chapter 10

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Sufocada (adj.f.): rodeada de más recordações.

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-Lauren-

117 dias antes.

Após ter deixado a Camila em casa, permaneci escondida perto do portão ainda alguns minutos, só para ter a certeza de que ela conseguia entrar novamente em casa. Ri-me baixinho pela forma como ela se atrapalhava a subir por ter os cordões dos sapatos desapertados, e a cara de frustração dela quando finalmente conseguiu alcançar a janela mas não tinha força suficiente para a abrir só com uma mão, visto que não podia soltar a outra por estar apoiada nas grades. Felizmente, à terceira tentativa, ela finalmente conseguiu entrar dentro do quarto e eu retomei o meu caminho para casa.

Durante todo o caminho eu não consegui parar de pensar no que fiz à pobre rapariga. A inocência e genuinidade dela fez-me ter medo de lhe contar uma mentira daquelas. Mas mesmo assim, eu sabia que o tinha de fazer, e foi mais fácil do que eu pensava fazê-la dar-me o dinheiro.

Além disso, a certa altura, houve tensão sexual entre nós. Ou pelo menos, qualquer um diria que sim. Estávamos tão perto de nos beijar e ela não se deu conta nem por um segundo. A inocência dela deixou-me cada vez mais excitada e a desejá-la ainda mais, mas eu simplesmente não tive coragem de nada. Eu nunca me preocupei com os sentimentos de ninguém desta forma, e isso assusta-me. Não é suposto eu apegar-me. Não é suposto desejá-la.

O carinho e atenção da Camila, e a forma como ela não suspeitou das minhas segundas intenções um minuto sequer, fez-me sentir pena dela. Mas nem isso me ia fazer desistir do plano. As drogas vinham primeiro do que qualquer rapariga, e eu não podia deixar-me envolver.

Quando cheguei a casa as luzes já estavam apagadas em todo o apartamento e a Keana já dormia no sofá, por isso deduzi que já todos estivessem a dormir. Descalcei-me e lancei as botas algures ao lado do amontoado de sapatos que se acumulava na entrada e ao longo do corredor, caminhando descalça até à cozinha para beber alguma coisa antes de me deitar.

Debrucei-me para tirar o leite do frigorífico e bebi diretamente do pacote, sentando-me sobre a bancada da cozinha enquanto observava a Keana a dormir tranquilamente no sofá.

- Chegaste tarde. - ouvi a voz rouca do Brad, ainda que não conseguisse vê-lo no escuro, e dei um pulo na bancada ao engasgar-me com o susto.

- Merda, Brad! - sussurrei enquanto tossia e limpava com a manga da camisola o leite que me escorreu pelo canto da boca. - Que estás a fazer acordado?!

- À tua espera.

- Agora controlas as horas a que chego a casa? Não achas isso um bocadinho ridículo?

- Só queria ter a certeza de que ainda vinhas dormir a casa. - disse, fazendo-me soltar uma gargalhada irónica, enquanto o via retirar uma cerveja do frigorífico e a beber de um só trago.

- Não devias beber a esta hora. - falei com desdém, afinal, eu não me importava minimamente, só queria acabar com aquela conversa.

Saltei para o chão para voltar a arrumar o pacote de leite no frigorífico e bocejei.

- Faz o que quiseres, eu vou me deitar.

Virei costas e continuei o meu caminho até ao armário do quarto da Lucy e da Vero, tendo cuidado para não as acordar, e retirei alguns cobertores e uma almofada para ir dormir no chão da sala. Preferia dormir no chão todas as noites do que dormir ao lado daquele nojento.

- Lauren, espera! - puxou-me o braço, fazendo-me virar para ele num ápice.

- O que estás a fazer?! Merda, Brad! Vais acordá-las! Para! - sussurrei, ainda que num tom autoritário, ao ver a Lucy se remexer algumas vezes na cama enquanto o Brad tentava arrumar os cobertores de volta no armário. Felizmente, consegui puxá-los de volta.

Suffocated | camrenOnde histórias criam vida. Descubra agora