Peraí! Cadê as minhas pernas?!
No lugar das minhas pernas, havia uma longa cauda de peixe de escamas azul-marinho por toda a extensão das minhas pernas. Já com a Clara, era a mesma coisa, só que a cauda dela partia de um rosa claro e passava por um degradê até terminar em um laranja vivo. O cabelo dela havia crescido, estava cacheado, brilhante e... colorido?
Haviam algumas mexas laranjas e rosas no cabelo dela.
-Clara... o que é isso?
-Se eu estiver certa... viramos...
-SEREIAS?
-Não! EU virei sereia. Você é o que chamam de tritão. E você está diferente. Está mais forte, mais atlético... seu cabelo está cacheado do mesmo jeito, mas parece que cresceu um pouco. E ele está meio... azulado. Mas é claro... como não lembrei! Lembra do livro que eu te falei? Então, ele dizia que um antigo feiticeiro celta descobriu um feitiço que poderia transformar um humano em sereia ou tritão. Para proteger o povo de toda essa magia, ele gravou o feitiço em uma pedra na forma de runas celtas, para que ninguém mais pudesse ler aquele feitiço. Então, pediu às sereias para que protegessem a pedra a todo custo, e que só usassem a pedra novamente quando precisassem dela.
-E quando dizem usar, dizem que eles mandam até a superfície para transformar novos humanos em sereias ou tritões?
-Sim. Mas, onde você a encontrou?
-Minha mãe... me falou dela em um sonho. Isso significa que...
-Ela usou seus poderes para lhe falar onde ela escondera a pedra. Sua mãe era uma sereia!
-Então, era por isso que ela era tão bela e vaidosa... e cantava tão bem... agora entendo por que meu pai se apaixonou por ela.
-Mas... se ela é uma sereia... um dos pais dela também era. Você já teve algum contato com seus avós maternos?
-Com meu avô, nunca. Ele morreu quando eu era pequeno. Mas com a minha vó...-Tentei lembrar de algum momento no qual eu tinha falado com ela.-Lembrei! A ultima vez em que eu a vi foi numa viagem que eu fiz até a casa dela. Ela morava em uma cabana na beira da praia.
-Então, sua vó é uma sereia. Ela já veio te visitar alguma vez?
-Nunca. E isso explica tudo! Tudo aquilo que me preocupava... agora foi respondido. Mas... sereias podem morrer de ataque cardíaco?
-Não sei responder. Porquê?
-Por que agora penso se ela não forjou a própria morte para voltar ao mar. E se ela estiver por ai, no mar? E se ela ainda me vigia? E se ela estiver me esperando?
-Calma, Diego. Precisa se acalmar. Estamos em uma situação bem dificil aqui.
-Porquê?
-Por que, se você não se lembra, o feitiço dizia que só voltariamos a ser humanos quando nos secassemos. E você deixou a toalha na praia. Eu não aguento ir arrastando daqui até lá. Você poderia ir?-Ela me olhou com cara de cachorro pidão.
-Eu posso tentar. Mas, e a minha cauda? Não quero machucá-la...
Opa! Eu disse isso mesmo? Acabei de me tornar um tritão e já estou me preocupando com a minha cauda?
-Isso é instinto. Ser um tritão está no seu sangue. Você já vem de uma família assim. No meu caso, fui transformada sem querer. Mas mesmo assim, logo meu instinto também vem à tona. Mas, por favor, anda logo. Quero ir embora pra casa. Estou com fome.
-Ok. Estou indo.
Rastejar na areia não era tão fácil assim. Sair da água foi moleza, mas quando cheguei na areia, comecei a me rastejar lentamente, pois a cauda estava bem pesada (isso é algo a se acostumar). Fui com calma para não me machucar seriamente. Quando cheguei lá, minha cauda estava cheia de areia.
-Ah, que coisa chata. Tomara que essa areia suma junto com a cauda.-Peguei a toalha e tirei um pouco da areia. Depois, comecei a secar a minha cauda. Então, senti minhas pernas de volta. O movimento das juntas e dos meus dedos do pé, até que a cauda foi desaparecendo lentamente, dando lugar às minhas pernas.
-Ah, que coisa boa! É tão bom voltar a ser um humano.
-Ahm... Diego! Acho que ainda preciso dessa toalha!-Clara gritou.
-Ah, é claro. Desculpa. Tem como você sair um pouco da água?
-Tá bom!- Ela começou a sair da água e ficou na areia. Cheguei perto dela e a peguei nos braços com cuidado. Ela olhava para mim e eu olhava para ela. Seus olhos cor de mel estavam reluzentes. E o seu perfume... ah, doce e suave, como sempre.
Carreguei ela nos braços até o lugar onde deixamos nossas coisas e a deitei no chão. Peguei a toalha e comecei a secar a cauda dela. Estava anoitecendo. Passamos a tarde inteira decifrando aquelas runas e entrando em pânico por causa das caudas. Quando eu terminei de secar, me deitei ao lado dela. Ficamos olhando para o céu. O sol já estava quase sumindo.
-É... não esperava por isso, Diego. Agora temos um segredo em comum.
-E este segredo deverá ser bem guardado.-Me virei e olhei para ela.-Enquanto estivermos juntos, guardaremos esse segredo em nossos corações.
-Assim como eu guardo um certo alguém.-Ela sorriu. Seu sorriso era encantador. Então, quando menos esperava, nossos lábios estavam se aproximando. Seu doce perfume me envolvia. Os ultimos raios de sol nos iluminavam, como se o universo tivesse parado para nos olhar. Aquele beijo... é algo que nunca esquecerei.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Além Das Ondas - A Pedra De Atlantis
Подростковая литература"Algo só se torna maldição se acreditar que é..." Tendo constantes visões e sonhos debaixo d'água, Diego tenta encontrar a raiz do seu problema. Ao revirar as coisas de sua falecida mãe, ele acha uma pedra repleta de runas. Ele tenta desvendar as in...