O caminho até o cemitério parecia não ter fim.
Enquanto estava no carro, eu olhava pela janela. O céu começava a ficar nublado, e o vento soprava um pouco mais frio em meu rosto. Mesmo estando perto das 11:00 da manhã, estava ficando cada vez mais frio, e o sol já não brilhava tão intensamente.
Clara estava quieta, apenas olhava para mim, com um olhar de tristeza, e olhava pela janela. Ela segurava minha mão, que estava um pouco fria. Ela ainda tinha aquele doce perfume, mas ele estava um pouco mais fraco, como se o estado de espírito dela mexesse com isso.*****
Finalmente haviamos chegado. Andamos um pouco até parar. Paramos na frente de onde estava ocorrendo o funeral. Não haviam muitas pessoas presentes, mas sabia que a maioria daqueles que estavam alí eram da família da minha mãe. O mais impressionante de tudo é que todoa tinham as mesmas características: todos tinham pele clara e cabelos louros reluzentes. Era como se tivessem usado uma máquina de clonagem para gerar toda a família. Todos eram iguais, exceto uma mulher que possuía longos cabelos prateados (e quando digo "prateados", não estou brincando), uma pele clara levemente enrugada e um corpo fino e esguio. Nos aproximamos mais das pessoas. Estavam ao redor do caixão, que por algum motivo, estava fechado. Todos estavam chorando, mas os parentes da minha mãe pareciam estar mais abatidos que os parentes do meu pai, que no caso não deveriam passar dos irmãos do meu pai e alguns amigos que a conheceram. A mulher de cabelos prateados estava na ponta superior do caixão, com as mãos postas sobre ele. Poderia até ser loucura da minha cabeça, mas parecia que ela queria protegê-lo.
Quanto mais andava, mais eu era fuzilado por todos aqueles olhares chorosos, mas aqueles que mais olhavam para mim eram os parentes da minha mãe. Não eram mais que nove pessoas, incluindo a senhora sobre o caixão. Todas olhavam para mim com uma expressão de tristeza, e logo mudavam para uma de surpresa. Parecia que estavam me esperando. Clara logo se agarrou em mim, o que significava que ela estava um pouco assustada com tudo aquilo.
Eu e ela nos aproximamos da senhora que estava sobre o caixão. Quando chegamos perto, ela nos olhou, com uma expressão de surpresa.
-Você... você é...
-Eu sou o Diego. E a senhora é?
-Ah, me desculpe, meu filho. Não te reconheci. Sou sua vó, a Luna. Não está lembrado?
-Vovó? É a senhora mesmo? Nossa... a senhora... mudou muito...
-Eu sei. O tempo passa para todos nós, meu querido. Até você está diferente, tanto pela altura quanto pela aparência. E essa jovem? É a sua namorada?
-Ah, claro. Essa é a Clara. Clara, essa é a minha vó Luna.
-Muito prazer, senhora.-Clara extendeu a mão, e a minha vó a apertou.
-Hm... linda menina. Vocês combinam. Ah, Diego! Já conhece a sua tia?
-Minha tia... não. Quem é?
-Depois eu te apresento a ela. É provável que o enterro aconteça agora...-ela dirigiu um olhar de tristeza ao caixão.-Minha filha... encantadora... gentil... a melhor guardiã da geração...
-Guardiã?
-Ah... nada. Eu... apenas... troquei uma palavra por outra...-ela se afastou do caixão.-Vamos.
Assim que nos afastamos do caixão, alguns homens das famílias da minha mãe e do meu pai começaram a carregar o caixão. Todos o seguiram, com expressões tristes e abatidas. Andamos um pouco e descemos uma pequena ladeira para chegarmos ao campo das covas. Uma cova estava aberta, e sobre ela, havia uma coroa de flores, mas não era uma coroa comum: tinha flores vermelhas vivas, conchas, pérolas e algas douradas trançadas. Uma faixa dizia "Agora sois um só com a imensidão"; estava escrita em um papel meio azulado com letras douradas. A cova tinha sido cavada num formato retangular perfeito. Assim que paramos, o caixão foi posto ao lado da cova. Os parentes da minha mãe formaram um círculo ao redor da cova, e um deles, um homem alto, de cabelos louros e curtos que usava um camiseta social azul-escura e uma calça preta, começou a falar:
-Ela era uma ótima pessoa. Sua alegria contagiava a todos, e a sua beleza era incrível. Foi a melhor da geração, uma ótima mãe e uma excelente esposa. Tenho certeza que o filho e o esposo dela podem confirmar essas palavras.-Ele dirigiu o olhar para mim. Parecia bem triste. E então, meu pai entrou no círculo e começou a falar:
-Sim... ela foi... a melhor pessoa que já entrou na minha vida. Ela... sempre me amou muito, e...-ele começou a chorar-Vai deixar uma saudade eterna... adeus, querida.
