Na terça-feira seguinte, depois do trabalho - um dia ainda mais atribulado no salão, porque Andrea havia faltado e alguns de seus clientes pediram que Julie os atendesse -, Julie estava empurrando um carrinho devagar pelo corredor do supermercado, pegando o que era preciso para o jantar. Mike prometera cozinhar para ela e, embora a lista que ele havia feito não a empolgasse, estava disposta a lhe dar uma chance. Apesar de ele ter jurado que a comida ficaria boa, Julie não achava que algo que incluía batatas fritas e picles se qualificava como um jantar fino. Mas ele pareceu tão animado que ela não quis magoá-lo.
Quase no fim das compras, Julie percebeu que se esquecera de uma coisa. Estava examinando a seção dos temperos, tentando lembrar se Mike precisava de cebola picada ou temperada, quando sentiu o carrinho parar de repente ao esbarrar em alguém.
- Ah, desculpe-me - disse automaticamente. - Não vi você...
- Não faz mal... estou bem - respondeu o homem, virando-se.
Julie arregalou os olhos.
- Richard?
- Ah! Oi, Julie - respondeu ele em voz baixa. - Como vai?
- Bem. E você?
Julie não o via desde aquela manhã quando saíra de sua casa, e Richard parecia um pouco abatido.
- Indo - disse ele. Tem sido difícil. Tenho que cuidar de muitas coisas. Mas você sabe como é isso.
- Sim - disse ela. - Sei. A propósito, como está a sua mão?
- Melhor. Ainda dolorida, mas nada preocupante. - Então, como se apertar os dedos trouxesse de volta lembranças daquela noite, ele olhou para baixo. - Ouça, quero me desculpar de novo pelo que fiz semana passada. Eu não tinha direito de ficar tão zangado.
- Tudo bem.
- Também quero lhe agradecer mais uma vez por me ouvir. Poucas pessoas teriam feito o que você fez.
- Não fiz nada.
- Fez, sim - insistiu ele. - Não sei o que teria sido de mim sem você. Eu estava péssimo naquela noite.
Ela deu de ombros.
- Bem - disse Richard, como se tentasse descobrir o que falar a seguir. Ele acomodou a cesta de supermercado em seu braço. - Por favor, não me leve a mal, mas você está linda.
Disse isso como um amigo diria, sem segundas intenções, e ela sorriu.
- Obrigada.
Uma mulher vinha pelo corredor na direção deles, com um carrinho cheio. Julie e Richard chegaram para o lado para que ela passasse.
- Ouça, mais uma coisa sobre a outra noite - acrescentou Richard. - Acho que lhe devo algo por ter sido tão compreensiva comigo.
- Você não me deve nada.
- Ainda gostaria de demonstrar minha gratidão. Será que posso levá-la para jantar? Só como um modo de dizer obrigado.
Julie não respondeu imediatamente e, notando sua hesitação, Richard continuou:
- É só um jantar, nada mais. Não é um encontro. Eu juro.
Julie olhou para o lado e depois para ele de novo.
- Acho que não é uma boa ideia - disse. - Sinto muito.
- Tudo bem - respondeu Richard. Só pensei em convidá-la. - Ele sorriu.
- Então sem mágoas?
- Sem mágoas.
- Certo. - Richard deu um pequeno passo para longe dela. - Bem, ainda preciso comprar algumas coisas. Vejo você por aí?
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O Guardião
RomanceQuarenta dias após a morte de seu marido, Julie Barenson recebe uma encomenda deixada por ele. Dentro da caixa, encontra um filhote de cachorro dinamarquês e um bilhete no qual Jim promete que sempre cuidará dela. Quatro anos mais tarde, Julie j...