Capítulo 3

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Embora Andrea Radley tivesse obtido sua licença de esteticista um ano atrás e houvesse nove meses que trabalhava para Mabel, ela não era a melhor funcionária do salão. Costumava tirar dias de folga sem se dar o trabalho de avisar e, quando ia trabalhar, quase nunca era pontual. Também não era muito chegada a pentear e cortar cabelos, pelo menos não seguindo as instruções dos clientes. Não fazia diferença se eles lhe traziam uma foto ou lhe explicavam devagar e com clareza exatamente o que queriam, Andrea cortava os cabelos de todos eles da mesma maneira. Não que isso importasse. Ela já tinha quase o mesmo número de clientes que Julie, embora não admirasse que todos fossem homens.

Andrea era uma loura de 23 anos, pernas compridas e um eterno bronzeado que a fazia parecer ter vindo direto das praias da Califórnia, não da cidade montanhosa de Boone, na Carolina do Norte, onde fora criada. E ela se esforçava ao máximo para cultivar essa imagem: por mais que estivesse frio, sempre ia trabalhar de minissaia. No verão, combinava a peça com blusas curtas e justas, no inverno, com botas de couro de cano alto. Chamava todos os clientes de "meu bem", piscava seus cílios compridos e realçados com rímel e mascava chicletes sem parar. Julie e Mabel costumava rir dos olhares sonhadores dos homens ao verem o reflexo dela no espelho. Achavam que, se Andrea barbeasse acidentalmente a cabeça de um cliente, ele voltaria mesmo assim.

Apesar de sua aparência, Andrea era um pouco ingênua em relação aos homens. Acreditava saber o que eles queriam e na maioria das vezes estava certa. Mas não sabia mantê-los interessados. Nunca lhe ocorreu que sua aparência pudesse atrair os homens errados. Não tinha nenhuma dificuldade em marcar encontros com caras tatuados que dirigiam motos Harley Davidson, bêbados que frequentavam o Clipper ou sujeitos em liberdade condicional. mas não conseguia sair com homens que tinham empregos estáveis. Pelo menos era o que dizia a si mesma em suas crises de autopiedade. Na verdade, homens  honestos e trabalhadores a convidavam para sair, mas ela logo perdia o interesse neles e esquecia de que haviam convidado.

Nos últimos três meses, Andrea saíra com sete homens diferentes, o que contabilizava 31 tatuagens, seis Harleys, duas violações de condicional e nenhum emprego. Por isso, neste momento ela estava sentindo um pouco de pena de si mesma. No sábado, tivera que pagar o jantar e o cinema, porque seu acompanhante estava sem dinheiro. Ele ao menos tinha telefonado de manhã? Não, é claro que não. E não pensaria em ligar hoje. Os caras com quem ela saía nunca telefonavam, a menos que precisassem de dinheiro ou estivessem "um pouco solitários", como muitos deles gostavam de dizer.

Mas Richard havia telefonado para o salão esta manhã, perguntando por Julie. Pior: Julie provavelmente não tivera que pagar o jantar para que ele ligasse para ela. Por que Julie conseguia todos os homens bons?, perguntou-se Andrea. Não era por se vestir bem. Na maior parte do tempo ela era bem básica, com seus jeans e suéteres folgados e - para ser bem franca - sapatos feios. Julie não se esforçava muito para se produzir, não fazia as unhas e não se bronzeava, exceto no verão, o que qualquer um podia fazer. Então por que Richard havia ficado tão interessado nela? Ambas estavam lá na semana passada, quando ele entrou no salão para cortar os cabelos. Ambas tinham a agenda livre, o olharam e cumprimentaram ao mesmo tempo. Mas Richard tinha escolhido Julie, não ela, e de algum modo isso levara a um encontro. Andre franziu as sobrancelhas.

- Ai!

o grito a arrancou de seus devaneios. Andrea olhou para o reflexo de seu cliente no espelho. Era um advogado de 30 e poucos anos e estava esfregando a cabeça. Andrea tirou as mãos dele.

- o que foi, meu bem?

- Você espetou minha cabeça com a tesoura.

- Eu fiz isso?

- Sim. E doeu.

Os cílios de Andrea tremularam.

- Sinto muito, meu bem. Não tive a intenção de machucá-lo. Você não está zangado comigo, está?

O GuardiãoWhere stories live. Discover now