Capítulo 19 - Maycon Carter

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Depois de visitar o irmão na prisão, o pequeno Maycon foi deixado pelo pai em uma grande casa. O garoto é recebido por um homem mais velho. É lá onde o grupo de voluntários do qual Maycon faz parte, se reúne para se organizar e decidir quais lugares visitar e quais pessoas ajudar.
Ao entrar na casa ele se depara com diversas caixas de papelão e brinquedos espalhados pela sala. Sentados em dois sofás, estão outros voluntários embrulhando os brinquedos. Ele se senta ao lado de uma garota de pele clara, cabelos negros na altura dos ombros.
Com apenas treze anos, Maycon é o membro mais jovem naquele grupo de voluntários, e assim como todos naquela sala está disposto em ajudar a quem precisa.
Após alguns minutos todos os brinquedos estão embalados. Maycon e os outros voluntários levam as caixas para uma van branca estacionada no quintal da casa. Quando a última caixa é colocada, a porta lateral do veiculo é fechada. Maycon e os outros voluntários se acomodam em uma segunda van também branca. Os portões se abrem e os dois veículos seguem viagem.
Depois de percorrer alguns quilômetros, os veículos finamente chegam ao hospital da cidade. Os voluntários carregam as caixas para dentro do local. Eles seguem para ala infantil, onde encontram diversas crianças em tratamento. Algumas internadas por estarem doentes, outras por terem sofrido algum acidente.

— Boa tarde pessoal! — diz Marcus um dos voluntários, com um sorriso estampado no rosto.

A alegria toma conta de todas aquelas crianças. Os voluntários distribuem os brinquedos e permanecem horas conversando e brincando com as crianças. Maycon senta-se no chão ao lado de um menino. Em seguida Thereza, uma jovem de cabelos curtos e castanhos senta-se ao seu lado.

— Por que se juntou ao grupo de voluntários? — pergunta a mulher, que percebia algo incomum em Maycon. Para ela, era estranho um garoto tão jovem ter tanta vontade de ajudar ao próximo, ao invés de estar se divertindo com as crianças da sua idade.
— Sinto-me bem fazendo isso — ele responde. — Desde que ela se foi, ajudar a quem precisa é o que da sentido a minha vida.
— É muita responsabilidade para alguém tão jovem.
— Eu sei — ele diz com voz baixa e um sorriso. Maycon permaneceu em silêncio por um momento, como se seus pensamentos estivessem distantes, como se estivesse preocupado.
— Alex — ele diz quase sussurrando para si mesmo.
— Algum problema? — pergunta a amiga.
— Não é nada — ele responde com um leve sorriso.

De repente os voluntários percebem uma movimentação dentro do hospital. Um grupo de médicos corre para um dos quartos onde estava uma pequena garota que sofria de uma grave doença. Maycon e Thereza seguem os médicos, acompanhados de Marcus e outros membros do grupo.
Do lado de fora da sala, eles observam os médicos, tentando salvar a vida da menina. E após uma hora, ela é vencida pela doença.
Um dos médicos chora, por ter fracassado e por não ter conseguido salvar a criança. Os amigos de Maycon estão desolados. Aquele que deveria ser um momento onde eles levariam alegria aquelas crianças tornou-se um momento de tristeza.
De repente um fenômeno misterioso acontece. A imagem de um jardim começa a surgir dentro do hospital, como se fosse de outra dimensão. A imagem oscila entre a realidade e um mundo desconhecido pelos seres humanos, mas somente Maycon é capaz de vê-la. Ele percebe a alma da menina que havia morrido parada na sua frente, e ela não é a única, ele vê almas vagando pelo hospital. Possuíam o semblante cheio de serenidade. E em seus rostos refletia o mais puro regozijo como se não conhecessem a dor ou o sofrimento. Essas eram as almas que habitam o Jardim do Éden. Um lugar coberto por campos vastos. Um mundo de paz, tão perto e ao mesmo tempo tão distante do Mundo dos Vivos.
Uma mulher de longos cabelos castanhos e olhos verdes chama a atenção de Maycon . É sua mãe, Helena. Seu coração disparou e ele sentiu saudades, mas também sentiu-se feliz por saber que ela estava bem. Maycon olha para a mãe por alguns segundos e ela retribui com um sorriso. A alma da garota caminha pra o Éden, em direção a Árvore da Vida. Então ela desaparece junto com o jardim e as outras almas.
Um médico cobre o corpo da garota com um lençol branco. Os pais da menina que acompanhavam o tratamento da filha choram de forma inconsolável. Maycon se aproxima deles e diz que a alma de sua filha agora está em um bom lugar. O casal agradece as palavras de conforto do jovem.
Maycon e os outros voluntários se despedem dos médicos e das crianças.
Na saída do hospital, os voluntários caminham em direção a van que os trouxe para o local. Maycon é o último a sair, mas antes que chegasse ao veículo ele é surpreendido por alguém que toca em seu ombro. Após isso, como num passe de magica, Maycon desaparece.






John para a caminhonete próxima a uma velha igreja. Ele desce do veiculo, entra na capela e caminha até o altar.

— Será que estamos fazendo a coisa certa? — ele se pergunta enquanto observa a imagem do cristo crucificado. Uma imagem comum em todas as igrejas da cidade. — Sei que cometi muitos erros, mesmo assim gostaria de conversar um pouco com o Senhor.
— Não se preocupe — responde uma voz dentro da igreja. — Ele está te ouvindo.

John olha para trás e se depara com seu amigo Jack. Ele segurava um esfregão e um balde nas mãos.

— É você — responde John sem muito espanto. Pois já sabia do fascínio que o amigo tinha por igrejas.

Jack deixa o esfregão e o balde no chão e caminha na direção do amigo.

— Você parece aflito — ele diz ao se aproximar — O que houve?
— Não é nada. Você não entenderia.
— É por causa de seus filhos não é mesmo?

Embora John não pudesse explicar o verdadeiro motivo de sua angustia, seu amigo parecia compreender tudo que acontecia com ele.

John fica em silêncio por um momento. E após um suspiro ele se pronúncia.

— Ei Jack. Pode um traidor ser perdoado?
— Mas é claro que sim — ele responde com um sorriso. — Escolhas que fazemos podem ser vistas como traição para alguns. Mas para outros isso é um sinal de redenção. — Ele falava como se soubesse a verdade sobre o amigo.

John fica sem palavras e encara Jack com um ar de desconfiança.

— Quem é você afinal? 

pergunta John.
— Eu sou Jack Custer. Nada mais e nada menos. E acima de tudo eu sou seu amigo. Então, se deve fazer uma escolha, apenas siga seu coração.

Cronnos Entre Anjos e DemôniosOnde histórias criam vida. Descubra agora