O caixão começou a ser baixado. Enquanto via aquela triste cena, me lembrava de todos os bons momentos que passei com ela: o dia em que ela me acompanhou até a escola quando foi o meu primeiro dia de aula; o dias em que ela cuidou de mim quando estava doente; as vezes pelas quais ela me repreendia pelas notas baixas; o dia em que ela me viu me formar no nono ano; minha última festa de aniversário com ela... todos esses momentos ficaram no passado, e eu já não viveria mais momentos com ela. Assim que o caixão atingiu o fundo da cova, começaram a jogar a terra para tampar a cova. Era o adeus definitivo, o ultimo "boa noite" que daria para ela.*****
Os parentes do meu pai se distanciaram e começaram a ir embora. Apenas a família da minha mãe permaneceu. O céu estava totalmente fechado, sinal de que com certeza iria chover. Todos olhavam tristes para a cova, que agora já estava tampada. Alguns deles começaram a colocar flores em cima dela, as mesmas flores que já havia visto trançadas no longo cabelo da minha mãe. Então, todos começaram a cantar. Cantavam baixo e suavemente uma música que já tinha ouvido antes. Logo, o canto começou a ficar mais forte e mais alto, e quando me dei conta, também estava cantando. Olhei para trás, e Clara estava de olhos fechados, e também estava cantando. Sua voz estava suave, porém alta. A música me acalmava, e tirava de mim toda tristeza, como se aquela música me dissesse "Calma. Ela ainda está viva".
E então, começaram a sair de perto da cova, e um a um, foram embora. Restaram apenas eu, Clara, minha vó e uma mulher de cabelos longos, lisos, louros com mechas verdes de vários tons. Minha vó se aproximou de mim e falou:
-Fique calmo, querido. Eu estou aqui. Saiba que você ainda verá sua mãe. E como eu havia dito, vou lhe apresentar à sua tia.
Nos dirigimos à mulher que ainda havia ficado. Ela estava parada, olhando para o céu. Minha vó encostou no ombro dela e a chamou:
-Querida, está tudo bem?
-Sim, mamãe. Só estava... -ela se virou. Ela era incrivelmente parecida com a minha mãe, a não ser pelos olhos de um verde muito intenso e dos cabelos serem totalmente liso.-E quem é esse?
-Ah, esse é o seu sobrinho. Diego, essa é Jade, a sua tia.
-Muito prazer, tia.-Extendi minha mão, e ela a puxou com tudo e me abraçou.
-Meu sobrinho... nunca tinha te visto! Quantos anos você tem? Onde você estuda? Tem namorada?
-Calma, filha. Ele está muito cansado. Veio da escola direto pra cá. E nós temos que... nos abrigar agora!-Minha vó me pegou pelo braço e pegou no braço de Clara e nos puxou de volta para dentro da sala onde havia acontecido o funeral. No exato momento em que passamos pela porta, a chuva despencou.
-C-como...-eu tinha ficado realmente confuso. Seria possível?
-Temos que nos proteger da água. E você não gostaria de se transformar aqui, gostaria?-Minha vó sabia de tudo...
-Então, a senhora também é...
-Sim, Diego. Sou uma sereia, e a sua tia também. Estávamos esperando o momento certo de falar com você. Quando você chegou junto com a Clara, não sabíamos se você já tinha se transformado. Mas, quando olhamos vocês mais de perto, estava claro que já havia usado a pedra. Seus olhos ficaram mais claros, sua pele também, e o seu cabelo está com mechas azuis. No caso dela, o cabelo e a pele a entregaram. Mas, como ela também foi enfeitiçada? Deveria ser apenas para você...
-A Clara me ajudou a traduzir as runas na pedra, então, ela acabou recitando o feitiço junto comigo.
-Hm... ela deve ser uma ótima sereia. Mas ela deve tomar cuidado, pois as sereias da idade dela tendem a ter mudanças bruscas de humor. Por exemplo, ela pode ficar com muita raiva por algo muito pequeno ou triste por um acontecimento simples. Isso pode interferir na convivência entre vocês dois, já que são namorados. E outra coisa: preciso que vocês dois vão até a praia depois do paredão de pedra. Tem algo que vocês precisam saber.
-Mas quando?-perguntei.-Podem ir quando quiserem, mas quando chegarem lá, digam as seguintes palavras: Abram-se os portões de Atlantis. Eu te chamo, ó rainha do Império. Mas falem baixo e, de preferência, só entre vocês. Depois eu explico tudo, mas agora, vocês devem ir para casa e descansar. A chuva vai parar... agora.-A chuva realmente parou no momento em que ela falou.
-Vó, obrigado por vir. Logo estaremos lá.
-Espero por vocês. Agora, andem, o Mário deve estar procurando por vocês.
-Certo. Tchau vó. Tchau tia.
-Tchau, meu sobrinho querido.-Assim que saí, lembrei de algo que queria perguntar a ela, então voltei.
-Ah, vó...- ela tinham sumido.-Que estranho...
Sai correndo e fui com Clara até o carro. Meu pai estava dentro dele, recostado no banco, de olhos fechados.
-Pai?
-Ah, oi filho. Entrem, temos que ir.-Entramos no carro e fomos embora.
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Além Das Ondas - A Pedra De Atlantis
Teen Fiction"Algo só se torna maldição se acreditar que é..." Tendo constantes visões e sonhos debaixo d'água, Diego tenta encontrar a raiz do seu problema. Ao revirar as coisas de sua falecida mãe, ele acha uma pedra repleta de runas. Ele tenta desvendar as in...