Sufocada (adj.f.): que não pode nem consegue falar com clareza.
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-Camila-
118 dias antes.
Passei a noite a remexer-me entre os lençóis sem conseguir adormecer. Estava a tornar-se realmente frustrante porque eu não conseguia sequer fechar os olhos. Eu tentava. Tentei todas as posições possíveis, pus mais uma almofada na cama, mais cobertores, até estar exageradamente quente e confortável, mas nada parecia resultar.
- Raios. - reclamei entre as quatro paredes que me rodeavam e rodei o corpo num solavanco para olhar o relógio na mesa de cabeceira. Faltavam poucos minutos para as quatro da manhã e, muito honestamente, eu ainda não tinha dormido mais do que uma hora, e mesmo assim estava constantemente a acordar.
Apoiei-me nos cotovelos para me ajudar a sentar-me no colchão e olhei a janela entreaberta que deixava entrar a brisa da noite para dentro do quarto, fazendo as cortinas balançarem entre elas, criando um efeito de ondas delicadas com o tecido. A noite estava demasiado iluminada para o que era costume. Deduzi que fosse noite de lua cheia e nessas noites, por alguma razão, eu tinha realmente problemas em dormir. Podia ser apenas uma mania minha, mas comecei a convencer-me disso quando todas essas noites eram as mais difíceis para mim.
Acabei por me render às insónias e levantei-me a muito custo da cama, vestindo o robe pousado no fundo do colchão, e caminhei até à janela para correr as cortinas e abrir mais um pouco a janela. Debrucei-me sobre as grades da varanda e acariciei com a ponta dos dedos as pétalas das flores vermelhas no parapeito. Senti os meus lábios tremerem quando um sorriso me escapou ao lembrar-me da Lauren. Ela usou batom vermelho hoje. A minha mãe sempre me disse que lábios vermelhos mentem.
Além disso, a minha mãe provavelmente (ou certamente) iria fazer de tudo para que eu me afastasse da Lauren se sequer sonhasse que eu falo com ela. Mais ainda se soubesse que eu tinha faltado ao treino para ir passear com ela. Céus, se o treinador lhe contasse eu estava tão encrencada! Mas honestamente, eu não me importava.
Hoje eu vi uma faceta da Lauren que eu não imaginava. Na realidade, aquela rapariga que todos pensam conhecer à primeira vista não é a mesma com quem eu estive hoje. Acho que até me fez rir um pouco a forma como ela tenta sempre manter a sua faceta durona, a forma como ela quer se mostrar sem sentimentos. Eu acho que ela pensa que pode atingir um estado de espírito em que nada vai ser capaz de a afetar. Como se ela criasse um escudo ao afastar toda a gente à sua volta ou simplesmente por tentar parecer intimidante. E ela é, na verdade. Ela é totalmente fora da minha zona de conforto, mas talvez seja isso que me fez ter tanta curiosidade.
Ao vê-la no museu e presenciar a atenção dela com os pormenores, apesar do claro sentimento de desconforto naquele ambiente, eu percebi que tem que haver algo mais.
Eu só não fazia ideia no que me estava a meter.
- Kaki? - ouvi a minha irmã chamar-me à porta do meu quarto, a esfregar os olhos com a manga da camisola enquanto bocejava. Vestia uma camisa de dormir comprida e com os pés descalços enquanto arrastava o coelho de peluche pela orelha.
- O que fazes aqui, Sofi? - sorri-lhe enquanto caminhava de volta para o quarto e fechava a janela. Peguei a minha irmã ao colo e ela deu uma gargalhada baixinha enquanto se aninhava entre o aperto dos meus braços e deitava a cabeça no meu ombro. - Vamos dormir, anjinho. - sussurrei, vendo que a pequena já estava a adormecer e voltei a entrar dentro dos cobertores, sem nunca a largar.
Passeei os dedos pelos caracóis do cabelo dela e beijei-lhe o topo da cabeça, sentindo o cheiro leve a morango dos seus cabelos. Só assim consegui voltar a adormecer.
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Suffocated | camren
Fiksi PenggemarCamila amava Lauren, mas Lauren amava as drogas. Afinal, quantos significados pode ter a palavra sufocada e continuar a fazer sentido?