Casa 47

3 - Helena

Lola me ligou desesperada por causa de um sonho, eu a chamaria de louca se não tivesse acabado de acordar de um sonho incomum também.
Minha mãe adorava Lola, por isso nem se abalou com a notícia de que ela viria, inclusive ficou até feliz. Vivíamos numa casa enorme que foi uma herança dos meus avós, eramos só eu e minha mãe, sem pista de pai, e por esse motivo a casa era extremamente silenciosa e um tanto sombria por conta da personalidade da minha mãe, tínhamos um gosto incomum por preto, cortinas escuras e velas.
Minha mãe era bonita mas tinha uma expressão triste, ela desenvolveu síndrome do pânico e depressão pouco tempo depois que nasci pois logo meu pai sumiu, ela só tinha  minha avó que morreu quando tinha 2 anos. Ela é a pessoa mais forte que eu conheço, consegue ser linda e fabulosa mesmo depois de tudo, me encho de orgulho dela.
A campainha tocou, era Lola, tinha suas maçãs do rosto coradas, mas no momento pálidas, uma expressão de susto e de quem corria.
- Menina, você sonhou o que pra estar assim? - logo perguntei deixando-a entrar
- Sabe sonhar que está caindo? - assenti com a cabeça - agora imagine cair num vazio sem fim e ouvindo vozes dizend...
- Preciso de ajuda...
- MENINA, TIVEMOS O MESMO SONHO - ela gritou histérica
- ELE DISSE ISSO MESMO? ERA UM HOMEM TAMBÉM?
- ERA, HELENA CONTA O RESTO
Sentamos do sofá e comecei a contar:
- Ta, eu estava pintando uma paisagem no sonho, comecei a fazer flores e de repente uma tinta preta começou a escorrer na tela, comecei a pintar um buraco negro e quando tentava afastar minha mão da tela era sugada pra dentro do desenho e a voz dizia que só "vocês" podiam ajudar
- Temo que "vocês" sejamos nós
- É um sonho Lola
- Mas é muita coincidência o mesmo sonho e "vocês" ao invés de "você"
- Ta mas o que podemos fazer? Ir numa casa de Búzios e tarô?
- Helena!
- É sério, não temos o que fazer. A voz me era um pouco familiar até, mas não consigo pensar em quem é o dono dela
- Lenna, pense! Eu nunca ouvi essa voz antes, precisamos descobrir quem é
Fiquei em silêncio por um minuto, fiz menção de falar e Lola me interrompeu
- DESCOBRIU?
- Eu ia dizer que não faço idéia na verdade
- Helena, esse pode ser o homem mais importante das nossas vidas e...
- Huuum, "homem mais importante", alguém apaixonada ai? - disse minha mãe aparecendo de repente
- Quem me dera, se fosse a Lola não estaria tão desesperada - falei revirando os olhos
- O que houve Lolinha?
- Tivemos sonhos iguais
A expressão da minha mãe mudou, seus olhos arregalaram, ela parecia muito assustada.
- Meninas, expliquem isso direito
Contamos pra ela os dois sonhos, a cada palavra ela parecia se assustar mais e minha mãe era difícil de se abalar assim, ainda mais sendo apenas um sonho. Seu rosto ficou mais pálido que o normal quando dissemos que a voz nos chamou e depois ela levantou trêmula dizendo:
- Se tiverem esse sonho novamente me avisem
Ela saiu sem dizer mais nada cambaleando até a cozinha, ficamos em silêncio não entendendo nada e eu ouvi o barulho do potinho de remédios balançando.
- Ah não, o que a gente fez Lenna? Desculpa
- Não sei, ela não fica assim a tempos. Mas aquela voz pode significar algo então
- Que tenha ver com a crise da sua mãe eu já até imagino que seja seu...
- Pai - virei pra cozinha e gritei - MÃE
- Tudo bem filha - ela disse com a voz trêmula
- Lenna, é melhor você ir ajudar ela
- Preciso acalma-la, crise de novo não
- To aqui ta? Vai lá
Abracei muito minha mãe, dei água, tentei conversar com ela, fiz o de sempre quando tinha essas crises de pânico, isso sempre era repentino e precisava estar ao lado dela, por mais que odiasse vê-la assim, eu era a única que podia estar ao lado dela.