chapter 16

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Sufocada (adj.f.): quando sentes a consciência pesada.

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-Camila-

91 dias antes.

- Tens a certeza de que não há problema em ficares sozinha, querida? - a minha mãe perguntou pela terceira vez, enquanto o meu pai ajudava a Sofi a calçar-se à entrada de casa. - O pai e a Sofi podem ir sem mim à igreja.

O meu pai olhou-me com uma expressão de súplica, quase a implorar-me para que a fizesse ficar, e eu acabei por rir, não só pela brincadeira do meu pai, mas também pela expressão confusa da minha mãe quando se voltou para trás sem entender o que se passava, visto que o meu pai foi rápido o suficiente para disfarçar o sucedido.

- Sí, mamá. - repeti, também pela terceira vez, e abracei-a ao mesmo tempo que a encaminhava para a porta. - Eu só preciso mesmo de dormir um pouco. O treino foi intenso, estou exausta e cheia de dores. - lamentei-me, acabando por rir novamente ao ver o meu pai carregar a Sofi às costas para dentro do carro. Era nestas alturas que eu me sentia realmente agradecida pela família que tinha, sempre presente, preocupada e unida.

O meu pai acabou por ter que arrastar também a minha mãe até ao carro, antes que ela decidisse realmente ficar.

- Descansa, mi hija. - o meu pai depositou um beijo na minha testa e eu sorri, vendo-o caminhar novamente para o carro.

Acho que o meu pai só não carregou a minha mãe também às costas porque eles já estavam um pouco atrasados e o caminho ainda era longo. Eu admirava o meu pai por ser o tipo de marido que, após tantos anos de casamento, não tinha deixado que a relação com a minha mãe se tornasse monótona ou convencional. Eu acho que sempre senti entre os meus pais a ideia de um namoro eterno, em que todos os dias se pareciam apaixonar ainda mais e se conquistar um ao outro. Eu queria isso para mim um dia.

Quando tive a certeza de que eles já estavam longe, voltei para dentro e olhei imediatamente para o enorme relógio de madeira da sala, ficando aliviada por ainda ter alguns minutos para me arranjar até a Lauren aparecer.

O mais difícil nisto tudo seria sair de casa e voltar sem que a nossa empregada reparasse. Se ela me apanhasse, era o meu fim, porque ela iria com certeza contar aos meus pais. Eu estava a arriscar demasiado.

Enquanto via os minutos passarem e a hora se aproximar, o meu estômago contorcia-se cada vez mais e a minha consciência ficava ainda mais pesada. Eu nunca tinha mentido aos meus pais, fosse no que fosse. Eu considerava isso impensável, porém, era tudo o que eu lhes estava a fazer ultimamente, ou pelo menos desde que conheci a Lauren, e eles acreditavam sem questionar. Quem era esta rapariga afinal? E o que é que ela me estava a fazer?

Respirei fundo e terminei de pentear o cabelo em frente ao espelho. Levantei-me finalmente e fui até ao corredor principal para avisar a Grace (a nossa empregada) que me iria deitar e não queria ser incomodada até que os meus pais chegassem. Talvez assim ela não estivesse tentada a entrar no meu quarto ou algo do género. Ainda assim, tranquei a porta do lado de dentro e aventurei-me novamente a descer pela janela do meu quarto. Fui mais ágil desta vez, visto que já se tinha tornado hábito ter que me escapulir pela janela para poder encontrar a Lauren.

Rapidamente identifiquei os longos cabelos pretos da rapariga sentada em cima da vedação do meu jardim. Ela olhava na direção oposta à minha janela e tateava calmamente a madeira da vedação. Parecia preocupada, mas não sei se adiantaria muito perguntar-lhe o que se passava, de modo que me limitei a aproximar-me dela e tocar-lhe o ombro suavemente.

Suffocated | camrenOnde histórias criam vida. Descubra agora