Capítulo 13

22 0 0
                                    


Na escuridão de seu quarto, com uma forte dor de cabeça provocada por alergia, Julie atirou seu travesseiro sobressalente em Singer.

- Quer fazer o favor de calar a boca? - resmungou.

Singer ignorou o ataque. Em vez disso, ficou perto da porta do quarto ofegando e ganindo, obviamente esperando que Julie se levantasse e o deixasse sair para investigar, como só os cães sabem fazer. Na última hora ele havia ficado andando pela casa, do quarto para a sala de estar e de volta para o quarto, e mais de uma vez encostara o focinho molhado em Julie, assustando-a.

Ela pusera o travesseiro sobre a cabeça, mas isso não foi suficiente para bloquear o som e  sua dor só aumentava.

- Não há nada lá fora - murmurou. - Estamos no meio da noite e minha cabeça está doendo. Não vou sair da cama.

Singer continuou a ganir. Não era um ganido sinistro, um rosnado nem o barulho que fazia quando os funcionários da companhia elétrica iam medir o consumo, ou quando o carteiro ia entregar a correspondência. Apenas um ganido irritante e alto demais para ser ignorado.

Ela atirou o último travesseiro nele. Singer se vingou atravessando o quarto silenciosamente e cutucando a orelha dela com o focinho.

Julie se sentou, limpando o ouvido com o dedo.

- Chega! Você venceu!

Singer abanou o rabo, parecendo satisfeito. Agora estamos nos entendendo. Venha! Ele trotou para fora do quarto, indicando o caminho.

- Ótimo! Quer que eu me certifique de que não há nada lá fora, cachorro maluco?

Julie esfregou as têmporas, gemeu, saiu da cama e cambaleou na direção da sala de estar. Singer já estava perto das janelas. Afastara as cortinas com o focinho e olhava de um lado para o outro.

Julie também olhou, mas não viu nada.

- Está vendo? Não há nada. Como falei.

Singer não se convenceu. Foi até a porta da frente e se posicionou diante dela. 

- Se você for lá para fora, não pense que vou esperá-lo. Se sair, ficará lá. Vou voltar para a cama. Minha cabeça está doendo muito. Não que você se importe.

O cão não parecia se importar.

- Bom - disse ela. - Como você quiser.

Julie abriu a porta. Embora esperasse ver Singer correr na direção do bosque, ele não correu. Em vez disso, foi para a varanda e latiu duas vezes antes de abaixar o focinho parra farejar. Ela cruzou os braços e olhou ao redor.

Nada. Nenhum sinal de que alguém estivera ali. Exceto pelos sapos e grilos, tudo estava quieto. As folhas não se moviam; a rua estava vazia.

Satisfeito, Singer se virou para voltar para dentro.

- Está contente agora? Foi para isso que me tirou da cama?

Ele olhou para ela. A barra está limpa, parecia dizer. Não tem com o que se preocupar. Agora você pode voltar a dormir.

Ela o olhou de cara feia antes de voltar para o quarto. Singer não a seguiu. Quando ela olhou, por cima do ombro, a caminho da cama, viu-o sentado de novo perto da janela, com as cortinas afastadas.

- Não sei o que deu nele - murmurou.

No banheiro, com a cabeça ainda latejando, ela tomou um analgésico.

Uma hora depois, Singer recomeçou a rosnar e latir, dessa vez seriamente, mas Julie. - que havia fechado a porta do quarto e ligado o exaustor do banheiro - não o ouviu.

O GuardiãoWhere stories live. Discover now