Capítulo 10

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Daniel verificava todos os e-mails antes de sair da redação, torcendo para que Marvin não o encontrasse por ali. Caso contrário, um sermão seria quase certo. Então fez tudo na correria: passou os olhos pela caixa-postal, apagou os spams e marcou níveis de prioridades nas mensagens que restaram. Fechou o laptop e guardou-o na bolsa. Depois, pegou o elevador em direção a garagem.

Já era quase meio-dia e o estômago retorcido recordava que ainda não havia digerido nada. Interrompeu a descida para o subsolo apertando o botão do térreo. Visitaria a loja de conveniência mais próxima e depois iria para casa. Para quê, não sabia. Não havia nada a fazer. Alugaria alguns filmes e passaria o tempo assistindo-os, torcendo para que Marvin telefonasse dizendo: "Ei, Dan, consegui um contato com Nilla e ela está louca para voltar a falar com você!"

Alimentou-se de dois brioches e uma Coca-Cola. Foram suficientes para forrar o estômago.

Quando chegou ao caixa, Daniel puxou uma nota de cinquenta reais. A atendente atrás do balcão torceu a boca.

— Desculpe, mas não tenho troco. Não há mais nada que o senhor deseja?

Daniel se deu conta da constelação de guloseimas à venda em torno do caixa. Os dentes doeram só de pensar. Tirando isso, sobrava exatamente o que as pessoas costumavam encontrar em uma loja de conveniência: nada importante.

— Sinceramente, não — respondeu.

Colocou a mão no bolso. Já ia optar por utilizar o cartão do banco quando os dedos encontraram o Zippo.

— Espere... Você tem fluido para este tipo de isqueiro? — perguntou após sacar o objeto.

A mulher não titubeou. Surgiu com o fluido e se despediu, satisfeita por ficar com quase todo o dinheiro e livrando-se do troco.

Daniel se deu conta de que pedira aquilo por impulso. Não sabia do que se tratava o presente, mas pensou que um isqueiro funcionando não seria, de todo, inútil. No momento, pensava somente na chama. Talvez lhe fizesse bem ficar olhando o pavio sendo consumido. Bastava molhar o miolo sintético, girar a roda e pronto: satisfação garantida.

Ele abriu a tampa do Zippo e arrancou a caixa interna da capa de metal. Alguma coisa transpassou por entre seus dedos e caiu no balcão da loja.

O pequeno retângulo preto quicou duas vezes até parar.

Era um cartão de memória.

Daniel catou o objeto, estupefato. Sabia bem do que se tratava: um cartão minúsculo, menor que uma unha, removível e de última geração. Mas não sabia o motivo pelo qual estaria enfiado dentro de um isqueiro. A não ser que...

Então um arrepio percorreu toda a sua pele.

Aquele tipo de cartão de memória era utilizado em vários equipamentos e acessórios, tais como GPS, videogames portáteis, reprodutores de áudio e, em especial... máquinas fotográficas.

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