Capítulo 4

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Alice não queria acreditar, mesmo segurando a prova nas mãos. A prova tinha sido descoberta no jornal. Ela tinha ido à cozinha buscar uma caneca de café e, quando voltou para a mesa, sua mãe abriu um sorriso e mostrou a ela uma pequena fotografia.
- Lembra-se disto aqui? - pergunta Lúcia.
Alice pega o jornal das mãos da mãe , depois de uma primeira olhada desinteressada, algo na foto chamou sua atenção e ela olha mais de perto.
- Não pode ser. - murmurou.
Sua mãe a fita com ar de curiosidade, mas Alice a ignora. Senta-se e lê o artigo sem dar um pio.

Sua mãe chega vagamente e se senta do outro lado da mesa, quando Alice põe o jornal de lado, sua mãe a encara.
- Você está bem? - pergunta sua mãe por cima da caneca de café - Você está um pouco pálida.

Alice não responde de imediato, nem poderia

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Alice não responde de imediato, nem poderia. E então percebe que suas mãos estavam trêmulas.
Dobrou novamente o recorte do jornal e guardou-o, trazendo à memória o fato de que naquele dia ela foi para o seu quarto levando o jornal, para recortar o artigo. Na mesma noite, leu-o outra vez antes de ir para a cama, tentando aprofundar a coincidência, e leu-o novamente na manhã seguinte, como se quisesse se assegurar de que não fora um sonho.

*********
E agora, depois de três semanas, essa era a razão pela qual Alice tinha viajado até ali.
Quando alguém perguntava, Alice dizia que o seu comportamento esquisito se devia ao estresse. Era a desculpa perfeita, todo mundo compreendia, inclusive Gustavo. Por isso não discutiu nem reclamou quando ela quis desaparecer por alguns dias.
Os preparativos para o casamento eram desgastantes para todos os envolvidos. De vez em quando, Alice tinha vontade de fugir e acabar com aquele exagero. Mas sabia que o noivo não iria concordar, ele adorava ser o centro das atenções.
Gustavo não sabia a verdadeira razão pela qual a noiva tinha viajado.
- É só por alguns dias - alegou Alice, - e além disso preciso de uma folga nos preparativos do nosso casamento.
Sentiu-se mal pela mentira, mas sabia que não havia como contar a verdade. A partida dela não tinha a ver com Gustavo, e não seria justo pedir ao noivo que a compreendesse.
Foi uma viagem de carro tranquila até Nova Esperança. Registrou-se em um hotelzinho do centro da cidade, foi para o quarto e desfez a mala. Almoçou rapidamente. Sentou-se à beira da cama, pegou o telefone e ligou para Gustavo. Ele não podia falar muito, mas antes de desligar Alice lhe deu o número do telefone do hotel onde estava hospedada e prometeu ligar no dia seguinte.
- "Que bom" - pensou ela enquanto desligava. Conversa de rotina, nada fora do normal. Nada que o deixasse desconfiado.

Alice já o conhecia fazia quase três anos

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Alice já o conhecia fazia quase três anos. Quando Gustavo, com todo o seu charme afável, se apresentou à ela em uma festa de Natal, ela viu nele exatamente aquilo de que precisava.
Gustavo era bonito, inteligente e ambicioso. Advogado de sucesso, fazia seu trabalho com paixão, não apenas ganhando causas, mas também fazendo nome, construindo uma reputação. Alice se viu atraída pelo jeito calmo de Gustavo. Ele era bom para ela. Cavalheiro, maduro e responsável e durante aquele terrível período de depressão, quando ela precisou de alguém para abraçá-la Gustavo nunca lhe deu as costas. Alice se sentia segura com Gustavo e sabia que ele a amava, e foi por isso que aceitou seu pedido de casamento.
Pensando nessas coisas, Alice sentia-se culpada de estar ali, e sabia que o que devia fazer era enfiar suas coisas na mala e ir embora antes que mudasse de idéia.
Já tinha feito isso uma vez, muito tempo atrás e, se partisse agora, tinha certeza de que nunca mais teria forças para voltar ali de novo.
Alice pegou sua bolsa e caminhou para a porta. Pousou a bolsa, novamente constatando que, se desistisse agora, ficaria para sempre pensando no que teria acontecido. E achava que não suportaria viver com isso. Não havia dúvida de que sua mãe desaprovaria, pois nunca tinha conseguido realmente aceitar o que aconteceu no verão que a família tinha passado ali, e não seria agora que aceitaria, qualquer que fosse a razão que ela alegasse.
Não sabia o que a esperava. Já fazia muito tempo - tempo demais - e muitas coisas podiam ter acontecido, até mesmo coisas sobre as quais não queria pensar.
Olhou para baixo e viu que suas mãos estavam trêmulas, e riu. Era estranho, normalmente não ficava assim tão nervosa. Pegou a bolsa e a chave do carro... Remexeu a chave na mão algumas vezes, pensando - "Você chegou até aqui, não vá desistir agora", e nesse momento quase saiu porta afora, mas, em vez disso, sentou-se na cama outra vez. Olhou para o relógio, Alice sabia que tinha que sair dali a alguns minutos - não queria chegar depois de anoitecer, mas precisava de um pouco mais de tempo.
- Droga - murmurou - o que estou fazendo aqui? Eu não devia estar aqui. Isso não tem razão de ser - assim que essas palavras saíram de sua boca Alice sabia que não era verdade. Havia alguma coisa ali. No mínimo, pelo menos encontraria a resposta que procurava.
Abriu o caderninho e folheou até encontrar um recorte de jornal dobrado. Depois de retirar lentamente o papel, com cuidado para não rasga-lo, desdobrou e por alguns momentos ficou olhando fixamente para ele.
- É este aqui o motivo - Alice disse, para si mesma. - É disto aqui que se trata.

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