O menino de óculos foi colocando as mãos sob Ebbie, passando-as em seu rosto. O quarto estava em silêncio e todos acompanhavam atentamente o que acontecia.
-Ela tomava algum tipo de remédio? - perguntou o menino, sem tirar os olhos do que fazia.
-Sim, ela tem síndrome do pânico, e quando acontecem as crises, ela toma alguns. As vezes, antedepressivos também - Helena respondeu.
-Ela demonstrou algum sinal de crise hoje?
-Não. Pelo menos não antes de eu sair. Ela estava muito bem hoje de manhã.
-Quando foi a última vez que aconteceu, Helena? - ele disse, agora olhando para ela, que estava aos pés da cama, sentada.
-Faz poucos dias.
-Onde ela deixa os comprimidos que toma? - ele disse ainda olhando-a.
-No armário do banheiro.
-Jack, pode ir ao banheiro ver se tem comprimidos na pia, ou um copo de água perto? - ele disse, agora olhando para o menino cabeludo.
-Além de motorista, sou agora a empregada? - ele disse fechando a cara.
-Spurlock, para de reclamar. Quer ser útil? Vai - disse Larry apontando para a porta no lado oposto do quarto, tentando conter um sorriso.
Acho que o menino bode era o único que conseguia colocar juízo na cabeça do cabeludo. Ele realmente foi até o banheiro. Resmungando baixinho, mas foi.
O menino de óculos colocou uma das mãos sobre a testa de Ebbie, enquanto a outra passava sobre o corpo. Ele começou a mumurar baixinho, quando o novo segurança da casa, vulgo cabeludo, chegou na porta do banheiro, dizendo:
-Gente, tem uma coisa aqui que vocês precisam ver.
-Eu não acredito que você está chamando a gente pra ver sua obra prima no banheiro - disse Lena, lançando um olhar mortal ao menino.
-Ô baixinha, acho que você deveria ir ver com seus olhos antes de julgar - ele disse, olhando do mesmo jeito pra ela.
-E eu acho que vocês devem parar. Ele precisa se concentrar pra ajudar a Ebbie - disse.
Jack revirou os olhos, indicando a porta do banheiro com as mãos.
-Então é só irem ver. Simples assim - e dizendo isso, entrou.
Helena foi em seguida, assim como eu. Larry veio por último.
O banheiro não era extremamente grande, então todos ficaram um do lado do outro, apertados. Na pia, não tinha comprimidos. Mas ao levantar os olhos, no espelho, tinha as iniciais Y.S.I.M., escrito em tinta vermelha.
-Isso... é sangue? - disse Larry se apoiando na parede e olhando para baixo.
Helena chegou perto do espelho e passou o dedo sobre a tinta.
-Não, é batom. Mas o que é isso? Meninas malvadas? Eu faria isso na quinta série - ela disse.
-Estamos lutando contra Regina George? - disse Jack
-Você assistiu Meninas Malvadas?! - perguntei, no mesmo tempo que Larry.
-NÃO, TA MALUCO! Só falo muito com as garotas do chalé de Afrodite, se é que você me entende - ele piscou pra Larry
-Tudo bem Aaron Samuels, ninguém quer saber o que você faz. O que essas iniciais significam? - Helena disse.
-Aparentemente - disse Larry enquanto examinava o espelho junto com o Jack - nada que faça sentido pra gente.
-Claro que não - disse, cruzando os braços e voltado para o quarto, onde o menino ainda continua com as mãos sobre Ebbie. Mas, nesse momento, uma luz intensa saiu das mãos dele.
-O que é que você tá fazendo com ela? - Helena disse, se aproximando do menino, porém Jack segurou-a pelo braço, dizendo:
-Ele está vendo se existem ferimentos internos. Relaxa baixinha - disse, soltando-a.
Helena ficou muito vermelha, mas antes que pudesse dizer algo, o menino se virou para nós.
-Ela não tem nada - ele disse.
-Nada? - Lena disse, franzindo as sobrancelhas.
-Não. Sem ferimentos graves, algo causado por pancadas, ou dores. Nem mesmo alma.
-Alma? Então quer dizer que ela... - disse Larry, chegando mais perto dele.
-Ela está sem alma Larry. Está vazio dentro dela - o menino completou.
-Você está dizendo que minha mãe não tem alma? - Helena disse olhando para o menino de óculos - Como isso?
-Outro mistério Helena. Mas posso afirmar que tem um vazio dentro dela. É como se a pessoa que ela é não estivesse mais aqui.
-Isso não é possível. Ninguém fica sem alma. De onde você tirou isso? - ela disse olhando para o menino de óculos.
-É possível, mas nunca vi acontecer antes. Tem certeza disso Logan? - perguntou Larry.
-Tenho. Quando fui ver se havia algo de errado internamente, era como se não existisse uma pessoa.
-Mas é claro que isso não é possível - disse Helena - Ela tem alma sim. Quando a ambulância chegar, vocês verão.
Nesse momento, um menino de cabelos escuros e pele clara entrou no quarto, olhando para Larry.
-A ambulância chegou. Tem dois homens com roupas brancas subindo. Aparentemente, estão limpos.
-Obrigado Liam. Qualquer imprevisto, chamamos vocês. Continuem de olho - Larry disse ao menino, que acenou a cabeça positivamente e saiu.
-Estão limpos? O que isso quer dizer? - perguntei ao menino cabeludo ao meu lado, olhando exageradamente para cima, já que ele era do tamanho de uma porta.
