2 - Lola

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Depois de me despedir da Helena, fui caminhando até minha casa um pouco irritada, afinal, mesmo sem querer, vivíamos envolvidas em confusão. Tentava ajudar minha amiga em suas encrencas e acabávamos na detenção. Infelizmente, ela já faz parte da minha realidade.
Helena Smith era minha melhor amiga desde os 4 anos. Na época, meu pai queria aprender a tocar piano. Ebbie Smith era uma das melhores professoras de Lawrence, então Tom logo começou as aulas. Mas Ebbie não tinha com quem deixar a filha, então meu pai concordou em traze-lá para casa, assim eu tinha alguém para brincar. E assim estamos há 10 anos.
Ela é o famoso pavio curto, sem paciência, introvertida e tem dificuldade em expressar o que sente. Adora confusões, e sempre que pode, esta envolvida em uma. Mas no fundo, é carinhosa e fofa (só em alguns momentos). Somos igualmente diferentes na aparência: morena de olhos verdes, usa roupas escuras com nome de bandas que não fazem meu estilo. Apesar disso, não imagino minhar vida sem ela.
Assim que cheguei em casa, o silêncio reinava. O que não era incomum para uma segunda-feira, levando em consideração que meu pai trabalhava, como qualquer pessoa, e minha madrasta saia torrando o seu dinheiro.
Meu pai, Tom Murray é único. Faz todo mundo se sentir feliz perto dele. Tem sempre um sorriso brincalhão no rosto, e é o que eu mais amo nele. É gentil e educado com todos. Mas comigo é especial. Além disso, era carinhoso e divertido. Ele nunca mudou seu jeito, nem mesmo quando perdemos minha mãe.
Clarisse era um amor de pessoa. Era gentil, meiga e carinhosa com todos. Ela morreu com o que mais gostava de fazer: voar. Não sei bem como ocorreu o acidente, meu pai diz apenas isso. Eu tinha 3 anos, então não me lembro dela.
Depois de uns anos, meu pai conheceu a Carmen, uma mulher morena de cabelos cacheados, alta e magra. Vive em lojas de roupas, salões de beleza e academias, queimando gorduras inexistentes. Não teria problema nisso se ela trabalhasse. Mas não. Ela vive gastando o dinheiro dele.
Não gosto dela. É o tipo de mulher que quando meu pai esta em casa, é toda cheia de amores com ele e tenta puxar assunto comigo. Mas quando só estamos nós, não fala nada.
Larguei minha mochila no sofá e fui para a cozinha, procurando algo na geladeira. Depois de satisfeita, fui para a sala, passando entre os canais para achar algo interessante, mas acabei colocando em um canal qualquer. O sono logo chegou e adormeci.
Sonhei que andava de bicicleta no parque central da cidade. O dia estava lindo, ensolarado, pessoas correndo e felizes.Continuei pedalando até chegar ao lago. Desci da bicicleta e sentei debaixo de uma árvore.
De repente, o dia virou noite. Ventava muito e as pessoas estavam desesperadas, correndo para todo o lado. Então, a água que estava no lago, foi escorrendo, como se tivesse um ralo no fundo dele. Levantei de onde estava e fui para perto do lago. Assim que a água sumiu, vi que o buraco era enorme, e foi aumentando aos poucos. Fui andando para trás, mas pude ouvir: "Preciso de ajuda. Só vocês podem me ajudar. Não me esqueçam. Preciso de ajuda".
Então, o buraco começou a me puxar para ele. Tentei seguir na direção oposta, mas o vento era forte. Quando consegui me agarrar em uma árvore próxima ao buraco, uma coruja saiu de lá. Era gorda, cinza escura, quase não a vi quando saiu, a não ser por seus olhos amarelos. Ela deu duas voltas no buraco e foi embora. O vento ficou mais forte, e não consegui me segurar na árvore. Quando vi, estava caindo no buraco sem fim.
Acordei com a sensação que estava caindo. Continuava na sala, e, a não ser pelo barulho baixo da televisão, a casa estava quieta.
Não era a primeira vez que tinha sonhos estranhos, afinal, a maioria dos sonhos eram. O que me intrigava era o fato de a voz dizia "vocês". Parecia que eu não era a única pessoa à que ele referia. Helena foi a primeira pessoa que veio na minha cabeça. Decidi ligar pra ela. Peguei meu celular e disquei. Ela atendeu logo.
-Oi Lola.
-Helena, tive um sonho um pouco estranho. Acho que envolve você também. Estou indo ai, tá?
-Nem precisa avisar. Tô te esperando então - ela disse.
-Certo - eu disse e logo desliguei.
Peguei meu celular, coloquei no bolso, peguei as chaves e sai.

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