Capítulo 11

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Gustavo não era capaz de despertar em Alice esse tipo de sentimento. Ele nunca tinha conseguido e, provavelmente, nunca conseguiria. Talvez fosse por essa razão que nunca tinha ido para a cama com ele. Ele já havia tentado, muitas vezes e, ela sempre usou a desculpa de que queria esperar até o casamento. Em geral, ele aceitava bem a justificativa e, de vez em quando, Alice se punha a imaginar o quanto Gustavo ficaria magoado se descobrisse alguma coisa sobre o passado dela com William.
William também estava examinando os próprios pensamentos. Para ele, aquela noite seria lembrada como um dos momentos mais especiais que já tiveram na vida. Enquanto se balançava na cadeira, já tinha começado a recordar e recapitular tudo em detalhes. Agora, sentado ao lado de Alice, William se perguntava se ela, alguma vez tinha sonhado as mesmas coisas que ele, nos anos em que estiveram separados. Será que alguma vez, Alice sonhara com eles de novo abraçados, beijando-se sob a luz do luar? Ou será que teria ido ainda mais longe e sonhado com seus corpos nus, corpos que tinham ficado separados por tempo demais.
William olhou as estrelas e lembrou-se das noites vazias que tinha passado desde a última vez que os dois haviam se visto. Vê-la de novo trouxe à tona todos aqueles sentimentos, e agora ele descobria que era impossível sufoca-los de novo. E, então, soube que queria fazer amor com ela outra vez e queria que Alice retribuisse o amor que tinha por ela. Era a coisa de que ele mais precisava no mundo... Mas William compreendeu que isso nunca mais poderia acontecer. Agora que ela estava noiva.
Pelo silêncio de William, Alice sabia que ele estava pensando nela, e deu-se conta de que isso lhe proporcionava uma intensa satisfação. Não sabia quais eram exatamente os pensamentos dele e, na verdade, nem se importava, bastava saber que eram sobre ela.
Alice pensou na conversa dos dois durante o jantar e refletiu sobre a solidão. Por alguma razão, não conseguia imaginá-lo lendo poesia para outra pessoa, ou sequer compartilhando seus sonhos com outra mulher. Ele não parecia ser desse tipo, ou talvez, fosse ela que não queria acreditar... Passou as mãos pelos cabelos, fechando os olhos.
- Você está cansada? - William pergunta.
- Um pouco. Acho que daqui a alguns minutos vou ter que ir embora.
- Eu sei - diz William, movendo a cabeça, em um tom triste.
Alice não se levantou de imediato. Em vez disso, contemplou a noite. A lua mais alta agora, o vento roçando as árvores, a temperatura caindo.
Depois olhou para William. A cicatriz no rosto dele era visível. Ela se pergunta o que teria acontecido. Ele não falou no assunto e ela também não perguntou, porque não queria imaginar ele ferido.
- É melhor eu ir embora - Alice diz por fim.
William assentiu com a cabeça, depois levantou-se sem dizer uma palavra. Os dois caminharam até o carro dela, enquanto ele abria a porta, Alice começou a tirar a camisa que ele lhe emprestou, mas William a impede.
- Pode ficar - William pede - Quero que fique com ela.
Alice não pergunta os seus motivos, porque também queria ficar com a camisa. Ela reajustou-a no corpo e, em seguida, cruzou os braços para espantar o frio. Por alguma razão, estar ali diante de William trouxe de volta a sensação de estar em pé na varanda de sua casa, à espera de um beijo.
- Eu me diverti muito hoje à noite. Obrigado por me encontrar - diz William.
- Eu também - responde Alice.
William reúne toda a sua coragem. - Vou ver você amanhã?
Uma pergunta simples e ela sabia qual devia ser a resposta. "Acho melhor não", era tudo o que teria de dizer para que a história toda terminasse ali mesmo, naquele exato momento. Mas durante um longo segundo, não disse nada.
Por que Alice não conseguia dizer o que deveria dizer? Ela não sabia. Mas no momento em que olhou nos olhos de William para descobrir a resposta de que precisava, viu o homem por quem um dia tinha se apaixonado, e de repente tudo ficou claro.
- Eu adoraria.
William ficou surpreso. Não esperava essa resposta. Nesse momento ele quis tocá-la, abraçá-la, mas se conteve.
- Você pode estar aqui por volta do meio-dia?
- Claro. O que você vai fazer?
- Você vai ver - responde William - Sei exatamente o lugar onde temos que ir.
- Já estive lá alguma vez?
- Não, mas é um lugar especial.
- Onde é?
- É uma surpresa.
- Eu vou gostar?
- Você vai adorar?
Alice vira as costas antes que William pudesse tentar beijá-la. Ela não sabia se ele iria tentar fazer isso, mas por alguma razão sabia que se tentasse ia ser muito difícil fazê-lo parar. Naquele momento Alice não tinha condições de lidar com isso, com todas as coisas que estavam passando por sua cabeça. Ajeitou-se atrás do volante, com um suspiro de alívio. William fechou a porta, e ela ligou o motor e abaixou um pouco o vidro da janela.
- Vejo você amanhã - Alice diz e William se despede com um aceno. Ele ficou observando até as luzes dos farois desaparecerem. Depois de uma última olhada na estrada, William volta para a varanda.
Ele se senta outra vez na cadeira de balanço, agora sozinho, tentando mais uma vez mergulhar na noite que tinha acabado de passar. Pensando nela. Repetindo-a. Revendo tudo. Ouvindo tudo de novo. Repassando cada minuto em câmera lenta. Agora não tinha vontade de dormir, não tinha vontade de ler. Não sabia o que estava sentindo.
- Ela está noiva - murmurou por fim, e depois afundou em silêncio durante horas. A noite agora estava quieta. Pouco tempo depois da meia-noite, William sentiu por dentro um turbilhão e foi tomado de desejo e saudade. E se alguém estivesse ali, teria visto que ele parecia um velho, um homem que tinha envelhecido uma vida inteira em questão de poucas horas. Alguém curvado na cadeira de balanço, com o rosto entre as mãos e lágrimas nos olhos.
William não sabia o que fazer para conseguir parar de chorar.

Alice voltou para a vida de William como uma chama repentina, queimando e fluindo em seu coração

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Alice voltou para a vida de William como uma chama repentina, queimando e fluindo em seu coração. William não conseguiu dormir pensando na agonia que iria sentir se a perdesse pela segunda vez.

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