the beggining.

211 9 9
                                    

Já passavam vinte minutos das onze e Camila continuava trancada no quarto, sentada à secretária a repetir os conteúdos para o teste de Biologia. Ela mesma sabia que devia ir deitar-se, pois na manhã seguinte teria que se levantar cedo, mas também sabia que aquele teste era muito importante e queria manter a nota do anterior. Não suportava a ideia de que poderia ter uma nota mais baixa, ela procurava sempre ser mais e melhor. E portanto, optou por ficar mais meia hora a rever alguns conceitos essenciais, ainda que estivesse um pouco sonolenta.

Camila era uma aluna exemplar e estudava num dos colégios mais caros e prestigiados do país. Gostava do sentimento de deixar os seus pais orgulhosos com os seus resultados tanto nas aulas como nas suas inúmeras atividades fora e dentro do colégio. Tinha um registo de faltas limpo, notas esplêndidas com média 19, e procurava sempre melhorar.

Praticava softball dentro do colégio e era uma das melhores da equipa, enquanto que, fora do colégio, se dedicava às aulas de música. Iniciou a guitarra aos seis anos, quando o seu avô lhe ofereceu a primeira guitarra no seu aniversário, e iniciou o piano um ano mais tarde. E pode dizer-se que ela era realmente apaixonada pelos instrumentos, mas o que mais gostava era definitivamente a guitarra. Tocava dia e noite se assim deixassem.

Além disto, e como fazia parte de uma família muito religiosa, todos os domingos acompanhava os pais e a irmã mais nova à igreja onde o seu pai era pastor, e ela realmente acreditava em todos aqueles milagres de que se falavam, afinal, ela tinha sido criada dentro desses valores.

Camila não era a típica rapariga de 18 anos que ia a festas até altas horas da noite, que bebia e fumava só para se integrar num grupo e acabava viciada, ou que beijava qualquer rapaz que lhe aparecesse à frente desde que fosse atraente. Muito pelo contrário, ela orgulhava-se de ser uma boa rapariga, pura e inocente, e acreditava que algum dia iria assentar e criar família com o seu atual namorado, Shawn. O mesmo era também de muito boas famílias e frequentava a mesma igreja onde o pai da Camila era pastor, e logo isso os aproximou. Ela orgulhava-se das suas escolhas. Shawn era um bom rapaz e respeitava-a. E Camila realmente tinha esperança num futuro com ele.

- Querida, já é tarde. Devias ir descansar. - a sua mãe disse-lhe, olhando-a com um sorriso que refletia todo o orgulho que tinha na sua filha.

- Estou mesmo a acabar, não te preocupes mãe. - sorriu gentilmente, e Sinu caminhou até ela, colocando o braço direito em volta dos ombros da filha.

- Tenho a certeza de que te vais dar muito bem, filha. - assegurou-lhe.

- Estou confiante, de facto. - sorriu, fechando o livro e arrumou-o junto dos outros dentro da mochila. - E reconheço que preciso de descansar, por isso é exatamente o que vou fazer agora.

- Uma boa noite, querida. - inclinou-se para lhe beijar a face e Camila retribuiu o gesto, esperando que a mãe saísse para ir fazer a sua higiene e vestir uma roupa mais confortável para dormir.

Acomodou-se dentro dos lençóis, vestindo uma camisola do namorado, enquanto revia os seus compromissos do dia seguinte, anotados no telemóvel. Suspirou em frustração e pousou o telemóvel na mesa-de-cabeceira, junto com os seus óculos de descanso. Começava a ser um pouco desgastante, ou talvez entediante. Há imenso tempo que o seu único objetivo e foco eram os estudos, e como ela se queria tornar uma boa médica, deixar os seus pais orgulhosos e dar um bom exemplo à sua irmã mais nova, Sofia.

Mas ela sentia que parte dela estava vazia. Faltava-lhe alguma coisa. E todas as noites antes de dormir ela perguntava-se o que seria. Afinal, tinha dinheiro, uma família e um namorado que a apoiavam e amavam incondicionalmente, notas excelentes, era bonita... o que lhe podia faltar?

Era nestas alturas que Camila se sentia egoísta, ou até um pouco tonta. Parecia que se estava a queixar, quando na realidade ela não tinha nada por que o fazer.

Nessa noite, a Camila apercebeu-se de que talvez tenha encontrado a resposta à sua pergunta.

Talvez ela só quisesse sair da rotina.

Ela estava habituada a ter tudo o que queria e quando queria com imensa facilidade.

Talvez ela só quisesse algo por que lutar.

E ela teve realmente isso. 

Suffocated | camrenOnde histórias criam vida. Descubra agora