Julie deixou a porta se fechar atrás dela, ainda saboreando sua conversa com Mike. Mabela olhou da escrivaninha.
- Você ia se encontrar com Richard esta noite? - perguntou ela.
- Não. Por quê?
- Ele veio aqui e perguntou por você. Não o viu?
- Eu estava na oficina com Mike.
- Não o viu voltar para cá?
- Não.
- Isso é estranho - disse ela. - Devia tê-lo visto na rua. Quero dizer, ele saiu há poucos minutos e achei que tinha ido atrás de você.
- Acho que não. - Julie olhou de relance para a porta. - Ele disse o que queria?
- Na verdade, não. Só perguntou por você. Talvez ainda consiga alcançá-lo, se você se apressar.
Mabel ligou a secretária eletrônica e acabou de arrumar a escrivaninha, enquanto observava Julie tentando decidir se deveria ou não fazer isso. Quando o momento havia passado - e a decisão tinha sido tomada -, Mabel continuou como se não tivesse sugerido aquilo.
- Não sei quanto a você, mas eu estou exausta. Hoje todos os meus clientes reclamaram. Se não dos cabelos, dos filhos ou maridos, do novo pastor, de cães latindo ou de como os motoristas de outras cidades são loucos. Às vezes você só quer lhes falar para crescerem. Entende o que quero dizer?
Julie ainda estava pensando em Richard.
- Deve ser a lua cheia - murmurou ela. - Todo mundo estava um pouco estranho hoje.
- Até Mike?
- Não, ele não. - Julie fez um gesto com a mão, aliviada. - Mike é sempre o mesmo.
Mabel abriu a gaveta da escrivaninha e pegou um cantil.
- Bem, é hora de deixar os problemas de lado - anunciou. - Você me acompanha?
Mabel gostava de afastar os problemas regularmente, por isso tinha menos questões a resolver do que todas as pessoas que Julie conhecia.
- Sim. Vou trancar a porta.
Mabel tirou dois copos de plástico da gaveta e se instalou confortavelmente no sofá. Quando Julie se juntou a ela, Mabel já havia tirado os sapatos, posto os pés sobre a mesa e tomado alguns goles. Com os olhos fechados e a cabeça inclinada para trás, parecia achar que estava sentada em uma espreguiçadeira numa praia paradisíaca, deliciando-se ao sol dos trópicos.
- Então, o que Mike tem feito? - perguntou ela, de olhos ainda fechados. - Ele não tem vindo muito aqui.
- Nada de interessante. Trabalhando, brigando com o irmão, o de sempre. - Ela fez uma pausa e seu rosto se iluminou. - Ah, você soube que ele vai tocar no Clipper daqui a algumas semanas?
- Ah... viva! - A falta de entusiasmo de Mabel era evidente.
Julie riu.
- Não seja má. Dessa vez a banda é bastante boa.
- Isso não vai ajudar.
- Ele não é tão ruim assim.
Mabel sorriu antes de se aprumar no sofá.
- Ah, querida, sei que ele é seu amigo, mas, para mim, é como se fosse da família. Eu o vi de fraldas. Pode acreditar quando lhe digo que ele é muito ruim. Sei que isso também o deixa louco, porque é tudo o que ele sempre quis fazer. Mas como diz o livro sagrado: " Não atures os péssimos, porque eles arruinarão teus ouvidos".
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O Guardião
RomanceQuarenta dias após a morte de seu marido, Julie Barenson recebe uma encomenda deixada por ele. Dentro da caixa, encontra um filhote de cachorro dinamarquês e um bilhete no qual Jim promete que sempre cuidará dela. Quatro anos mais tarde, Julie j...