Casa 47

1- Helena

Sala de espera para entrar na sala do diretor, estávamos sentadas esperando a minha "vítima" sair de lá:
- Por que isso sempre acontece comigo? - perguntei indignada
- Porque você é encrenqueira - respondeu Lola de braços cruzados, ela tentava fazer cara de brava
- Ah, qual é, parece que a encrenca me chama
- Você começa as encrencas
-Isso não pode ser coincidência
Lola me olhou com um sorriso travesso:
- Lembra quando você quebrou o braço daquela menina?
- Já faz 3 anos... Ah, bons tempos
- Bons tempos? Você foi expulsa depois disso. Não sei como estamos durando mais de um ano aqui

Lola Lancaster Murray, minha melhor amiga desde que meus 4 anos (10 anos atrás, é muito tempo). Ela era quase todo o oposto de mim, era fofa, calma, romântica, extrovertida. Até de aparência não éramos nada parecidas: loira, roupas coloridas, olhos escuros, sorridente... Mas passando por cima de todas essas diferenças ela era minha irmã de coração, me acompanhando nas situações boas ou ruins, como agora.

- Helena Smith e Lola Murray, se apresentem a sala do diretor imediatamente - disse a voz no auto falante
- Lancaster! - disse Lola em voz baixa enquanto nos dirigiamos a sala do diretor
No caminho encontramos a "vítima" Suellen, uma garota (mais parecia um trator) que sempre me provocou desde a primeira vez que entrei na escola. Nossos olhares se cruzaram e ela estava com ataduras no nariz, o que significava: missão cumprida!
- Helena, de novo?! - era Sarah - querida, estou cansada de te livrar de confusões, eu digo pro diretor que você vai melhorar, mas toda semana já é demais! Ele disse que mais uma e você está suspensa e se não fosse pelos biscoitos que fiz hoje de manhã estaria suspensa hoje, então por favor tente ter um pouco mais de paciência, briga nem sempre é a solução - ela saiu nervosissíma
Sarah foi uma professora que apareceu quase que de repente pra me ajudar e se não fosse por ela já teria sido expulsa de mais umas 5 escolas só esse ano.
Lola me olhou com cara de medo e entramos na sala do diretor Terence, sua careca brilhava mais a cada dia, ele parecia o Terry Crews sem os músculos, o que me assustava um pouco no começo, mas depois de tantas broncas, estou me sentindo em casa sentada na cadeira vermelha e Lola na Azul (ele não tinha nenhum senso de decoração naquela sala).
- Helena - ele sorriu sarcasticamente - estava até sentido sua falta essa semana, conseguiu se segurar até quarta feira, acho que é seu novo recorde
- É ótimo saber disso querido diretor, porque estou começando a sentir como se essa poltrona fosse meu sofá de casa - disse em tom irônico, assim como ele
- Suellen sentou ai, talvez tenha sangue ainda
Levantei imediatamente, enojada, fiquei em pé atrás da cadeira de Lola.
- E você Lola - disse o diretor - deixe-me adivinhar, você tentou apenas seprar a briga certo?
- Precisava ajuda-la - disse ela envergonhada
- Tudo bem, vou ouvir a versão de vocês, já que ouvi a versão da Srta. Suellen
Lola olhou pra cima e ficamos nos encarando e ele disse com o tom de voz alterado:
- Eu não tenho o dia todo!
- Ela tem algum tipo de birra comigo, desde que pisei aqui, não é Lola?
- É, você se lembra diretor - disse ela de saco cheio desse mesmo interrogatório
- Eu quero saber exatamente o que vocês fizeram - ele arregalou os olhos pra mim
- Joguei minha baqueta nela
- AH HA!
- Você se entrega muito fácil - disse Lola virando os olhos
- Então, por que fez isso?
- Porque ela bateu em mim com o violino a aula toda, o que significa que a culpa não é totalmente minha, só me defendi
- O ponto é: você não pode resolver tudo com suas próprias mãos, precisa ter mais paciência e pra isso vou deixar você e a Suellen na detenção até a quarta feira que vem
- O que?! - disse indignada - uma semana TODINHA?
- Sim e eu quero que ambas pratiquem sua paciência, com diálogos amigáveis. E Lola, já que você tem sempre que estar no meio das confusões, vai ficar lá pra prender a se afastar de confusão
- Diretor! Isso não é justo - disse Lola levantando de braços cruzados
- Se eu disse então é justa, estão dispensadas - fizemos a menção de falar algo - sem mais um pio!
Saímos de cara feia e a última palavra não podia deixar de ser minha:
- Babaca - disse baixinho batendo a porta enquanto saimos da sala.
Como a aula de música era a última do dia pegamos nossas coisas nos armários e já fomos pra casa, no caminho Lola ficou calada, ela estava muito brava comigo mas sempre tentava manter a calma, não o tipo de pessoa que explode por qualquer coisa. Morávamos perto uma da outra, mas tomávamos caminhos contrários em um momento e foi quando ela disse algo:
- Então, te vejo amanhã na detenção?
- É...Na aula também
- Helena, da próxima vez eu não vou entrar no meio ta? Odeio a detenção
- Lola, ta tudo bem, me desculpa. É a última confusão que eu te coloco, prometo - estendi o dedo mindinho
- Quantas vezes você prometeu isso?
- Mas dessa vez é promessa de dedinho
- Eu não vou aceitar, porque sei que assim que essa detenção acabar vamos iniciar inicar outra
-Obrigada pela compreensão Lolinha
Ela riu acenando a cabeça como quem diz "não"
- Você não toma jeito mesmo, até mais tarde Lena
- Até, se cuida.