Capítulo 9

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Antes de entrar novamente, William ficou parado por um momento, olhando fixamente para Alice. Enquanto fazia isso, perguntava a si mesmo por que razão ela teria vindo, especialmente agora que estava noiva. Nada daquilo parecia fazer muito sentido.
Sorriu consigo mesmo, recordando o jeito dela. Alice sempre o surpreendeu. Clem late de longe, e William percebe que já fazia um bom tempo que estava parado olhando para ela.
- Como vai indo? - William pergunta, vendo que Alice já tinha quase acabado.
- Já estou quase terminando. Mais alguma coisa para o jantar?
- Eu estava pensando em incluir um pouco de pão caseiro que eu tenho.
- Caseiro?
- Ganhei de uma vizinha - diz William, pousando o balde na pia.
Alice pega a caneca de chá e chega perto dele, inclinando-se sobre o balcão, ficando perto dele e esvaziando a caneca. William coloca os caranguejos na panela sobre o fogão. Lava as mãos, virando-se para falar com Alice.
- Quer se sentar na varanda um pouco? Eu gostaria de deixá-los no molho por meia hora.
- Claro - diz Alice.
William enxuga as mãos, e os dois vão juntos para a varanda, sentando-se nas cadeiras de balanços.
- Você estava sentado aqui quando eu cheguei, não estava?
William responde enquanto se ajeita confortavelmente na cadeira. - Estava. Eu me sento aqui fora todas as noites. Já é um hábito agora.
- Dá pra ver o porquê - comenta Alice olhando ao redor.
Os dois ficaram sentados em silêncio por um momento, ambos pensando no passado.
- Lembra que a gente veio escondido aqui na noite em que você me falou pela primeira vez deste lugar?
William fez que sim com a cabeça, e Alice continua:
- Naquela noite, cheguei em casa um pouco tarde e, quando por fim entrei, os meus pais estavam furiosos. Foi a primeira vez que os meus pais perceberam que o que eu sentia por você era sério.
William sorri suavemente, mas não diz nada.
- Eu penso em você desde aquele verão. - diz Alice.
- Pensa?
- Por que acha que não?
- Porque você nunca respondeu às minhas cartas. - diz William.
- Você me escreveu? - pergunta Alice surpresa.
- Escrevi durante muito tempo sem nunca receber uma única resposta.
Alice balança lentamente a cabeça antes de abaixar os olhos.
- Eu não sabia... - ela diz em voz baixa. Então William supõe que deveria ter sido obra da mãe dela, que verificava a correspondência e retirava as cartas dele sem conhecimento dela.
- Foi errado da parte dela fazer isso, William, e eu lamento que ela tenha feito. Mas tente compreender. Assim que você foi embora, é provável que ela tenha pensado que para mim o mais fácil seria simplesmente esquecer a nossa história. Ela nunca entendeu o quanto você significava para mim. Na cabeça dela, só estava tentando proteger os meus sentimentos e, talvez tenha pensado que a melhor maneira de fazer isso era dando um sumiço nas cartas que você me mandava.
- Essa não era a decisão que cabia a ela - William diz, com voz serena.
- Eu sei.
- Teria feito alguma diferença mesmo que você tivesse recebido as cartas? - pergunta William.
- Claro. Eu sempre fiquei imaginando o que você estaria fazendo.
- Não... Estou falando em relação a nós dois. Você acha que teríamos ficado juntos?
Alice só responde depois de alguns instantes de silêncio.
- Eu não sei William. Fracamente, não sei mesmo, e você também não. Não somos mais as mesmas pessoas que éramos naquela época. Nós mudamos, nós crescemos. Nós dois.
Alice faz uma pausa. William não responde, e em meio ao silêncio ela olha para o riacho e continua:
- Mas sim William, acho que teríamos. Pelo menos eu gostaria de acreditar que teríamos ficado juntos.
William concorda com a cabeça, olha para baixo e depois desvia o olhar.
- Como é o Gustavo?
Alice hesitou, pois não esperava aquela pergunta. Trazer o nome de Gustavo à tona suscitou nela um ligeiro sentimento de culpa, e por um momento não soube o que responder... Falou devagar.
- O Gustavo é bonito, charmoso e bem- sucedida, a maioria das minhas amigas está morrendo de inveja de mim. Elas acham que ele é perfeito, e em muitos aspectos ele é. É gentil e carinhoso comigo, me faz rir, e eu sei que me ama à sua maneira. - Faz uma pausa - Mas na nossa relação vai sempre faltar alguma coisa.
Alice se surpreende com a própria resposta, mas sabia que, apesar de tudo, era verdade. E sabia também, só de olhar para William, que ele já tinha suspeitado de antemão qual seria a resposta.
- Por quê?
Alice responde esboçando um sorrisinho e encolhendo os ombros, com a voz quase sussurrada.
- Acho que é porque ainda procuro o tipo de amor que eu e você tivemos naquele verão.
William ficou um bom tempo pensando no que Alice tinha acabado de dizer, pensando nos relacionamentos que tivera desde a última vez que a viu.
- E quanto a você? - perguntou Alice - Pensava em nós?
- O tempo todo. Ainda penso.
- Está ficando com alguém?
- Não - responde William, balançando a cabeça.
Ambos pareciam estar pensando no assunto, tentando mas achando impossível tirá-lo da cabeça.

William vai até a cozinha, pensando em Alice e no amor que andava ausente da vida de ambos.
Alice também estava pensando em William, em si mesma, em um punhado de coisas.

Por um momento desejou não estar noiva, mas depois rapidamente se repreendeu

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Por um momento desejou não estar noiva, mas depois rapidamente se repreendeu. Amou William, amou o que os dois tinham sido outrora. Além disso, era normal sentir-se assim. Seu primeiro amor, o único homem com quem ela tinha estado - como podia esquecê-lo?
Era normal sentir suas entranhas se agitarem toda vez que ele chegava perto? Era normal confessar a ele coisas que nunca poderia dizer a mais ninguém? Era normal ter vindo aqui a três semanas foram dia do seu casamento?
- Não, não é - Alice por fim murmurou para si mesma enquanto contemplava o céu noturno. Não há nada de normal nisso.

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