Sai da casa da Helena, fechando a porta atrás de mim. Era ruim ver a Ebbie tendo uma crise, e só a Helena podia acalma-lá.
Voltei para casa pensando em como era possível que eu e Lena tenhamos sonhado com a voz de um homem dizendo a mesma coisa. Não acreditava em coincidências, mas então, o que seria?
Assim que cheguei em casa, ouvi passos. E esses vinham da cozinha. Será que era Carmen? Mas ela nem entrava lá.
Entrei na cozinha e vi meu pai com a cara enfiada na geladeira, então nem notou minha presença.
-Vai cozinhar pai? Você? - disse, não conseguindo conter o sorriso, encostando no batente.
Ele levantou o rosto e fechou a geladeira. Tinha um sorriso largo no rosto, apesar de parecer que foi pego no flagra.
- Sim. Por que? Não posso cozinhar pra minha família? - ele disse se aproximando e me dando um beijo na testa.
- Claro que pode, só que você não cozinha muito bem - disse
- Não subestime minhas técnicas culinárias Lolinha. - ele disse me olhando com divertimento.
- Certo - disse erguendo os braços em redenção - o que teremos para jantar senhor?
- Que tal... - ele cruzou os braços, estreitando os olhos, pensando - strogonoff, senhorita?
- Ótima sugestão - disse sorrindo
- Ótima? É perfeita. Me ajudar?
- Sim - disse indo lavar as mãos e prendendo o cabelo.
E, durante algumas horas, eram só eu e meu pai, cozinhando. Carmen chegou tarde naquela noite, então nem jantou conosco. Porém isso não significa que ela não tenha tentado manter uma conversa comigo.
- Então Lolinha, como foi seu dia? - disse ela, se sentando ao lado de meu pai e pegando sua mão, enquanto estávamos na sala, assistindo filme.
- Bom - disse simplesmente.
- Pensei que podíamos sair amanhã, quando você voltar da escola. Ir no shopping, quem sabe? - ela disse em uma imitação fajuta de animação.
- Não posso.- respondi - Tenho detenção a semana toda.
Meu pai virou-se para mim, com cara de bravo, balançando a cabeça negativamente, porém tentando conter um sorriso.
- De novo? - ela disse, fingindo preocupação - É aquela menina que você anda. Ela é muito encreiqueira e sempre te leva junto. Você devia rever suas amizades Lola.
- Não acho que tenho que rever nada - disse, e completei baixinho - Apesar que dessa vez não tive culpa.
- Espero que você tenha consciência de seus atos - ela disse, com quem se preocupa-se.
- Tenho consciência disso - disse.
Não fico detida constantemente, porém, quando acontece, é por um tempo longo. Meu pai se preocupava com o que eu estava fazendo, mas parou quando disse que Helena estava envolvida.
Mais tarde, quando já estava em meu quarto, Helena me ligou dizendo que falara com a psicóloga de sua mãe e ela disse pra estimular a conversa sobre o assunto que deixou Ebbie assim, porém com cautela. Foi o que fizemos na manhã seguinte.- Oi Ebbie - disse assim que a encontrei, em frente a sua casa, saindo com Helena - Oi Lena. Como você está?
Helena esboçou um sorriso discreto para mim, os olhos brilhando sugestivamente, como quem vai aprontar algo.
Ela ia botar o "plano" em prática.
- Oi Lola - disse esboçando um sorriso. Ela estava melhor. - Estou bem querida. E seu pai? Faz tempo que não o vejo.
Caminhamos pela rua, calmamente em direção a escola.
- Esta bem sim. Fico contente que esteja melhor - disse
- Obrigado querida - ela disse sorrindo
Helena, que estava quieta até agora, disse subtamente.
- Por falar em pai, mãe, acho que você me deve algumas explicações - ela disse séria.
Ebbie a olhou surpresa, e um pouco brava.
- Como assim? Já te contei milhares de vezes.
- Nós duas sabemos que não eram verdadeiras - ela disse incrivelmente calma.
Ebbie bufou.
Helena olhou para mim sorrindo. Havía chegado onde queria.
- Você sabe que não é o momento Helena.. - ela começou com a voz baixa
- Mãe, já adiamos isso por muito tempo. Não acha que está na hora de eu saber a verdade?
- Ela está certa Ebbie - disse.
- Lola! - exclamou ela
- Viu? - Helena disse erguendo os braços - Até a Lola concorda comigo.
- Eu não gostaria de não saber quem é meu pai - continuei.
Ela deu um longo suspiro, como se decidisse algo.
- Certo - disse Ebbie, depois de um tempo, com a voz um pouco cansada - Eu direi. Instantaneamente, começamos a andar mais devagar.
Helena ficou quieta, olhando para a mãe com espectativa. Meu olhar não era diferente.
- Eu conheci seu pai em um bar na estrada por ai. Era um encontro de motoqueiros. Minha harley era diferente na época: preta com algumas labaredas na lataria. Eu estava dentro do bar com uns amigos quando o vi rodeando minha moto.
Sai do bar pronta para discutir. Ele estava de costas quando cheguei, e quando ele virou, eu não fiz nada.
Ela fez uma pausa e olhou para a filha, provavelmente observando sua reação. Helena não disse nada. Ela continuou.
- Os olhos dele eram tão negros- disse distraidamente - Eram profundos e fortes. Nunca vi olhos daquele jeito. E não consegui desviar do seu olhar. - ela continuou, agora mais presente na conversa - Depois de conversarmos o dia todo, ele foi comigo até minha casa e... - Ebbie ficou sugestivamente corada nesse momento. -Nos beijamos e ele foi embora. Voltei a vê-lo muitas vezes até que.. bem.. até que eu descobri que estava grávida.
Já havíamos passado pelo cemitério da cidade, o que significava que a escola estava perto.
- Quando contei a ele, - Ebbie disse com a voz mais tensa agora - ele disse que não conseguia largar da vida que ele levava pra cuidar de um bebê. Brigamos e ele foi embora.
Achei que ela diria mais alguma coisa. Porém, ela não continuou.
- Acho que já te disse o suficiente filha - ela disse olhando para Helena, pegando sua mão.
Quando olhei em volta, percebi que já estávamos na esquina da escola. Droga.
- Desculpe ter te dito de forma tão direta, você merece mais, porém é o que consegui dizer. Você precisa ir agora - ela disse já indicando a escola com a cabeça - Se não vai se atrasar. - ela deu um beijo na testa da Helena e acenou para mim.
- Boa aula meninas - disse, virando-se para ir embora antes que qualquer uma pudesse dizer algo. Helena deu um longo suspiro e saiu caminhando. Segui logo atrás dela.
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Casa 47
AdventureLola e Helena são duas garotas de 14 anos que se conhecem desde a infância, ambas tinham passados inexplicados em suas famílias e após encontrarem a casa 47 as lacunas de seus passados são preenchidas. Obs: História baseada nos universos de Percy J...