chapter 3

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1 ano depois.

Promessas.

Cresci rodeada delas. Desde a promessa de que iria ter uma bicicleta no meu oitavo aniversário, até à promessa de que a minha mãe iria voltar.

Eu achava que promessas eram para ser cumpridas, então eu acreditei sempre e sem questionar. Porém, todas as promessas que me foram feitas, foram quebradas. E por isso eu ia ficando quebrada também, principalmente pelas promessas de amor. Essas são as piores.

Eu quebrei muitas promessas. As pessoas quebraram promessas que me fizeram. Todas as promessas pareceram ser quebradas.

Mas a dela não. Ela prometeu ficar até ao fim, e ficou. Mas eu não.

Eu não podia ficar. Eu expliquei-lhe que não podia ficar. Mas ela achou que eu ia ficar, porque achou que eu me iria curar.

Eu não me curei. Não nessa altura. Só mais tarde quando fiquei longe dela. Longe de todos. Mas especialmente dela.

Ela foi a minha única promessa cumprida. A melhor promessa de amor que eu já tive. E, honestamente, eu gostava de ter cumprido a minha parte também. Talvez as coisas tivessem resultado bem para nós se eu o tivesse feito. Ou se eu não estivesse tão apaixonada. Não por ela. Não por outra rapariga. Pela droga. Talvez se eu tivesse amado a Camila mais do que amei as drogas, talvez as coisas tivessem resultado para nós. Mas eu não amei. Eu não a amei como ela merecia.

Quando a conheci, eu estava no pior estado que possam imaginar. Eu estava recheada de promessas quebradas e vazias. E eu parecia não querer me curar delas. Então a cada amo-te que ela dizia, eu não acreditava. Eu simplesmente não conseguia acreditar nisso. Eu temia imenso essa promessa. Porque o que me aconteceria se ela fosse embora? Eu já estava apaixonada. E amar sozinha não estava nos meus planos. Amar sozinha é doloroso. Amar sozinha é a pior das promessas. É a promessa nula ou inexistente, porque acreditas num amor que a outra pessoa na realidade não te está a dar. Mas acreditas. E ela amou sozinha. Eu admiro-a por ter aceite essa minha promessa. Porque a única coisa que eu sempre lhe prometi, era que iria embora um dia. E eu fui.

O meu nome é Lauren, e para ser sincera, depois de quase ter morrido de overdose, eu fico surpreendida por ainda sequer saber pronunciar o meu nome.

Eu queria ter começado desde o início, mas eu não sei bem se realmente houve um início para esta história antes da Camila.

Quando eu era mais nova, eu costumava ficar acordada até tarde para ver o céu negro, iluminado pelos milhões de estrelas dispersos pelo mesmo e pela Lua. Eu esperava todos os dias até às três da manhã e debruçava-me na janela a olhar fixamente aquele maravilhoso quadro. Todas as noites eu via algo diferente e mais bonito. Todas as noites um novo pormenor. Todas as noites algo que me fazia amar ainda mais aquele espetáculo estrelado. E o mesmo aconteceu com a Camila. Todas as noites eu fingia dormir primeiro que ela, mas eu na realidade ficava acordada até tarde a vê-la dormir. O rosto sereno dela e a forma como a luz fraca da noite que entrava pelas frechas da janela iluminava os seus traços femininos e latinos. Os cabelos castanhos encaracolados caídos sobre a almofada, as mãos geladas sobre o colchão que procuravam sempre as minhas, e principalmente a respiração calma dela, tudo isso me fascinava. Ela era a rapariga mais bonita que eu já tinha visto. E todas as noites eu me apaixonava um pouco mais. Eu apenas não queria. E eu acabei por magoá-la muito.

A minha história com a Camila teve muitas reviravoltas inesperadas. Altos e baixos. Mas principalmente baixos. É triste pensar que tenha sido assim. É triste pensar que eu fui tão fraca. Fui? Talvez eu ainda seja. Eu ainda penso nela. Depois de todos estes anos eu ainda penso nela. A Camila foi realmente o meu único amor, e foi a única promessa que eu me arrependo de ter quebrado. Mas mais importante, ela foi a única que nunca duvidou de mim, e ela manteve a sua promessa. Ela não era como os outros.

Porque é que eu fui fraca?
Como é que eu tive sequer coragem de a arrastar para isto?

Hoje eu percebo o quanto errei. Hoje eu arrependo-me dos motivos que me levaram a aproximar-me dela. E quando naquele momento eu não queria nada, ou estava convencida de que não queria, hoje eu queria tudo de volta. Hoje eu quero-a de volta.

Porque é que eu nunca disse que a amava?
Porque é que eu nunca quis acreditar que o que sentia era real?

Promessas. Elas fizeram-me ter medo.

E se o "amo-te" dela fosse mais uma promessa vazia? Eu não sabia como suportar isso. Mas talvez eu tenha sido tola por não tentar. Eu podia ter sido tudo por ela, eu teria lhe dado tudo, mas eu estava tão mal... A minha cabeça não pensava em mais nada, apenas na droga. Céus, como eu precisava dela! Eu amei mais a droga do que aquela rapariga. Céus, como eu me arrependo!

Porque é que eu não a deixei salvar-me?
Porque é que eu a arrastei para isto?

Eu nunca devia ter aceite a proposta daquele nojento, mas eu estava demasiado desesperada. Eu já não injetava há semanas. Eu sentia o meu corpo enfraquecer a cada minuto que passava, era difícil respirar, mover-me era quase impossível. Todo o meu corpo parecia degradar-se com o tempo. Eu estava completamente viciada.

Eu nunca a devia ter procurado, porque foi aí que tudo começou. Até chegar o dia em que eu tive que a abandonar, mais uma vez.

***
"Se me amas, deixa as drogas. Deixa-as e fica comigo. Tu podes escolher, Lauren! Porque é que não consegues fazer isso por mim?"

Ela tinha razão, eu podia. Mas eu não a escolhi. E foi aí que eu quebrei a minha promessa.

E perguntaram-me como seria se eu pudesse voltar atrás...

... Mas eu sei que teria cometido o mesmo erro ao arrastá-la para isto e depois ao deixá-la.

"Porque se calhar eu não te amo, Camila."

Mas eu amava. E eu sei que não a mereço. Mas eu sei que ainda a quero. E hoje eu sei que ainda a amo.

É tarde, Camz?

Suffocated | camrenOnde histórias criam vida. Descubra agora