Casa 47

5 - Helena

Eu devia ter perguntado o nome, sei que ele tinha olhos negros e andava de Harley.
- Lola ela não disse nada!
- Já foi difícil pra ela dizer aquele pouco, fique feliz por enquanto
- Não vou aguentar, preciso de um nome - disse segurando meu colar que fora a única coisa que minha mãe me deu relacionada ao meu pai
- Helena... - ela foi interrompida pelo sinal da escola - Agora é aula de física, depois a gente conversa
Ela foi correndo pra sala dela. Lola adorava física e até competia em olimpíadas disso, eu e Tom sempre íamos assisti-la, não entendiamos nada do que ela falava nas respostas mas aplaudiamos e gritavamos seu nome.
Durante o dia todo nas minhas aulas fiquei pensando sobre meu pai e o dia parece que demorou uma eternidade para passar, até que chegou a hora da saida, quer dizer, seria se não tivesse detenção.
A detenção começava logo após o almoço, então encontrei Lola pra comermos na lanchonete da frente a escola.
A rua da escola era calma, com bastante comércios: uma bomboniere, uma pizzaria, um restaurante e ao fim da rua havia um cemitério, que era o maior da cidade, e naquele dia ele estava rodeado por neblina e o dia estava extremamente ensolarado. Sentamos pra comer um pedaço de pizza ao lado de fora e eu não conseguia tirar o olho da neblina.
- Ainda pensando no seu pai - perguntou Lola interrompendo meus pensamentos
- Aham - disse distraída
- Helena, olha pra mim enquanto eu falo
E então acordei, parecia que aquilo estava sugando toda minha atenção e então perguntei-a
- Lola é normal ter neblina em dias de sol?
- Não que eu tenha visto, mas o que isso tem a ver?
- Olhe em direção ao cemitério
Ela se virou nervosa e sua expressão mudou quando olhou pro lugar
- Será que algo pegou fogo lá dentro? - ela perguntou tentando disfarçar a expressão
- Não tinha pensado nisso, achei que era neblina
- Claro que não, é só fumaça. Agora vê se presta atenção em mim tá? Eu tive o mesmo sonho de novo
- Eu também tive, mas não disse nada de manhã por causa da minha mãe
- Mas o que pode ser isso então?
O garçom chegou com as pizzas e eu ainda não tinha esquecido do cemitério, então perguntei
- Moço, você sabe se teve algum incêndio por ali? - então apontei pra fumaça
- Não que eu saiba senhora, porquê? - ele disse com a testa franzida
- Essa fumaça, pensamos ser um incêndio
- Desculpe, que fumaça? - ele disse com olhar incrédulo e Lola me olhou como quem diz "como assim?'
- Aquela ali moço, envolta de todo o cemitério, parece neblina
- O céu está limpo senhora
O garçom então saiu da mesa revirando os olhos
- Helena, a fumaça ainda ta ali não é? Eu não tô doida não
- Aparentemente eu também devo estar louca
Lola se virou e havia uma senhora passando atrás dela, então perguntou se também via a neblina/fumaça, que parecia cada vez mais perto de nós, e ela negou, resolvi perguntar também a uma colega de classe que passava caminho a sua casa e ela simplesmente riu de mim.
Sentamos na mesa novamente, coloquei a mão na cabeça com os cotovelos na mesa e Lola disse com a voz tremula
- Estamos oficialmente loucas?
- Primeiro o sonho, agora isso, não é coincidência... LOLA PORQUE VOCÊ ESTA DE OLHOS ARREGALADOS?
- A NEBLINA TA EM VOCÊ!
Olhei pra baixo e a neblina estava toda envolta pela minha cintura, eu levantei e fui seguindo o caminho da neblina
- Helena, não me fala que você vai pro cemitério, você ta doida? Nunca assistiu filme de terror não? Ta na cara que o perigo está lá - Lola disse me seguindo
- Mas as respostas pra essas loucuras também podem estar lá
- Há 90% de chance de não estar, sai dai!
Parei e tentei dar meia volta por um segundo, mas a neblina parecia me engolir cada vez mais
- Lola, não estou conseguindo sair
E a neblina me arrastou ainda mais, Lola segurou em meu braço e fomos praticamente arrastadas pra dentro do cemitério, onde os grandes portões de ferro se fecharam assim que entramos
- Estamos oficialmente num filme de Terror