Capítulo 23

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William cai em uma espécie de transe quando se dá conta da realidade da situação. Com os olhos cheios de lágrimas, fica parado olhando o carro se afastar lentamente. Aos poucos o automóvel começa a se distanciar, rumo à estrada que levaria Alice de volta à cidade. Indo embora - ela estava indo embora! - e ver aquilo deixou William tonto. Alice indo embora lentamente, pouco a pouco... deixando-o para trás agora...
Alice acenou uma última vez, sem sorrir, antes de começar a acelerar, e William retribui com um aceno sem força.
- "Não vá!", William quis gritar ao ver que o carro se movia cada vez mais para longe... Mas não disse nada, e um minuto depois o veículo tinha desaparecido e os únicos sinais que haviam restado dela eram as marcas dos pneus.

William fica lá em pé, imóvel por um tempo

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William fica lá em pé, imóvel por um tempo. Da mesma maneira repentina como Alice viera, tinha partido. Dessa vez para sempre. Para sempre.
E, então William fecha os olhos e, mais uma vez, viu Alice partir - levando junto com ela o seu coração.

Era difícil dirigir com os olhos cheios de lágrimas, mas mesmo assim, Alice seguia em frente, na esperança de que o instinto a levasse de volta à pousada

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Era difícil dirigir com os olhos cheios de lágrimas, mas mesmo assim, Alice seguia em frente, na esperança de que o instinto a levasse de volta à pousada. Ela deixou a janela aberta, pois achava que o ar fresco pudesse ajudá-la a clarear as idéias, mas isso aparentemente não estava adiantando nada. Nada adiantaria.
Alice estava cansada, e se perguntou se teria a energia necessária para conversar com Gustavo. E o que diria? Ainda não fazia idéia, mas esperava conseguir pensar em alguma coisa quando o momento chegasse.
Teria que conseguir.
Quando chegou a ponte que a levava até a pousada, já tinha conseguido controlar um pouco as emoções. Não completamente, mas o suficiente, pensava ela para falar com Gustavo. Pelo menos esperava que sim.
Como o trânsito estava tranquilo, enquanto passava pelo centro da cidade viu um rapaz descarregando mercadorias de um caminhão. Alguma coisa no porte dele, na maneira como se movimentava, trouxe à memória dela a imagem de William.
Parou no sinal vermelho e avistou a pousada rua acima. Quando a luz mudou para o verde Alice respira fundo e vai bem devagar até chegar ao estacionamento da pousada. Virou para entrar e viu o carro de Gustavo estacionado na primeira vaga. Embora a vaga ao lado estivesse livre, Alice seguiu em frente e escolheu um lugar um pouco mais afastado da entrada.
Virou a chave, e o motor parou imediatamente. Depois abre o porta-luvas, procura um espelho e uma escova de cabelo. Quando se olha no espelho, vê que seus olhos ainda estavam vermelhos e inchados.
Alice abre a bolsa e mais uma vez passa os olhos pelo artigo de jornal que a trouxera ali. Tanta coisa aconteceu desde então, era difícil acreditar que tivessem transcorrido apenas três semanas. Alice achou impossível que só tivesse chegado ali dois dias antes. Parecia que, desde seu jantar com William, havia se passado uma vida inteira.
As nuvens tinham começado a se dispersar, e em meio às manchas brancas, Alice pode ver o céu azul. O sol ainda estava encoberto, mas ela sabia que era apenas uma questão de tempo. O dia seria bonito.
Seria o tipo de dia que ela gostaria de passar com William e, ao pensar nele, lembrou-se das cartas que a mãe lhe entregou.

Alice desatou o barbante do pacote e pegou a primeira carta que William tinha escrito. Começou a abri-la, e depois parou porque já podia adivinhar o que tinha dentro. Algo de simples, sem dúvida - coisas que ele tinha feito, lembranças do verão, talvez algumas perguntas. Afinal de contas, William provavelmente esperava uma resposta dela. Em vez disso, pegou a última carta, embaixo da pilha. A carta do adeus. Esta lhe interessava muito mais do que as outras. O que será que ele tinha dito? Como teria dito?
O envelope era fino. Uma, no máximo duas páginas. O que quer que William tivesse escrito, não havia sido muito longo. Primeiro, Alice vira o envelope e verifica a parte de trás. Sem remetente, apenas um endereço em São Paulo. Prendeu a respiração enquanto usa a unha para abrir.
Ao desdobrar o papel, viu a data: março de 2010.
Um ano sem uma única resposta.
Alice imaginou William sentado, escolhendo as palavras e esmerando-se na carta, de um jeito ou de outro, sabendo que era o fim, e viu o que pensou serem marcas de lágrimas no papel. Provavelmente era apenas a imaginação dela.
Endireitou a página e começa a ler sob a luz tímida do sol que brilhava através da janela do carro.

Minha querida Alice,

Eu não sei mais o que dizer, a não ser que não consegui dormir ontem à noite, porque sabia que tudo está acabado entre nós. É um sentimento diferente para mim, algo que nunca esperei, mas olhando para trás, acho que não podia ter acabado de outra maneira.
Você e eu éramos diferentes. Viemos de mundos diferentes, e apesar disso foi você quem me ensinou o valor do amor. Você me mostrou o que era gostar e desejar outra pessoa, e eu sou um homem melhor por causa disso. Quero que você nunca se esqueça disso.
Não sinto nenhuma amargura pelo que aconteceu. Pelo contrário. Tenho certeza absoluta de que o que nós tivemos foi real, e fico feliz por termos tido a chance de ficarmos juntos, mesmo que tenha sido por uma breve período. E se, em algum lugar distante do futuro, voltarmos a nos encontrar na nossa vida, eu vou sorrir para você com alegria, e vou me lembrar do verão que passamos debaixo das árvores, aprendendo um com o outro e cultivando o amor. E talvez, por um breve momento, você também sinta isso e retribua o sorriso, e saboreie as lembranças que para sempre compartilharemos.
Eu amo você Alice.
William

Alice releu a carta, agora mais devagar, depois leu de novo pela terceira vez antes de recolocá-la dentro do envelope. Mais uma vez imaginou William escrevendo-, e por um momento, cogitou a idéia de ler outra carta, mas sabia que não podia demorar mais. Gustavo estava à sua espera.
Sentiu as pernas bombas quando saiu do carro. Fez uma pausa, respirou fundo e quando começou a atravessar o estacionamento, deu-se conta de que ainda não tinha certeza do que ia dizer ao noivo.

E, sem ter em mente uma resposta, Alice chegou à porta e a abriu, e vê Gustavo em pé na recepção

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E, sem ter em mente uma resposta, Alice chegou à porta e a abriu, e vê Gustavo em pé na recepção.

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