Capítulo 1 - Reencontro

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Reino Celeste. Tempo Presente.

Um anjo caminha até a saída de um grande salão. Uma grande porta dupla de cor branca se fecha. Às costas dele está o Palácio Celestial, uma monumental e inexpugnável fortaleza. Possuindo sete torres brancas com adornos em ouro e prata.
Caminhando por uma ponte, que separa o grande palácio do restante do Reino Celeste, ele encontra outro anjo parado à sua frente. Esse anjo é Alexiel, capitã da terceira Legião do Céu.

— Vai visitar aquele lugar novamente,
Castiel? — questiona a mulher anjo.
O vento sopra balançando seus longos cabelos negros.
— Recebi uma ordem de nossos superiores — responde Castiel, capitão da primeira Legião do Céu.
— Você parece gostar de estar entre os humanos.

A brisa continua a soprar balançando, também, a vestimenta de Alexiel: uma espécie de vestido azul-marinho, justo na parte superior do corpo e com uma longa saia, aberta nas laterais.
Os dois anjos não estão com as asas à mostra, elas estão recolhidas, escondidas por de baixo da carne.

— A questão não é essa — ele responde passando a mão nos cabelos castanhos, enquanto seu sobretudo cinza-escuro dançava ao vento. — Recebi uma missão e irei cumpri-la, apenas isso. Você não faria o mesmo?
— Sim, mas não me agrada estar naquele lugar.

Os dois se aproximam.

— Os humanos são criaturas interessantes, você não acha? — Comenta Castiel.
— Eles são egoístas, arrogantes, são fracos e imperfeitos. E mesmo assim se acham superiores a tudo e a todos.
— Tem razão. — Ele responde com um sorriso. — Mas muitos tentam melhorar. Temos muito a... — Ele é interrompido antes que terminasse.
— Não me diga que temos algo a aprender com eles! — responde Alexiel, irritada com a postura do companheiro. — Nós fomos designados para guiá-los, não ao contrário.
— Devemos guiá-los, sim. Mas não a problema algum em aprender com eles.
— Quando conhecê-los melhor, mudará sua forma de pensar. Bom, eu tenho que ir.
— Ele continua caminhando pela ponte ficando de costas para a amiga.
— Castiel. — Ela chama a atenção do amigo pela última vez. — Tome cuidado.
Ele não responde. Apenas sorri, e se despede com um aceno de mão.


Northern City (Cidade do Norte), Inglaterra, dias atuais.

Castiel chega finalmente ao Mundo dos Homens. Ele está em um local abandonado, onde funcionava uma fábrica de autopeças, que foi fechada a mais de uma década. Está escuro, já passa das 23h00, e as ruas estão desertas. O anjo segue por uma rua, iluminada pelas luzes dos postes, até chegar a um bar. O estabelecimento não está cheio e possui pequenos grupos de amigos. O anjo se acomoda em um banco em frente ao balcão. Com exceção das asas, a aparência dos anjos é a mesma dos seres humanos. E como Castiel não está com suas asas a mostra, ele pode, sem problemas, ficar entre os homens.

— O que deseja? — Pergunta o dono do bar enquanto seca um copo com um pano banco.
— Uma cerveja, por favor.

Não era a primeira vez que Castiel visitava à Terra. Ele já estava acostumado a conviver entre humanos e já conhecia praticamente todos os seus hábitos. Houve uma época que ele passou dez anos convivendo entre os homens. Pouco tempo para um anjo, mas o suficiente para que ele aprendesse muitos dos costumes terrenos.
Usando de seus poderes psíquicos, o anjo consegue sentir a presença de demônios inferiores e saber se uma pessoa está possuída. Pode sentir até mesmo a presença de outro anjo, desde que esse não esconda sua energia espiritual. É o que os anjos fazem quando estão na Terra e não querem ser encontrados.
No bar, um grupo de fregueses sentados a uma mesa bebe cerveja, comem alguns petiscos e botam a conversa em dia. Um costume comum nos finais de semana. Um rapaz se levanta de uma das mesas. Ele está muito bêbado, quase vomitando, mas é amparado pelos amigos. Nenhuma irregularidade. Tudo está normal. Tudo está como deve ser. O anjo bebe a cerveja, deixa umas moedas sobre o balcão e se retira do estabelecimento. Ele segue caminhando por uma rua escura até chegar a uma grande e antiga mansão. A mais antiga da cidade, construída no início do século XV.
No jardim da mansão quatro seguranças tomam conta da casa. Todos vestidos com terno preto e gravata.
Tudo parece calmo até que eles são surpreendidos por Castiel surgindo diante deles.

