Meu sonho não poderia ter sido melhor.
Eu estava na beira da praia, com a Clara. Estávamos transformados. A cauda dela reluzia com o sol. Parecia estar mudando de cores, oscilando nos mesmos tons. Estávamos abraçados. O doce perfume que ela tinha me envolvia, como o calor daquele sol.
-Diego... sinto que... algo muito ruim irá acontecer. Será que isso é coisa da minha cabeça?
-Calma, Clara. Tudo vai ficar bem para nós, enquanto estivermos juntos...
De repente, um trovão ribombou no céu. O céu passou de um azul claro para um cinza bem intenso. Os trovões eram constantes. O vento começou a soprar com força, o que fazia com que voasse areia na minha cara.
-Clara, o que é...-Quando olho para o lado, Clara não estava.-Clara! Cadê você?! Clara!
Então, uma voz grossa falou, do nada.
-Eu sabia que um dia iria encontrar você, Príncipe de Atlantis. Agora, sentirá o ódio que eu guardo desde o dia que seu avô me baniu para este lugar terrível!-O vento soprou com mais força ainda. As nuvens começaram a se abaixar, até que não via nada da superfície, a não ser as nuvens. Então, as nuvens se abriram bem debaixo dos meus pés. Eu estava no ar, a praia estava a metros abaixo dos meus pés (ou melhor, cauda). Então, eu cai. Caia numa velocidade incrível, uma velocidade que eu sabia que iria me matar quando atingisse o chão. Seria esse o meu fim? Será quem um sonho poderia me matar?
Quando estava prestes a me espatifar no chão...
BUF!
Eu tinha caido da minha cama, mais uma vez, de cara.
-Ai! Odeio quando isso acontece!-Me levantei do chão, ainda com dor. Minha perna estava latejando de dor. Arrumei a minha cama e fui me arrumar.
O dia estava ensolarado. A luz do sol entrava pelas janelas da casa, o que a deixava bem iluminada. O aroma de ovos pairava pelo ar, junto com o cheiro de algumas frutas que não consegui identificar, a não ser o cheiro de laranja. Desci as escadas e fui para a cozinha para tomar meu café da manhã.
-Bom dia, pai.
-Bom dia, Diego.-Ele se virou pra mim. Estava com olheiras, olhos vidrados e vermelhos e uma cara de cansado.
-Pai, o que aconteceu? Parece que viu um fantasma. Tá tudo bem?
-Sim. Só não dormi direito... pensando no enterro da sua mãe...
-Ah é... eu... tinha me esquecido desse detalhe...
-Então tome seu café da manhã e vá para a escola. Assim que sair, me ligue, que eu vou te buscar. Ao que parece, sua vó e sua tia vão nos esperar lá.
-Certo.*****
Hoje eu tinha tempo de sobra, então não me preocupei em chegar logo na escola. Ao chegar lá, encontrei de cara com a Clara. Parece até que ela estava me esperando.
-Oi, Clara. Bom dia.
-B-b-bom dia...
-Estava me esperando?
-N-não... só que... eu senti algo que me atraía até o portão de entrada.
-Como assim?-Fiquei confuso. Estaríamos conectados por alguma coisa, além do amor que sentimos um pelo outro?
-N-nada... deixa pra lá.-Ela ficou vermelha. -Como está? Dormiu bem?
-Eu... dormi bem... só estou meio abatido por causa de hoje.
-Ah... é o enterro da sua mãe, não é?
-Sim.
-Meus sentimentos... eu espero que fique tudo bem. Se quiser, eu vou com você.- Não sei o que aconteceu, mas assim que ela falou isso, meu coração acelerou.
-C-c-claro... tudo bem. Podemos conhecer a minha vó.
-Ok. Escuta, você está sabendo do aulão de história de hoje?
-Não. Me explica.
-O professor vai dar uma introdução ao assunto de "cultura celta". Parece que ele vai falar sobre lendas celtas e criaturas mágicas. E as turmas de primeiro ano vão ser os primeiros a assistir.
-Que interessante. Espero que a aula dele seja interessante. Quando vai ser?
-Agora! - Ela me puxou pelo braço até o auditório da escola. A minha turma e a turma dela já estavam lá. Estavam todos sentados, esperando pelo professor.
O auditório era um tanto quanto grande: tinham 20 fileiras de cadeiras, cada fileira com 10 cadeiras. Logo á frente, havia uma área elevada, onde seria o "palco" do auditório. Tinha uma caixa de som, que provávelmente estava ligada a um microfone, uma mesa com algumas parafernalhas diferentes: algumas espadas, um escudo com a foto de uma águia (ou seria uma fênix?), e um arco de madeira que estava fixo á parede do palco, no qual estavam gravadas algumas runas celtas. Infelizmente, eu tinha esquecido o dicionário de runas em casa (tomara que meu pai não o encontre).
