No sábado à noite, durante o jantar, Richard olhou para Julie, do outro lado da mesa, com um leve sorriso brincando em seus lábios.
- Por que você está sorrindo? - perguntou ela.
Richard pareceu voltar ao presente, com uma expressão encabulada.
- Desculpe. Eu só estava sonhado acordado por um segundo.
- Estou sendo tão entediante assim?
- De jeito nenhum. Só estou feliz por você estar comigo esta noite. - Levando o guardanapo ao canto da boca, ele a olhou. - Eu já disse que você está linda hoje?
- Um monte de vezes.
- Quer que eu pare de repetir?
- Não. Pode achar estranho, mas gosto que me coloquem num pedestal.
Richard riu.
- Farei o possível para mantê-lo nele.
Eles estavam no Pagini's, um restaurante aconchegante em Morehead City, com cheiro de temperos frescos e manteiga derretida. O tipo de lugar em que os funcionários vestiam uniformes preto e branco e a comida muitas vezes era preparada ao lado da mesa. Havia uma garrafa de chardonnay num balde de gelo sobre a mesa e o garçom lhe servira duas taças que produziam um brilho amarelo à luz suave. Richard havia aparecido à porta usando um paletó de linho, segurando um buquê de rosas e com um cheiro discreto de água-de-colônia.
- Então, como foi sua semana? - perguntou ele. - Que coisas empolgantes aconteceram na minha ausência?
- Quer dizer, no trabalho?
- No trabalho, na vida, no que for. Quero saber de tudo.
- Provavelmente eu é que deveria estar lhe fazendo esta pergunta.
- Por quê?
- Por que minha vida não é nem um pouco excitante - respondeu ela. - Trabalho num salão de beleza numa cidade pequena, lembra? - Julie disse isso de um modo alegre e bem humorado, não como se quisesse inspirar compaixão. - Além disso, acabei de perceber que não sei muito sobre você.
- É claro que sabe.
- Não sei, não. Você ainda não me falou muito sobre si mesmo. Nem sei direito o que faz.
- Mas eu não lhe disse que sou consultor?
- Sim, mas não entrou em detalhes.
- Porque meu trabalho é entediante.
Ela fingiu ceticismo, e Richard pensou por um momento.
- Está bem... o que eu faço... - Ele fez uma pausa. - Bem, trabalho nos bastidores, certificando-me de que nada desmorone.
- Isso não é entediante.
- É apenas um modo elegante de dizer que trabalho com números o dia inteiro. Nesse sentido, sou o que a maioria das pessoas considerariam um nerd.
Ela o olhou, pensando: duvido.
- A reunião era sobre isso?
- Que reunião?
- Aquela em Cleveland.
- Ah... não - respondeu ele, balançando a cabeça. - A empresa está com outro projeto, preparando-se para participar de uma licitação na Flórida, e há muita pesquisa para fazer: projeções de custos, estimativas de tráfego, cargas esperadas, esse tipo de coisa. Eles têm uma equipe própria, é claro, mas chamam consultores para se certificarem d que tudo estará de acordo com as normas governamentais. Você ficaria surpresa com a quantidade de trabalho a fazer antes de se iniciar um projeto. Sozinho, sou o responsável pela destruição de grandes áreas florestais só para produzir a papelada exigida pelo governo, e neste momento estou com pouco pessoal.
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O Guardião
RomanceQuarenta dias após a morte de seu marido, Julie Barenson recebe uma encomenda deixada por ele. Dentro da caixa, encontra um filhote de cachorro dinamarquês e um bilhete no qual Jim promete que sempre cuidará dela. Quatro anos mais tarde, Julie j...