6 - Lola

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-Droga Lena, e agora? - eu disse segurando seu braço.
-Agora a gente tenta descobrir por que esse colar está quente - ela disse soltando meu braço do seu e começando a andar.
-O que teria em um cemitério Lena? - disse, correndo para alcança -lá.
-Lola - ela disse, parando, e se virando para me olhar e segurando o colar - Esse colar é a única lembrança que eu tenho do meu pai. Eu não sei por que ele está ficando quente, mas eu quero descobrir.
-Mas eu não gosto da ideia de estarmos presas nesse cemitério com toda essa neblina - eu disse.
-Vai ser rápido Lolinha. Já estamos aqui, afinal. Vamos - ela disse fazendo cara de pidona.
-Certo - disse, soltando um suspiro e arrumando a mochila nas costas - Rapidinho.
-Rapidinho. Então vamos nos separar.
Hesitei por um momento.
-Lola, se nos separarmos, iremos mais rápido. Você não quer sair daqui? - ela disse dando um sorriso de canto, acertando em cheio nas palavras.
-Sim - disse bufando - Vamos nos separar.
-Eu vou pra lá - ela disse apontando para um mausoléu as suas costas - Então acho melhor você ir pra lá - ela disse apontando para as minhas costas, onde estava outro mausoléu.
-Tá bom - disse - Se achar alguma coisa, grita.
-Certo - ela disse, já se afastando.
Comecei a andar devagar, olhando para o chão, coberto de névoa. Fui me aproximando de alguns mausoléus que tinham buquês de flores secas em cima. Mórbido.
Continuei meu caminho, agora olhando ao longe, ou melhor, tentando, já que era difícil destinguir algo.
-Lola! - escuto Helena me chamar, sentindo meu coração acelerar por conta do susto.
-Helena? Onde você tá? - disse, refazendo o caminho que fiz.
-Aqui - ela disse acenando a alguns metros a minha frente.
Quando fui me aproximando, vi que ela estava com a mão no colar, e sua expressão era preocupante.
-Lena, o que foi? - disse ao me aproximar.
-O colar - ela disse, agora largando-o - tá mais quente que antes.
-Por que? Você encontrou alguma coisa?
-Não, não encontro nada, mas ele começou a esquentar cada vez mais, e agora tá muito quente. Olha - ela disse segurando a corrente do seu colar e estendendo - o pra mim. Quando aproximei minha mão direita, parecia que ela formigava. Mas não era a mão inteira, era só o dedo anelar, aquele que continha meu anel. De repente, era como se um imã a tivesse puxado para o colar, e quando vi, minha mão já estava segurando-o. Estava mesmo muito quente. Quando ia tirar a mão, aquela sensação do imã fez com que minha mão não soltasse o colar, e meu dedo formigou ainda mais, e antes que eu me desse conta, senti o chão sumir aos meus pés e um aperto no estômago, revirando tudo que tinha dentro de mim.

Depois de sentir meu estômago se comprimir, eu enfim, voltei a respirar, caindo em seguida.
Enquanto controlava minha respiração, percebi que não estava no cemitério. Ai meu..
-Helena? - disse me levantando rápido.. rápido demais. Meu estômago voltou a revirar. - Ah não - disse me apoiando em uma cerca.
Cerca?
Quando levantei os olhos, vi uma casa enorme e velha diante de mim. Era de madeira e cercada se árvores, parecendo abandonada. O número 47 porém, era a única coisa com cor que pude ver.
-Helena? - continuei a chama-lá
-Lola? - ouvi as minhas costas. Ao me virar, vi Helena do outro lado da rua, apoiada em uma árvore.
-Você tá bem? - perguntei me aproximando dela. Sua cara não era das melhores.
-Parece que meu estômago saiu pra dar uma voltinha.. tô esperando ele voltar - ela disse respirando fundo, com muita cara de enjoo.
Não pude deixar de sorrir.
-Só você pra fazer piada agora.
Ela se soltou da árvore e olhou ao redor.
-Nossa, que lugar é esse?
Não tinha nada na rua, a não ser a enorme casa a nossa frente. O que me lembra..
-Helena, o que aconteceu?
-Eu não sei Lola. O colar estava quente e você segurou, e aí não sei.
-Quando eu segurei, minha mão direita formigou. Mas não era a mão toda - disse abaixando os olhos para a mão - Era só o dedo que tem o anel.
-O anel que você ganhou da sua mãe...
-Sim. Mas.. por que?
-Essa não é a primeira vez que temos perguntas, mas não temos respostas - Lena disse com cara fechada.
-E o que fazemos agora?
-Não podemos ficar aqui esperando que a resposta caia do céu. Vamos até a casa e perguntamos como voltar pra casa.
-Melhor irmos logo então. Vem. - disse pegando sua mão e entrando no jardim da casa 47.
Quando Helena foi bater, sua mão parou no caminho.
Olhei pra porta.
-Por que tem um olho nessa porta? - perguntei franzindo a testa.
-Tem um olho nessa porta! - Lena disse, ficando animada - É um olho mágico. Literalmente.
Dizendo isso, ela levou o dedo indicador pra tocar no olho. Antes que eu pudesse dizer algo, ela tocou o olho e ele estourou, como uma bolinha de sabão. No mesmo instante, a porta se abriu.
-Por que tudo que acontece parece coisa de filme de terror? - perguntei pra minha amiga, agarrando seu braço pela segunda vez no dia.
-Não era você que queria perguntar? Então vamos.
Antes que eu pensasse no assunto, decidi não pensar no filme de terror e entrei na casa, atrás de Lena.

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