Uma brisa quebrou o silêncio, Alice sentiu frio e cruzou os braços. Ficou assim, olhando ora para as palavras entalhadas ora para o rio, até que ouviu William se aproximar e chegar ao seu lado. Podia sentir a proximidade, o calor dele.
-Esse lugar tem tanta paz - diz Alice, com voz sonhadora.
- Eu sei. Venho aqui muitas vezes só para ficar perto da água. Me sinto bem.
- Eu também viria, se fosse você.

O céu já estava negro, e William começa a andar na direção da casa com Alice bem ao seu lado. Enquanto caminha pela trilha, Alice tenta adivinhar o que William poderia estar pensando sobre o fato dela estar ali, embora ela mesma não tinha muita certeza se sabia.
Minutos depois, quando chegam, William aponta para o carro dela e diz:
- Você deixou alguma coisa ali que precise pegar?
- Não, eu cheguei mais cedo e já desfiz a mala.
- Tudo bem - diz William enquanto chega à varanda e sobe as escadas.
- Você se importa se eu der uma olhada na casa? - pergunta Alice.
- Não, vá em frente.
Os olhos de ambos se encontram por um segundo.
Quando vira as costas, Alice sabia que William continuava de olhos nela. Mais uma vez sentiu por dentro um estremecimento.
Durante os minutos seguintes Alice percorre a casa, andando pelos quartos, reparando na beleza de tudo. Era difícil lembrar que o lugar já tinha sido uma ruína. Desceu as escadas, virou-se na direção da cozinha, e viu William de perfil.
Por um momento ele parecia um rapaz de 20 anos, e isso fez com que ela parasse por um segundo antes de seguir adiante.
- "Caramba - pensou - controle-se. Lembre-se de que agora você está noiva."

William estava em pé junto ao balcão. Sorri para Alice, que pára a alguns centímetros dele e se encosta no balcão, pondo uma perna sobre a outra. Balança a cabeça, impressionada por tudo o que ele tinha feito.
- É inacreditável, William. Quanto tempo demorou a restauração?
- Quase um ano.
- Você fez tudo isso sozinho?
William solta um riso contido.
- Não. Era trabalho demais, eu levaria anos, e por isso acabei contratando algumas pessoas... na verdade, um punhado de gente. Mas mesmo com elas foi uma trabalheira enorme, na maior parte das vezes eu não parava antes da meia-noite.
- Por que você trabalhava tanto?
Pra esquecer você - ele teve vontade de dizer, mas não disse.
- Não sei. Eu só queria acabar, acho. Quer beber alguma coisa antes de eu começar a preparar o jantar?
- O que você tem?
- Para falar a verdade, não muita coisa. Cerveja, chá, café.
- Chá está bom.
William vai até a despensa contígua à cozinha e volta com uma lata de chá. Tirou dois saquinhos, colocou-os junto ao fogão e encheu a chaleira.
- Vai demorar só um minuto - William promete.
- Tudo bem.
Quando a chaleira assoviou, William serve duas canecas e entrega uma a ela.
Alice sorri e beberica, depois vai até a janela.
- Aposto que a cozinha fica bonita quando a luz da manhã entra brilhando.
William faz que sim com a cabeça. - Fica, mandei pôr janelas maiores deste lado da casa justamente por essa razão. Inclusive nos quartos lá em cima.
- Tenho certeza de que seus hóspedes gostam disso. A não ser, é claro, quando querem dormir até tarde.
- Para dizer a verdade, ainda não tive nenhum hóspede. Não sei quem convidar.
Pelo tom de voz de William, Alice sabia que ele estava dizendo aquilo apenas da boca pra fora. Contudo, por alguma razão, a frase fez com que ela se sentisse... solitária. William parece perceber o que ela sente, mas antes que tivesse a chance de insistir no assunto, William muda o rumo da conversa.

- Vou buscar os caranguejos para deixá-los marinando por alguns minutos antes de cozinha-los - diz William, pousando a xícara sobre o balcão

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- Vou buscar os caranguejos para deixá-los marinando por alguns minutos antes de cozinha-los - diz William, pousando a xícara sobre o balcão. Foi até o armário e pegou uma panela grande com tampa. Levou-a à pia, encheu de água e depois carregou até o fogão.
- Posso dar uma mão em alguma coisa?
William responde por cima do ombro. - Claro. O que me diz de cortar alguns legumes para refogar na frigideira? Tem uma porção na geladeira, e ali você encontra uma tigela.
Enquanto William fuçava no armário ao lado da pia, Alice bebeu mais um gole de chá antes de pousar a caneca sobre o balcão e ir buscar a tigela. Foi até a geladeira... William juntou-se a ela diante da porta aberta da geladeira. Alice se move um pouco para o lado, a fim de abrir espaço para ele. Pode sentir o cheiro de William junto dela - limpo, familiar, inconfundível - e sentiu o braço dele roçar o dela quando William se inclina para pegar uma cerveja e um potencial de molho, depois volta ao fogão.
William abre a cerveja, despeja na água e acrescenta o molho junto com alguns outros temperos. Depois vai até a porta dos fundos buscar os caranguejos.

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