Capítulo 12

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Gustavo recolocou o telefone no gancho. Ele tinha telefonado as 19 horas, depois às 20h30, e agora consultava outra vez o relógio: 21h45.
- Onde ela está?
Gustavo sabia que ela estava no lugar onde dissera que estaria porque mais cedo já tinha falado com o gerente. Sim, Alice tinha chegado e o homem a viu pela última vez por volta das 18 horas. Ela estava saindo para jantar - pensou o gerente. - Não, desde então não a tinha visto mais.
Balançou a cabeça e recostou-se na cadeira. Como sempre, era o último no escritório, e tudo estava silencioso. O Direito era a sua paixão, e ficar ali sozinho tarde da noite dava a ele a oportunidade de colocar o trabalho em dia ser interrompido. E agora um pequeno motivo particular o aborrecia. Não era nada sobre o trabalho. Não, aí estava tudo bem. Era outra coisa.
Era algo relacionado a Alice. Mas, não sabia exatamente o que era. Estava bem quando ela partiu de manhã. Pelo menos achava que estava. Mas pouco depois do telefonema dela, talvez uma hora ou por aí, alguma coisa fez clique dentro da sua cabeça. Apenas um detalhe.
Um detalhe.
Algo insignificante? Alguma coisa importante?
Pense... pense... Maldição, o que era?
Sua mente fez um clique. Alguma coisa... alguma coisa que ela havia dito?
Sim, era isso. Ele sabia. Mas o que foi? Alice tinha dito alguma coisa ao telefone? Talvez no começo da conversa, e Gustavo então repassou novamente todo o diálogo. Não, nada fora do normal.
Mas era isso, agora ele tinha certeza.
O que é que Alice tinha dito?
A viagem tinha corrido bem, ela deram entrada na pousada. Deixou o número. E isso era tudo.
Gustavo então pensou nela. Ele a amava tinha certeza disso. Alice não só era linda, mas também tinha se tornado sua fonte de estabilidade e sua melhor amiga.
Depois de um dia no trabalho, Alice era a primeira pessoa para quem telefonava. Ela o ouvia, ria nos momentos certos, e tinha um sexto sentido para saber exatamente o que ele precisava ouvir. Mas, mais do que isso, Gustavo admirava a maneira como ela sempre dizia o que pensava.
Nos quatro anos em que namoraram, Alice tinha se tornado tudo o que ele sempre quis, e sabia que devia passar mais tempo com ela. Alice sempre teve uma postura compreensiva quanto a isso, mas mesmo assim ele se amaldiçoava por não conseguir arranjar mais tempo para ela. Assim que se casassem ele iria trabalhar menos, prometia a si mesmo.
Registros?... - e na sua cabeça houve outro clique.
Registro... registrar-se na pousada?
Olhou para o teto. Registrar-se na pousada?
Sim, era isso. Fechou os olhos e pensou durante um segundo. Não. Nada. Então o que era?
Vamos lá, não falhe agora. Pense, caramba, pense.
Nova Esperança.
A idéia pipocou repentinamente na sua cabeça. Sim, Nova Esperança. Era isso. Um detalhe, ou parte dele. Mas o que mais?
Nova Esperança, Gustavo pensou outra vez, já conhecia esse nome. Conhecia um pouco a cidade, havia parado lá algumas vezes a caminho do litoral. Nada de especial. Ele e Alice nunca tinham ido lá juntos.
Mas Alice já tinha estado lá antes... E a roda girou mais um pouco e fez outro clique, outra peça se encaixando.
Outra peça... Mas havia mais...
Alice, Nova Esperança... e... e... alguma coisa sobre uma festa. Um comentário de entreouvido de passagem. Feito pela mãe de Alice. Gustavo mal havia dado atenção. Mas o que foi que ela tinha dito?
E então Gustavo se lembrou, e empalideceu ao recordar o que fora dito havia tanto tempo. Ao recordar o que a mãe de Alice disse .
Era alguma coisa sobre Alice uma vez ter se apaixonado por um rapaz de Nova Esperança. Ela tinha se referido ao episódio como uma paixonite infantil.
"E daí?" - Gustavo tinha pensado quando ouviu a história, e virou-se para Alice com um sorriso. Mas Alice não sorrira. Ficara zangada. E, então Gustavo percebera que Alice tinha amado aquele homem muito mais profundamente do que a mãe dela sugerira... É agora Alice estava lá. Interessante.
Gustavo juntou as palmas das mãos, como se estivesse rezando, encostando-as nos lábios. Coincidência? Podia não ser nada. Podia ser exatamente apenas o que Alice tinha dito. Podia ser o estresse. Era possível. Era até provável.
Porém... porém... e se?
Gustavo cogitou a outra possibilidade é, pela primeira vez, em muito tempo ficou assustado.
E se? E se Alice estiver com ele?
Desejou ter ido com ela. Perguntando-se se Alice tinha falado a verdade, na esperança de que tivesse.
É então tomou a decisão de não perdê-la, faria tudo que fosse preciso para ficar com ela. Alice era tudo de que ele sempre precisará, e nunca encontraria nenhuma outra mulher parecida com ela.
Assim, com as mãos trêmulas, Gustavo telefonou pela quarta e última vez naquela noite.
E mais uma vez não obteve resposta.

Na manhã seguinte, Alice acordou e esfregou os olhos, sentindo a rigidez do corpo

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Na manhã seguinte, Alice acordou e esfregou os olhos, sentindo a rigidez do corpo. Não tinha dormido bem. Ela tinha dormido usando a camisa macias que William lhe dera, mais uma vez sentindo o cheiro dele enquanto pensava na noite que os dois haviam estado juntos. O riso fácil e a conversa agradável voltaram-lhe à memória, enquanto ia repassando mentalmente as palavras dele, concluiu que teria ficado arrependida se tivesse decidido não vê-lo outra vez.
Lembrou-se de uma manhã em que o acompanhou na canoa para ver o sol nascer. E agora recordava de como William tinha passado o braço em torno dela e puxado seu corpo para junto do corpo dele enquanto a aurora começava a desabrochar.
- Olha ali - William sussurrava. Alice assistira a seu primeiro nascer do sol com a cabeça encostada no ombro dele, perguntando a si mesma se podia existir no mundo alguma coisa melhor do que o que estava acontecendo naquele momento.

E quando Alice saiu da cama para tomar banho, perguntou se também nesta manhã William teria ido para a água a fim de ver outro dia começar e, em pensamento, concluiu que provavelmente tinha.
Estava certa.

William tinha acordado antes do sol, vestiu-se rapidamente

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William tinha acordado antes do sol, vestiu-se rapidamente. Escovou os dentes, engoliu às pressas um copo de leite e, já saindo porta afora, agarrou dois biscoitos.
Há algo de especial, em ver o alvorecer dentro da água - William pensou - e agora fazia isso quase todos os dias.

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