-Quer dizer que, aparentemente, não são monstros - ele disse, parecendo entediado, cruzando seus braços.
Logan guardou suas coisas dentro da mochila rapidamente e foi para a janela no mesmo instante que um homem de cabelos curtos, cacheados e pretos entrou no quarto, seguido de outro, careca. Antes que alguém dissesse alguma coisa, o primeiro se dirigiu a cama, onde Ebbie estava.
-Quem é parente da moça aqui? - ele disse.
-Sou eu - Helena disse, indo para o outro lado da cama.
-O que aconteceu? - ele perguntou, tirando um estetoscópio de uma maleta.
-Não sei. Quando cheguei, ela já estava desmaiada.
-Ela toma algum tipo de medicamento? - perguntou o careca, se aproximando para medir a pressão dela.
-Toma remédios para crise de pânico e alguns antidepressivos. Mas ela não tomou eles hoje, já olhei - disse Helena, olhando para Logan
-A pressão dela esta normal - disse o careca, olhando para Helena - Mas é melhor levarmos ela a um pronto socorro. Pode ter sido uma queda.
-Não acho que seja... - começou Larry, mas foi interrompido por mexidas na cama. Helena se aproximou rapidamente, sentando ao lado de Ebbie. Nesse momento, ela abriu os olhos.
-Mãe, você tá bem? - perguntou Helena, segurando suas mãos. Ebbie piscou os olhos algumas vezes até olhar para Lena. Depois olhou para todas as pessoas presentes no quarto. Então voltou seus olhos para a filha e recolheu as mãos para seu colo.
-Mãe, o que foi que aconteceu? - perguntou Helena, confusa.
-Eu.. tomei alguns remédios a mais. Foi só isso.
-Só isso mãe? Você tava caída no chão. Fiquei preocupada.
-Não foi nada de mais - ela disse se arrumando na cama.
-Mas é melhor levarmosa senhora para um pronto socorro. Para garantir que não aconteceu nada - disse o homem de cabelos cacheados.
-Não quero. Vou ficar aqui - Ebbie disse ajeitando-se nos travesseiros, como se fosse dormir.
-Mas não é melhor mãe? - perguntou Lena.
-Não quero. Estou com sono. Me deixem sozinha - ela disse, e foi arrumando-se na cama, se cobrindo logo em seguida.
Aquilo estava muito estranho. Ebbie estava diferente. Ela não era assim, fria com as pessoas. Além disso, ela não tinha tomado remédios. Por que ela mentiria?
-Bem, se ela não quer ser levada à um pronto socorro, não podemos fazer mais nada - o careca disse, suspirando e pegando a maleta, que estava no chão, olhando para Helena - Tente fazer com que ela mude de ideia. Só pra ter certeza que não foi nada de mais.
-Certo.
-Já iremos então - o homem de cabelos cacheados disse.
-Obrigado - disse Helena.
Assim que os homens saíram do quarto, Helena olhou para mim, franzindo as sobrancelhas. Fiz o mesmo.
-Me deixem sozinha - Ebbie disse, atraindo minha atenção e a de Helena.
-Tá bom mãe. Se precisar de alguma coisa, me chama - ela disse, beijando a mão da mãe.
Larry descia as escadas na frente, seguido de Logan e Jack. Esperei Helena no corredor. Assim que ela fechou a porta do quarto, eu disse:
-Ela tá estranha Lena.
-Também achei. Ela mentiu pra mim. Disse que tinha tomado remédios.
-E sabemos que ela não tomou. Além disso, ela estava distante, não estava?
-Sim. Ela nem perguntou quem eram as pessoas no quarto. O que será que aconteceu?
-Helena, vamos cogitar a idéia do menino por um segundo. Isso explica o comportamento dela.
-Pode até ser, mas Lola, não pode ser verdade. Por que tirariam a alma da minha mãe? - ela disse, baixando o tom de voz agora.
-Não sei por que fariam isso. Mas não é a primeira coisa estranha que acontece com a gente. Não seria surpresa surgiu mais uma.
Vendo que minha amiga não falava nada, disse:
-Acho que podemos descobrir algumas coisas sobre tudo isso. Poderíamos falar com Larry, ver o que podemos fazer para ajudá-la.
Ela suspirou.
-Podemos ouvir o que eles tem a dizer sobre minha mãe. Apesar disso, quero que ela fique bem de novo.
-Então vamos conversar com eles e ver o que podemos fazer - disse um pouco animada.
-Não se anima muito não. Não sei onde isso pode dar - disse Helena, séria.
-Não seja tão rabugenta. Quanto mais rápido falarmos com eles, mais rápido podemos ajudar sua mãe. Não deve demorar muito tempo. Estamos suspensas, lembra? - disse, olhando-a, que sorriu de canto - De qualquer jeito, não podemos demorar. A olimpíada de física está chegando, e preciso estudar.
-Com tanta coisa acontecendo, você pensa em olimpíadas de física Lola? - perguntou Lena, sorrindo.
-Penso em muita coisa Helena. Por exemplo, penso que agora, aquele cabeludo pode estar enchendo em seus discos na sala - disse, como uma coisa sem importância.
-Ah se ele estiver fazendo isso. Corto o cabelo dele em dois tempos - e dizendo isso, desceu as escadas. Desci em seguida.
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Casa 47
AdventureLola e Helena são duas garotas de 14 anos que se conhecem desde a infância, ambas tinham passados inexplicados em suas famílias e após encontrarem a casa 47 as lacunas de seus passados são preenchidas. Obs: História baseada nos universos de Percy J...