Feitiço involuntário

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-Na água salgada? Mas ai eu vou ter que ir na praia...-Tá, eu sei que minha casa não é longe da praia, mas mesmo assim, me dá uma preguiça...
-Diego! O almoço está pronto!
-Tá, pai! Já vou descer.-Guardei a pedra dentro do baú e o guardei no meu guarda-roupa, junto com o livro. Desci para a cozinha e comecei a comer.
Cara, na moral: macarrão, almôndegas, purê de batata e legumes cozidos. Tem almoço de domingo melhor que esse? Tudo estava muito bem temperado, e o cheiro do molho ainda estava nor ar, o que aumentou meu apetite.
-Ah, pai. Eu tenho que sair.
-Pra onde você vai?
-Eu... ahm... tenho que ir na casa da Clara. Tenho um trabalho para fazer com ela.
-Um trabalho, né?-Ele soltou um riso abafado e sarcástico.-Certo. Pode ir.
-Ah,valeu!
Depois de almoçar, subi para o meu quarto e troquei de roupa. Vesti uma sunga (decidi que, já que vou à praia, posso dar um mergulhinho no mar), um calção azul e uma regata laranja. Coloquei meu colar (aquele que eu comprei na viagem) e um boné amarelo e preto. Preparei uma mochila na qual eu guardei uma toalha, o livro, um pente, um caderno e uma caneta.

*****

Fui correndo de bicicleta até a casa da Clara. Se realmente eu fosse decifrar essas runas, eu queria uma ajudinha. Ao chegar lá, ela estava sentada na porta de casa. Estava lendo um livro. Não dava pra ver o que tinha na capa, mas ela era azul-piscina.
-Oi, Clara.-Ela gritou e deu um pulo pra trás. Ela se levantou, irritada.
-Que ideia é essa? Quer me matar de susto, mesmo?-Ela bateu com o livro no meu braço.
-Ai! Calma, estressadinha! Eu vim aqui te chamar para irmos à praia.
-Ah... ir a praia? C-c-com você?
-Sim. Qual o problema? Não somos amigos?
-Ah, claro. Então deixa eu colocar um biquini. Já volto.-Ela entrou correndo.
Cara, porque as mulheres demoram tanto?
Fiquei esperando uns 15 minutos até ela sair. Isso porque ela disse que só ia colocar um biquini.
-Muito bem, vamos lá.-Ela estava usando uma blusinha azul e uma saia verde-limão com estampa de folhas. Estava com uma pulseira de madeira e conchas no braço, que chamava um pouco a atenção, pois as conchas tinham cores fortes.
-Ei, sobe aqui. Eu te levo.-Ela ficou me olhando, vermelha.
-V-v-você me leva?
-Claro. Não confia em mim? Eu não vou te sequestrar, garota.-Ela subiu na minha bicicleta. O perfume dela era tão bom... o cabelo dela tinha um aroma floral. Epa! Calma, garoto! Vai ficar cheirando a menina ou vai sair com ela?
-Ahm... Diego.-Ela estava olhando pra mim.-Porque você tá com essa cara de quem fumou maconha?
-Ahm? Ah, nada não. Desculpa.-Acho que acabei ficando vermelho.-Vamos lá!

