Na escuridão de seu quarto, com uma forte dor de cabeça provocada por alergia, Julie atirou seu travesseiro sobressalente em Singer.
- Quer fazer o favor de calar a boca? - resmungou.
Singer ignorou o ataque. Em vez disso, ficou perto da porta do quarto ofegando e ganindo, obviamente esperando que Julie se levantasse e o deixasse sair para investigar, como só os cães sabem fazer. Na última hora ele havia ficado andando pela casa, do quarto para a sala de estar e de volta para o quarto, e mais de uma vez encostara o focinho molhado em Julie, assustando-a.
Ela pusera o travesseiro sobre a cabeça, mas isso não foi suficiente para bloquear o som e sua dor só aumentava.
- Não há nada lá fora - murmurou. - Estamos no meio da noite e minha cabeça está doendo. Não vou sair da cama.
Singer continuou a ganir. Não era um ganido sinistro, um rosnado nem o barulho que fazia quando os funcionários da companhia elétrica iam medir o consumo, ou quando o carteiro ia entregar a correspondência. Apenas um ganido irritante e alto demais para ser ignorado.
Ela atirou o último travesseiro nele. Singer se vingou atravessando o quarto silenciosamente e cutucando a orelha dela com o focinho.
Julie se sentou, limpando o ouvido com o dedo.
- Chega! Você venceu!
Singer abanou o rabo, parecendo satisfeito. Agora estamos nos entendendo. Venha! Ele trotou para fora do quarto, indicando o caminho.
- Ótimo! Quer que eu me certifique de que não há nada lá fora, cachorro maluco?
Julie esfregou as têmporas, gemeu, saiu da cama e cambaleou na direção da sala de estar. Singer já estava perto das janelas. Afastara as cortinas com o focinho e olhava de um lado para o outro.
Julie também olhou, mas não viu nada.
- Está vendo? Não há nada. Como falei.
Singer não se convenceu. Foi até a porta da frente e se posicionou diante dela.
- Se você for lá para fora, não pense que vou esperá-lo. Se sair, ficará lá. Vou voltar para a cama. Minha cabeça está doendo muito. Não que você se importe.
O cão não parecia se importar.
- Bom - disse ela. - Como você quiser.
Julie abriu a porta. Embora esperasse ver Singer correr na direção do bosque, ele não correu. Em vez disso, foi para a varanda e latiu duas vezes antes de abaixar o focinho parra farejar. Ela cruzou os braços e olhou ao redor.
Nada. Nenhum sinal de que alguém estivera ali. Exceto pelos sapos e grilos, tudo estava quieto. As folhas não se moviam; a rua estava vazia.
Satisfeito, Singer se virou para voltar para dentro.
- Está contente agora? Foi para isso que me tirou da cama?
Ele olhou para ela. A barra está limpa, parecia dizer. Não tem com o que se preocupar. Agora você pode voltar a dormir.
Ela o olhou de cara feia antes de voltar para o quarto. Singer não a seguiu. Quando ela olhou, por cima do ombro, a caminho da cama, viu-o sentado de novo perto da janela, com as cortinas afastadas.
- Não sei o que deu nele - murmurou.
No banheiro, com a cabeça ainda latejando, ela tomou um analgésico.
Uma hora depois, Singer recomeçou a rosnar e latir, dessa vez seriamente, mas Julie. - que havia fechado a porta do quarto e ligado o exaustor do banheiro - não o ouviu.
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O Guardião
RomansaQuarenta dias após a morte de seu marido, Julie Barenson recebe uma encomenda deixada por ele. Dentro da caixa, encontra um filhote de cachorro dinamarquês e um bilhete no qual Jim promete que sempre cuidará dela. Quatro anos mais tarde, Julie j...