A escola nunca foi tão ameaçadora...

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Corri pela escola, procurando um lugar para ficarmos a sós. Enfim, decidimos nos deitar num canteiro de grama que fica no pé do muro da escola. A sombra do muro nos cobria, e uma leve brisa soprava. Eu me encostei no muro, e ela deitou a cabeça no meu colo. Fiquei acariciando o cabelo dela. Era liso e sedoso, e as mechas davam um toque ainda mais bonito. Ela ainda tinha aquele doce perfume que eu tanto gosto. Ela olhou para mim, e eu olhei para ela. Ela estava com os olhos vermelhos por causa do choro. Eu entendia aquilo, pois estávamos sendo expostos. Simplesmente ficamos lá e esperamos a hora do intervalo.
-Tudo bem, Clara?
-Sim. Só fiquei com medo. E se as pessoas da escola descobrissem o que somos? Será que ainda poderíamos viver em paz, mesmo que fossemos embora para o mar?
-Não tenho certeza. A humanidade iria nos caçar e caçar o nosso povo. Mas nada irá acontecer conosco. Estamos juntos nisso, e eu vou te proteger com a minha vida.
-Ah, Diego...- Ela se levantou e me beijou.

*****

Saímos juntos em direção ao refeitório, pois já era intervalo. Me sentei em uma mesa que ficava na ponta do lado esquerdo. Puxei uma cadeira para Clara e me sentei ao lado dela. Não estava com fome, já que tomei um café da manhã reforçado. Clara abriu um pacote de biscoitos de morango e uma caixinha de suco de uva. Ela me ofereceu um biscoito, então peguei por educação. Passei o braço por cima dos ombros dela, e ela encostou sua cabeça no meu ombro. Comecei a mexer no cabelo dela, o que provavelmente a deixou com sono, pois ela deu um leve bocejo. De repente, Marcos e seus capangas chegaram. Ele estava com um copo de água na mão, o que nos deixou apreensivos. Eu o fitei com seriedade, mas sabia que isso não o intimidaria.
-E ai, manezão? Já se recuperou? Tá pronto pra outra surra? - Ele riu, e os outros meninos o acompanharam.
-Será que você não se cansa?-Perguntei
-Cansar... de quê?
-De ser um estúpido! Acha que só porquê você é grandão e coloca medo nas pessoas significa que pode sair falando mal de todo mundo e tratando as pessoas como lixo?- Eu estava morrendo de medo, mas enfrentaria aqueles grandalhões só para que se distaciassem da Clara.
-Eu as trato da maneira que eu quiser! E não é um idiota feito você que vai me impedir! Ou você se esqueceu da surra que levou?
De repente, a Clara se enfiou no meio da briga:
-Parem! Diego não vale a pena brigar por isso. Vamos sair daqui.
Eu a puxei para trás de mim e me coloquei entre ela e o Marcos. Me virei para ela.
-Clara, não se intrometa. É para o seu próprio bem.
-Diego, não!- De repente, senti algo frio descendo pelas minhas costas e alcançando as minhas pernas.
-Opa! Acho que derramei um pouco de água em você, sem querer.-Ele riu. Acho que fiquei com a maior cara de assustado desse planeta, porquê a Clara me olhou como se tivesse visto um fantasma. Eu não tinha escolha, então corri para o banheiro.
-Diego!-Clara gritou
-HA! Vai chorar, Diego?-Ele riu novamente.
Entrei no banheiro e me tranquei em um dos boxes. Assim que me sentei no vaso, minhas pernas deram lugar à cauda. Para minha sorte, eu pude deixá-la o mais próximo o possível de mim, para que não vissem as nadadeiras dela. De repente, alguém entrou no banheiro. Então, uma voz feminina me chamou:
-Diego?
-Clara! É você?
-Sim. Onde você está?
-No primeiro box.-Bati duas vezes na porta.
-Ah, Diego! Você ficou louco? Podíamos simplesmente ter saído. E se alguém descobre? Já pensou se você se transforma no meio do refeitório?
-Clara, desculpe. Mas eu queria afasta-lo para que isso não acontecesse com você.
-Tudo bem. Eu entendo. Mas tem algo que eu possa fazer pra te ajudar?
-Me dá alguns pedaços de papel-toalha. Vou tentar secar a cauda.
-Certo.-Ouvi o som do papel se rasgando. Clara então passou as folhas de papel-toalha por debaixo da porta. Eu as peguei e comecei a me secar.
-Clara, é melhor você sair daqui antes que alguém te veja.-Alertei.
-Sim. Saia logo.
-Se eu me secar rápido...

*****

Quando minhas pernas finalmente voltaram, eu sai do banheiro. Clara estava me esperando na porta, com uma expressão de preocupação no rosto.
-Diego! Tudo bem?
-Sim. Ainda bem que não demorou para que eu me secasse. Mas e o Marcos? Ele foi embora?
-Ao que parece, um professor viu a coisa toda e o levou para a direção, ou seja, algo vai acontecer com ele.
-Espero que ele seja suspenso.
-Hm, Diego. Você... quer dizer, nós não temos que ir ao... você sabe...
-Ah, claro. Vou só trocar de roupa e nós vamos.
-Certo. Eu vou no banheiro e... já volto.
Fui até o banheiro do ginásio e tirei a minha camiseta. Ao me observar no espelho, minha barriga ainda tinha algumas manchas roxas da surra que levei do Marcos. Coloquei uma camisa social preta e troquei o meu Converse vermelho por um sapato social preto. Lavei meu rosto e sai.
Bati na porta do banheiro das meninas e chamei pela Clara, mas ela não falou nada. Esperei um tempo e ela saiu. Não estava de calça e nem de blusa, mas usava um vestido curto preto com babados de renda branca na saia e um par de sapatilhas pretas. Ainda usava a sua pulseira, mas ela agora estava com conchas pretas e brancas
-C-c-como...
-Depois eu explico. Temos que ir.-Ela me pegou pelo braço e me puxou até a secretaria, para pedirmos autorização. O diretor autorizou, e lamentou a perda. Andamos até a entrada da escola, e então, eu liguei para o meu pai.
-Pai
Oi,filho.
-Já sai.
Estou indo.
-Ah, a Clara vai comigo, tá?
Hm... certo. Chego aí num minuto.

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