Capítulo 21

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- O que foi que senhora disse para ele?
- Não muito, mas ele sabia. Imaginou e deduziu tudo. Ele se lembrou de ter me ouvido falar do William, muito tempo atrás.
Alice engoliu em seco - A senhora disse que eu estava aqui?
- Não. E não direi. Isso é entre você e ele. Mas conhecendo ele, tenho certeza de que vai te encontrar se você ficar. Basta ele dar uns telefonemas para as pessoas certas. Afinal de contas, até eu consegui te encontrar.
Embora obviamente preocupada, Alice sorri para a mãe e lhe agradece.
- Obrigada
Lúcia estende o braço para pegar sua mão.
- Sei que temos as nossas diferenças Alice, e que discordamos em muitas coisas. Não sou perfeita, mas fiz o melhor que pude para educar você. Sou sua mãe e sempre serei. Isso significa que sempre vou amar você.
Alice fica em silêncio durante um momento e depois pergunta:
- O que devo fazer?
-Não sei Alice. Isso é com você. Mas eu pararia para pensar. Pense no que você realmente quer.
Alice desviou-se o olhar, com os olhos já ficando vermelhos. Um segundo depois uma lágrima escorreu pelo rosto dela.
- Eu não sei... - sua voz fraquejou, e a mãe apertou a mão dela.
Lúcia olha para William, que até então estava sentado de cabeça baixa, ouvindo tudo atenciosamente. Como se obedecesse a um "nos deixa", ele retribui o olhar, balança a cabeça e saiu da sala.
Assim que William saiu, Lúcia sussurra:
- Você o ama?
- Sim, eu amo - responde Alice, com voz suave - Amo muito.
- E o Gustavo?
- Não sei. Eu gosto dele também. Com carinho, mas de um jeito diferente. Ele não me faz sentir o que o William faz.
- Nunca ninguém vai conseguir fazer isso - comenta a mãe, soltando a mão de Alice.
- Eu não posso tomar essa decisão por você Alice, é você que tem que decidir. Mas quero que você saiba que eu te amo. E sempre amarei. Sei que isso não ajuda muito, mas é o máximo que posso fazer.
Lúcia fuça na bolsa e de dentro tira um maço de cartas amarradas com um barbante, os envelopes velhos e ligeiramente amarelados.
- Estas são as cartas que William escreveu para você. Eu nunca as joguei fora, e também não foram abertas. Sei que não deveria tê-las escondido de você, e lamento muito. Mas estava apenas tentando proteger você. Eu não imaginava...
Alice pega as cartas e passa a mão sobre elas, chocada.
- Preciso ir, Alice. Você tem algumas decisões a tomar, e não tem muito tempo. Quer que eu fique na cidade?
Alice faz que não com a cabeça. - Não, isso é comigo.
Lúcia concorda com um balanço de cabeça e fica um momento olhando para Alice, pensativa. Por fim levanta-se, circunda a mesa e beija a filha no rosto. Quando Alice se pôe em pé para abraçá-la, Lúcia pode ver a pergunta pairando nos olhos da filha.
- O que você vai fazer? - pergunta a mãe, desvencilhando-se do abraço. Houve um longo silêncio.
- Não sei - responde Alice por fim. As duas ficam ali em pé por mais um minuto, novamente abraçadas.
- Obrigada por ter vindo - diz Alice - Eu amo a senhora.
- Eu também amo você.
A caminho da porta, Alice ouve sua mãe murmurar, "Siga o seu coração".

William abre a porta para Lúcia sair.
- Adeus William - ela diz calmamente. Ele apenas balança a cabeça. Não havia mais nada a dizer, ambos sabiam disso. Lúcia vira as costas e fecha a porta atrás de si. Sob o olhar de William, ela caminha até o carro, entra e parte sem olhar para trás. Era uma mulher forte - pensou ele - e soube a quem Alice tinha puxado.

William deu uma olhada de relance para a sala, viu Alice sentada com a cabeça abaixada, depois vai para a varanda, pois sabia que ela precisava ficar sozinha

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William deu uma olhada de relance para a sala, viu Alice sentada com a cabeça abaixada, depois vai para a varanda, pois sabia que ela precisava ficar sozinha. Sentou-se em silêncio na sua cadeira de balanço, observando enquanto os minutos passam.
Depois de um intervalo de tempo que pareceu uma eternidade, William ouviu a porta dos fundos se abrindo. Ele não se vira para olhar - por algum motivo não conseguiu - e ouviu quando Alice se sentou na cadeira ao seu lado.
- Desculpe-me - diz Alice - Não tinha a menor idéia de que isso ia acontecer.
William balança a cabeça. - Não peça desculpas. Sabiamos que isso ia acontecer de uma maneira ou de outra.
- Mesmo assim é muito difícil.
- Eu sei. - por fim, William se vira, estendendo o braço para segurar a mão de Alice. - Tem alguma coisa que eu possa fazer para tornar as coisas um pouco mais fáceis?
Alice faz que não com a cabeça.
- Não. Na verdade, não. Tenho de enfrentar isso sozinha. Além do mais, ainda não sei ao certo o que vou dizer a ele. - Alice olha para baixo e sua voz fica um pouco mais suave, mais distante, como se estivesse falando consigo mesma. - Acho que depende dele, de quanto ele sabe. Se a minha mãe estiver correta, talvez ele possa até ter suspeitas, mas não sabe de nada concreto.
William sente um nó no estômago. Quando por fim falou, sua voz parecia firme, mas Alice podia ouvir a dor contida nela.
- Você não vai contar para ele sobre nós, não é?
- Não sei. Para dizer a verdade, eu não sei. Enquanto estava ali na sala, fiquei me perguntando sem parar o que eu realmente quero na vida. - Alice aperta com força a mão de William - E sabe qual foi a resposta? A resposta foi que eu quero as duas coisas. Primeiro, quero você. Quero nós. Eu amo você e sempre te amei.
Alice respira fundo antes de continuar falando.
- Mas também quero um final feliz, sem magoar ninguém. E sei que, se eu ficar aqui, algumas pessoas sairão machucadas. Especialmente o Gustavo. Eu não menti para você quando disse que gosto dele. Ele não me faz sentir o que você me faz sentir, mas tenho consideração por ele, e isso não seria justo. Não sei se consigo fazer isso.
- Você não pode viver a sua vida para os outros. Você tem de fazer o que for certo para você, mesmo que isso machuque as pessoas que você ama.
- Eu sei - Alice diz. - Mas seja qual for a minha escolha, tenho de viver com ela. Para sempre. Tenho que seguir em frente e não olhar mais para trás. Você consegue entender isso?
- William balança a cabeça, discordando, e tenta manter a voz firme. - Para dizer a verdade, não. Não se isso significa te perder, não posso passar por isso de novo.

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