— O que está acontecendo? — pergunta um dos guardas — É um demônio?

Castiel os ignora e caminha na direção da porta. Ele para de andar ao ouvir uma arma engatilhando.

— Não sei quem você é nem o que quer aqui, — diz um dos guardas apontando uma pistola Glock preta para a têmpora de Castiel, — mas invadiu a casa errada.
— Essa arma não vai funcionar comigo — responde o anjo.
— É o que vamos ver.

Prestes a puxar o gatilho o guarda é interrompido pelo som da porta da casa se abrindo. Um homem de média estatura, aparentando mais ou menos 60 anos, calvo, usando um sobretudo preto e gravata, sai do interior da casa e se aproxima deles.

— O que está acontecendo aqui?
— Desculpe, senhor, mas...
— Há quanto tempo, Bradley! — diz Castiel interrompendo o homem que ainda apontava a arma para sua cabeça.

O homem de sobretudo é Raymond Bradley um velho amigo de
Castiel.

— Realmente, meu amigo. Faz muito tempo.

Ele encara o anjo. Em seu olhar há um misto de alegria, por estar reencontrando um amigo, e preocupação, pois ele sabe que a presença de Castiel significa que um grande mal se aproxima do Mundo dos Homens.

— Não vai me convidar para entrar?
— É claro.

O segurança então guarda sua arma e se afasta.
Bradley e Castiel adentram a mansão. O hall de entrada é grande, o chão de cor branco com detalhes preto e o teto em forma de abóboda. Entre duas colunas há uma longa escada que da acesso a um andar acima.
O lugar está cheio de pessoas. Algumas portando armas de fogo. No andar de cima, um homem trajando uniforme militar preto e portando uma metralhadora M-16 encara Castiel. Ao vê-lo acompanhado de Bradley, percebeu que era apenas uma visita. Algo raro de se acontecer naquele lugar. Os dois sobem as escadas que levam para uma grande sala de reuniões. Ao entrarem, a porta é fechada.

— Quem é esse cara? — pergunta o homem de uniforme militar, que a pouco havia encarado o celeste.
— Não sei — respondeu outro guarda — Mas estou com um mau pressentimento.

Na sala de reuniões,
Bradley e o celeste se encaram por alguns segundos.
Raymond caminha pela sala e para em frente a uma janela em forma de arco. De lá ele observa o jardim de sua mansão.
A sala de reuniões é também uma grande biblioteca, com diversos livros raros e desconhecidos.
De costas para o anjo, ele dá início à conversa.

— Sua visita inesperada significa que alguma coisa vai acontecer, não é mesmo? — pergunta Bradley enquanto observa o jardim.
Parado ao lado da mesa, Castiel responde com outra pergunta.
— Onde ele está?
— Foi enviado para uma missão. 

Bradley tinha um olhar calmo, despreocupado. Mas na verdade, estava extremamente nervoso. E esse era o motivo pelo qual deu as costas para o anjo.

— Já contou a ele?
— Não, ainda não.
— Não há mais tempo a perder, ele precisa saber a verdade.
— Eu entendo, mas... — Bradley não sabe mais o que dizer, e já é impossível disfarçar o nervosismo.
— O último selo deve ser rompido e então...

Nesse momento Bradley virou-se e fitou o celeste. Seu olhar possuía um misto de ira e assombro.

— Não podem fazer isso! Não podem deixar que isso aconteça! Isso é loucura, esse plano é inconcebível.
— Já falamos sobre isso. — O anjo mantem-se calmo. — Não há alternativa, ele deve romper o selo. Além do mais, sabe muito bem porque o aconselhei a criar está organização.
— Está organização foi criada para enfrentar demônios, não para obedecer aos anjos — responde Bradley irritado.
— Não é tão simples assim — argumenta Castiel. — Anjos e homens precisam uns dos outros.

Bradley não responde. Apenas baixa a cabeça com uma expressão triste.

— A batalha final se aproxima meu amigo — diz Castiel. — Eu sinto muito, gostaria que as coisas fossem diferentes.


Cronnos Entre Anjos e DemôniosOnde histórias criam vida. Descubra agora