Durante a noite Melinda teve pesadelos, tão obscuros quanto seus pensamentos.
Durante quase três semanas ela permaneceu longe das amigas, colégio, padrasto e até mesmo das lágrimas; gotas que antes escapavam com facilidade, e desde então não pousavam sobre as suas bochechas rosadas. A profundidade da saudade, por maior que fosse, não trazia à face este sentimento. Talvez porque não havia tristeza, porém havia a solidão, decepção, indignação e o ódio, que agora faziam papel de acompanhantes de Melinda.
A hora de seguir em frente era chegada, e por mais complicado que fosse voltar, ela teria de encarar os amigos, os inimigos e encarar a vida que a aguardava.
Cada pisar de suas botinas sob os pisos daqueles corredores desertos fazia ecoar o som de seus passos. Atrasada! A porta com as letras "ED15", escritas aleatoriamente, emitiu o som de um de seus punhos batendo na madeira: TOC! TOC! TOC! Enquanto esperava pensava em todos os desastres que podiam ocorrer no seu primeiro dia de volta, quando voltou de seu devaneio sentiu as mãos ficando geladas e ao mesmo tempo suarem.
A professora que lecionava era Adryenne Manchester - SOCIOLOGIA - e a recebia gentilmente com um sorriso, enquanto dizia:
- Olá! Bem-vinda de volta! Entre! Que bom que resolveu se juntar a nós!
Ela se sentou com o novo parceiro, o qual sequer conhecia, e respirou fundo afundando a cabeça sobre as mãos delicadas:
- Aaron Bennet. A pronúncia é Beneth! - Ela levantou a cabeça e virou o rosto para ele sem entender do que ele falava - Não me lembro do seu nome, imaginei que não soubesse o meu também. - Disse ele esclarecendo a situação.
- É você acertou! - Disse ela em um tom neutro e sem entusiasmo - Melinda, esse é meu nome.
- Agora eu me lembro! - Ele sorriu gentilmente percebendo que ela estava, de certa forma, perdida naquele meio e estava tentando se manter firme: sem corridas de volta para casa.
Depois de tudo que havia sido tomado de Melinda, o pior era aquilo que era oferecido: a pena direcionada a ela. Todos os "meus pêsames", sem deixar de lado os "eu sinto muito por sua mãe". Mas pelo menos algumas pessoas ainda diziam, enquanto outras só mantinham um olhar torto!
Por alguma razão Melinda se lembrou de Aaron Bennet, a única pessoa até agora que vinha mantendo a naturalidade. Não era visível nem um pouco da pena dos outros em seu olhar, pelo contrário, havia compreensão; ou, talvez ela estivesse imaginando muito e ele apenas não soubesse ainda.
Após as primeiras aulas ela foi se sentindo mais confortável com o ambiente e menos observada, também não se sentia normal mas resolveu ignorar, já que podia ser o buraco causado pela falta da mãe.
Durante o almoço a garota foi à procura de seus amigos, que mantiveram seus olhares de pena, exceto Leah! Leah Lockwood era a melhor amiga de Melinda, ela mantinha sempre o brilho no olhar e um sorriso no rosto, era a pessoa mais otimista do mundo. Porém, hoje ela vinha derramando lágrimas em busca de um abraço, que Melinda não negou.
Durante alguns segundos permaneceu o silêncio, até Leah resolver que precisava quebrá-lo:
- Escuta, eu não vou poder falar muito - disse ela checando os arredores - Como você está?!
- Levando ... o que é, vergonha de ser vista comigo?! - Disse Melinda acusando a garota.
- Não!!! - Respondeu a garota demonstrando a perplexidade em seus olhos marejados - Escuta, sei que você tem muito o que digerir, mas as meninas têm ignorado você por que descobriram como ela morreu. Eu pedi para te darem uma chance, mas a verdade é que... elas não querem lidar com você! Suicídio é algo delicado, enfim, você pode almoçar sozinha hoje?
Melinda não conseguia acreditar no que estava ouvindo, mas o pior era de quem estava ouvindo. O terrível incômodo que tinha começado desde cedo, causado pela pena contida no olhar das pessoas, agora crescia e se transformava em algo duro, amargo, frio e gélido. Ela agora sentia o ódio que aquelas palavras haviam lhe trazido, ódio tamanho que fez com que a garota levasse as mãos agressivamente ao rosto de Leah.
***
Um beijo e um queijo, o beijo com carinhos e o queijo com furinhos!!
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The Reign
FantasyESSE FOI O MEU PRIMEIRO LIVRO, DEIXO ELE AQUI POR APEGO EMOCIONAL, MAS É UM PROJETO DESCONTINUADO. Mel precisa lidar com a perda da mãe, a descoberta do primeiro amor, uma repentina síndrome do pânico e seus mais profundos segredos do passado. ...