9 - Helena

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Eu cheguei em casa um pouco assustada ainda e minha mãe logo percebeu:
- Oi mãe - tentei sorrir enquanto subia as escadas rapidamente
- Por que você está mais pálida que o normal Helena? - dei dois passos pra trás
- Nada mãe, só um enjôo - e voltei a correr pela escada
Fechei a porta do meu quarto rapidamente e deitei na cama, estava tentando raciocinar tudo aquilo e então minha mãe abriu a porta.
- Helena Smith, a senhorita não está nada bem e vai me contar agora!
- Mãe, não é nada - coloquei a mão no colar, como sempre faço quando estou nervosa, e me lembrei de perguntar algo - onde você achou esse meu colar mãe?
- Eu já te contei, foi um presente do seu pai antes dele sumir no mundo - ela revirou os olhos
- E qual era o nome dele?
- Helena por que você tá perguntando tanto de pai? E está enjoada - ela arregalou os olhos - você está grávida e não sabe quem é o pai? Garota você só tem 14 anos
- MÃE, NÃO! Eu nunca nem cheguei perto de garoto, só responde minha pergunta
- Você tem certeza filha?
- Mãe!
- Seu pai chamava Rob Halford - ela fechou a porta do quarto e saiu.

Rob Halford era vocalista do Judas Priest e gay, ou seja, sem respostas novamente. Eu me levantei e fui pro banho, era sexta feira e eu estaria muito feliz se não estivesse morrendo de medo do que aconteceria na segunda por ter faltado na detenção hoje, inclusive, já estava escuro, quanto tempo ficamos na casa? Quem será que comeu nossas pizzas no restaurante? Perguntas que nunca seriam respondidas.
Fui dormir para o início de mais um final de semana comum, espero. E tive novamente o mesmo sonho, só que dessa vez o colar caia em cima da tela que eu pintava, e a tinta preta se transformava no buraco negro e eu tentava pegar o colar enquanto caia no infinito e dessa vez a voz falava "sou eu que as chamo, Eu! Lembre-se querida" e então eu consegui pegar o colar, mas acordei logo em seguida.
Era de manhã já, resolvi andar de bicicleta, pra tentar acalmar os ânimos, coloquei roupas confortáveis pretas e fazia sol no Kansas, odiava sol, ficava toda vermelha e ardida, meu olho ardia, odeio. Coloquei um óculos de sol e sai deixando um bilhetinho pra minha mãe.
Ela me dera a primeira bicicleta quando era mais nova, eu sempre quis andar de Harley como ela, então ela me deu a bicicleta afirmando que era um treinamento, não tem nada a ver, mas gosto de andar até hoje.
Passei pela frente da casa de Lola e ela estava olhando na janela enquanto penteava os grandes cabelos, então ela me viu e arregalou os olhos, fiz sinal de espera aí com a mão. Eu desci na bicicleta e sentei na calçada, ela apareceu na sacada com duas sugestões de roupa no cabide e fazia menção pra eu escolher algum, dei risada e escolhi o da esquerda, ela fez um sinal de positivo e fiquei esperando ela descer. Veio de bicicleta também e eu fiquei feliz daquele poder ser um dia normal depois de tantas coisas estranhas.
- Bom dia Lena - ela vinha com o cabelo preso num rabo de cavalo balançando - o que te fez acordar cedo num sábado?
- Um sonho e o que fez você?
- Um sonho também
- É, o dia estava normal demais pra ser verdade
Subimos na bicicleta e andamos lado a lado conversando sobre o sonho:
- Era o mesmo sonho, mas agora eu meio que ia atrás da moeda, tentando pegar - Lola explicava
- Ele disse outra coisa também? A voz
- Disse que precisava da gente só. A voz disse outra coisa no seu sonho?
- Disse algo como "sou eu!" como se eu soubesse quem era.
- E você não se lembra da voz?
- Não, ela é familiar, mas ainda não me vem na cabeça quem era. A voz me chamou de "querida"
- Isso ta ficando cada vez mais estranho...
Nós andamos a manhã toda tentando evitar o cemitério, fomos para o parque da cidade, Lola tomou sol e eu tomei sorvete na sombra. Foi divertido mas ao mesmo tempo tenso, quando estávamos conseguindo se esquecer do que havia acontecido nos vinha a lembrança novamente e o nosso riso fraquejava e ficamos o fim de semana inteiro desse jeito, Tom e minha mãe já estavam começando a perceber que eu e Lola estávamos distraídas.

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