Sufocada (adj.f.): que se sente presa.
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-Lauren-
113 dias antes.
Senti-me mal por ter deixado a Camila daquela forma mas eu não estava a conseguir pensar direito. Não percebia porque é que tudo isto estava acontecer. Como é que eu a tinha convencido tão bem? Eu simplesmente não entendia.
Permaneci quieta encostada à porta das traseiras do restaurante, enquanto todos os meus colegas continuavam as suas tarefas. Era um dia agitado pois tínhamos imensas reservas, e o meu intervalo já tinha terminado há mais de dez minutos mas eu simplesmente não conseguia pensar em mais nada. Agarrei fortemente as caixas de medicamentos nas minhas mãos e mordi o lábio nervosa. Eu ia sem dinheiro para casa, mais uma vez.
Por um lado, eu estava em pânico só de pensar no que o Brad faria quando eu chegasse a casa, mais uma vez de mãos vazias, e o tempo a continuar a contar. Nós tínhamos que cobrir a dívida o mais depressa possível, e era impossível fazê-lo quando, neste momento, o meu salário era praticamente o único dinheiro que entrava naquela casa.
Por outro lado, eu admirava a bondade da Camila. Surpreendeu-me o facto que ela comprou medicamentos, aparentemente tão caros, só porque eu disse que precisava. Ela mal me conhecia. Aliás, ela não me conhecia de todo, e mesmo assim fez aquilo por mim. A inocência e a bondade dela transpareceram facilmente no momento em que ela me entregou os medicamentos na mão. O sorriso dela mostrava o quanto ela se preocupava, e isso assustava-me. Eu não queria pensar no que lhe poderia acontecer se ela se envolvesse demasiado. E se ela descobrisse tudo? Ia partir-lhe o coração. Mas eu não devia importar-me, afinal... eu só queria o dinheiro dela. Mais nada. É isso, mais nada.
Sem conseguir dar um motivo suficientemente bom, ou uma desculpa completamente credível, pedi ao meu patrão que me dispensasse mais cedo, e mesmo com a casa cheia e a precisar de toda a ajuda possível, ele deixou-me ir. Pendurei o avental no cabide atrás da porta principal da cozinha e atirei as caixas dos medicamentos para dentro da mala enquanto a colocava ao ombro. Apressei-me a vestir o casaco e a soltar o cabelo, enquanto desaparecia pela porta das traseiras do restaurante.
Assim que cheguei a casa, estremeci ao ver um Zenvo ST1 branco estacionado mesmo em frente do nosso prédio. Engoli em seco e senti as palmas das mãos suarem só de pensar na hipótese do Félix estar lá dentro neste momento a pedir uma parte da quantia que lhe devíamos. Olhei para cima e vi todas as luzes do apartamento acesas, e ainda que estivesse já a escurecer, consegui reconhecer a silhueta da rapariga na janela. Keana. Tirei o telemóvel rapidamente da mala e digitei com dificuldade. Eu só queria ter a certeza de que era seguro subir.
--Ele está aí?
[06:30pm]
Keana-- Não. Um sócio dele.
[06:31pm]
Respirei fundo, ainda que não estivesse completamente aliviada nem segura, mas mesmo assim subi. Ouvi passos pesados a descer as escadas assim que entrei dentro do prédio, a meio de um balbuciar que não me deixou entender nada do que se conversava ainda à porta do apartamento, e assim que a porta bateu escondi-me no quarto de arrumações no rés-do-chão, deixando a porta um pouco aberta para conseguir ver quem era esse tal "sócio".
O rapaz aparentava ser novo. Alto e moreno, pareceu-me ter barba mas não posso dar certezas. Algumas tatuagens nos braços e um estilo de roupa descontraído mas reles. Alguma coisa me dizia que eu já o tinha visto antes, mas quando tentei abrir mais a porta para o poder ver melhor e saber com que tipo de possível ameaça estávamos a lidar, ele encostou-se a um canto do hall, e por pouco não notou que eu ali estava.
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Suffocated | camren
FanfictionCamila amava Lauren, mas Lauren amava as drogas. Afinal, quantos significados pode ter a palavra sufocada e continuar a fazer sentido?