De repente, as luzes se apagaram. Todos que estavam em pé se sentaram na mesma hora. Atrás do arco, uma luz azul começou a brilhar. Então, uma música começou a tocar. Era uma música que combinava vários instrumentos: violão, flauta, violino, harpa e um vocal suave, que apenas cantarolava ao tom da música. Uma voz forte falou ao microfone:
-"Fiquem atentos ao canto misterioso! Cuidado com o ser que emerge das águas. Não deixe ser encantado pela sua voz. Fuja da criatura das profundezas!" Esses são os dizeres escritos em runas celtas no arco. Bom dia alunos! -Todos responderam em unisono.
-BOM DIA!
-Muito bem. Todos sabem que iremos iniciar os estudos sobre a cultura celta. Então, hoje vou falar sobre uma lenda celta muito famosa: a sereia.
Um calafrio percorreu meu corpo. Olhei para Clara. Ela estava com um olhar de preocupação. Segurei a mão dela, na tentativa de deixa-la mais calma.
-Tudo bem, Clara. Não se preocupe. Ninguém irá descobrir.
-Certo.-Ela me olhou. Parecia mais aliviada, mas o clima naquele auditório ainda estava ruim para nós.
-Então, vamos começar com... - de repente, alguém o interrompeu.
-Professor, mas o mito da sereia não é grego?
-Ai é que as pessoas se confundem. O mito grego é o mito das sirenas. Não são mulheres com caudas de peixe e de bela aparência, mas criaturas que são uma mistura de mulher e ave, como uma harpia. Elas possuem uma bela voz. Quando cantam, os homens ficam hipnotizados, e são atraidos para junti das sirenas. Quando a vítima chega perto delas, as sirenas o devoram. Já as sereias são celtas. Belas mulheres com caudas de peixe que moram nos mares. São vaidosas e ótimas cantoras. Reza a lenda que se um marinheiro ouvisse o canto da sereia, ele se jogaria na água sem pensar duas vez para se juntar à sereia, mas como a água era muito funda, os marinheiros se afogavam. Enfim, os celtas acreditavam que as sereias viviam nos oceanos e dali não saiam, mas outras lendas dizem que as sereias poderiam sim sair da água e se tornar humanos, mas se suas pernas fossem molhadas, elas voltariam a ser sereias.
Eu e Clara ficamos muito apreensivos. Ele estava expondo nossa natureza (adquirida recentemente) para toda a escola. Clara estava quase entrando em desespero. Já eu, estava ficando com raiva daquela aula. Aquilo poderia revelar o que somos e nos tornar vítimas de abominações e investigações, e o pior: os outros membros da minha raça estariam em risco, pois a humanidade poderia iniciar uma caçada pelas sereias e tritões.
-Algumas lendas falam como podemos identificar uma sereia fora d'água. Dizem que algumas deixam um rastro de água salgada por onde passam, mas só algumas sereias. As sereias possuem longos cabelos, geralmente com mechas coloridas. Dizem também que elas ficam meio desorientadas, pensando no mar. Na presença de água, as sereias ficam apreensivas. E dizem também que as sereias não gostam que falem do seu povo. E geralmente, elas ficam acompanhadas de companheiros, conhecidos como tritões. Tritões são homens com caudas de peixes. Segundo a lenda, são agressivos quando falam do seu povo ou quando estão sob risco de ser molhados.
Ele basicamente nos entregou. Eu já estava irado com aquela aula. Clara estava quase chorando de medo. Então, agarrei o braço dela e a puxei.
-Vamos sair, Clara. Ninguém está nos vendo. Vamos ficar em outro lugar e vamos nos acalmar.
-Certo.- Saimos devagar, para que ninguém e nem o professor nos notasse.Desculpem mais uma vez. Faz dois meses que não posto nada. Dedico este capítulo a um dos meus leitores, Jonas. Um cara muito legal, que no máximo que me matar por não ter postado mais. ^^
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Além Das Ondas - A Pedra De Atlantis
Ficção Adolescente"Algo só se torna maldição se acreditar que é..." Tendo constantes visões e sonhos debaixo d'água, Diego tenta encontrar a raiz do seu problema. Ao revirar as coisas de sua falecida mãe, ele acha uma pedra repleta de runas. Ele tenta desvendar as in...