*****

Quando chegamos lá, a praia estava cheia de gente. A areia estava coberta de cadeiras de praia e guarda-sóis. Crianças pulavam na água como se estivessem tentando fugir de um bando de piranhas.
-Bem. Precisamos ir para um lugat reservado. De preferência, na área das piscinas naturais.
-Porque tem que ser longe das pessoas?
-Bem... é que eu tenho algo pra te mostrar...-Ela arregalou os olhos e ficou vermelha feito um tomate.
-C-c-como assim?!
-Calma, garota!-Comecei a gargalhar.
Fomos andando até a area das piscinas naturais. Não tinha ninguém, afinal, eram poucas as pessoas que conheciam. Mesmo que nossa cidade seja um ponto turístico, todos os moradores juraram proteger as piscinas naturais da praia, pois era tão bela que não queriam que fosse destruida pelo turismo. Elas ficavam bem escondidas por trás de um lugar no qual as falésias avançavam pra dentro do mar. Para proteger aquela área, todos falam que há um buraco a partir do ponto em que as falésias se encontram com o mar. Felizmente, nada disso é verdade.
-Muito bem, era isso que eu queria te mostrar.-Coloquei a mão no bolso, peguei a pedra e a mostrei pra ela.
-O que está escrito na pedra?
-Segundo a Lívia, da biblioteca, runas celtas.
-Runas celtas... isso aparece em um livro que eu já li. Se chamava... "Criaturas Antigas e Suas Lendas", mas não lembro a que criatura essas tais runas estão relacionadas.
-Enfim, eu consegui esse livro.-Abri a minha mochila e peguei o livro com cuidado, para que ele não se desfizesse em poeira na minha mão.
-O título tá meio apagado, mas ele se chama "Tradução de Runas". Eu traduzi algumas runas, porque não consigo ler o resto.
-Como assim não consegue?
-Olha pra pedra.-Ela ficou olhando fixamente para a pedra.-A maioria das runas ficam se mexendo e mudando. Só tem algumas que estão normais.
-São as que eu consegui traduzir. Ela diziam: "Aquilo que procuras só pode ser visto na água salgada". Por isso, vim até aqui. Vou mergulhar a pedra e ver o que acontece.
Decidimos entrar na água. Tiramos a roupa e ficamos com nossas roupas de banho. Eu estava de sunga preta e ela estava com um biquini floral bem colorido. Entramos na água. Eu estava com a pedra e ela estava com o livro e o caderno.
-Mergulhe a pedra e vamos ver como as runas ficam.
-Certo.-Mergulhei na água e esperei. De repente, ela começou a brilhar, e o brilho foi aumentando cada vez mais, até se tornar cegante.
-Feche os olhos, Clara!-Fechamos os olhos no exato momento em que a pedra produziu um flash muito intenso.
-Clara?
-Sim. Estou bem. E agora? Podemos abrir os olhos?
-Acho que sim.-Abri meus olhos e observei a pedra. Não dava para ver direito, pois a água estava sendo agitada pelo vento. Tirei a pedra e comecei a observá-la de perto.
-Clara. As runas... pararam. Rápido, comece a traduzir.
-Certo.-Clara se sentou em uma das pedras que cercavam a piscina em que estávamos e abriu o livro. Eu dei a pedra a ela e ela começou a folhear e a escrever rapidamente. Era incrível como ela fazia tudo tão rápido.
-E... quase... lá...-Ela fazia tudo realmente muito rápido. Eu fiquei olhando pra ela boquiaberto.-Acabei!
-E ai? O que você conseguiu traduzir?
-Leia aqui comigo.-Começamos a ler juntos.

Oh, Sol. Oh, Lua. Ouça o que vou
Te falar. Atenda o meu desejo
E me deixe junto ao mar.
Minha transformação será feita
Quando na água minhas pernas
Eu encostar.
E quando eu me secar, a humano vou voltar.

-E aqui diz que devemos pensar em uma ou duas cores.
-Eu penso em... azul.
-Eu penso em... rosa e laranja-Disse Clara.
Assim que dissemos isso, a pedra voltou a brilhar. Bolhas começaram a emergir do chão. Então, a pedra emitiu dois feixes fracos de luz: um era azul e o outro era um degradê de rosa e laranja. O feixe azul atingiu o meu peito, no local onde estava o meu colar. Já o rosa atingiu o braço dela, onde estava a pulseira. Ambos os acessórios começaram a brilhar, e a pedra estava prestes a emitir outro feixe cegante.
-Clara, feche os olhos! Rápido!

*****

Quando a luz cessou, eu estava caido na água. Minhas pernas estavam moles, como se estivesse fraco. Mas, espera aí! Como eu fiquei tanto tempo debaixo d'água? Me levantei rapidamente, quase entrando em pânico. A luz mexeu um pouco com a minha visão. Eu estava vendo as coisas um pouco embaçado. Não conseguia ver as minhas pernas, mas estava vendo a silhueta escura da Clara. Estava meio borrada, mas eu sabia que era ela.
-Clara! Você está bem? Não estou conseguindo enxergar direito.
-D-Diego... você devia ver como as nossas pernas estão...
Minha visão estava voltando ao normal. Já estava conseguindo ver a Clara normalmente. Quando minha visão voltou ao normal, eu olhei para as minhas pernas...

Peraí! Cadê as minhas pernas?

Além Das Ondas - A Pedra De AtlantisOnde histórias criam vida. Descubra agora