chapter 18

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Sufocada (adj.f.): apaixonada.

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-Camila-

90 dias antes.

Na manhã seguinte, quando acordei, já a Lauren se tinha ido embora. O lado dela da cama ainda estava morno, sinal de que ela tinha saído há relativamente pouco tempo. A almofada e os lençóis estavam tão delicadamente esticados que seria quase impossível dizer que alguém tinha passado ali a noite. Suspirei desanimada, pois estava à espera de acordar e ainda a ter ao meu lado, porém, isso não aconteceu. Por momentos ainda me passou pela cabeça que eu talvez tivesse sonhado tudo aquilo, mas as minhas dúvidas foram esclarecidas quando, ao debruçar-me sobre a almofada, senti o perfume intenso da Lauren por toda a extensão do tecido.

Segurei a almofada contra o peito durante alguns segundos, perguntando-me onde estaria ela agora, se estaria bem, e porque motivo teria precisado de passar aqui a noite. Talvez a pergunta mais importante seria: e porquê eu? Porque motivo teria recorrido a mim nesta altura? De qualquer forma, eu tinha a certeza de que a encontraria mais tarde, e obteria as minhas respostas.

Levantei-me, surpreendentemente desperta para o que era habitual, e caminhei até à janela aberta perto da cama. A brisa suave de primavera entrava pelas fibras dos cortinados que esvoaçavam calmamente ao mesmo ritmo. Sentei-me no parapeito e sorri involuntariamente ao lembrar-me, não só das vezes em que quase arrisquei a vida a descer pela janela para ir ter com a Lauren, mas também da noite passada, em que ela a subiu para vir ter comigo.

Eu gostava de conseguir colocar em palavras o que realmente sentia pela Lauren, mas às vezes apercebia-me que não era apenas o que eu sentia por ela, mas também o que eu sentia com ela, que me continuava a prender. Acho que era mesmo isso, eu estava presa. Presa a sentimentos que nem eu sabia decifrar. Presa a ela e à necessidade de a ter perto. E isso era errado de tantas maneiras.

- Camila? Querida? Estás acordada? - ouvi a minha mãe chamar do outro lado da porta, tentando rodar a maçaneta para a abrir, mas sem sucesso. - Porque tens a porta trancada? Está tudo bem?

- Desço já! - limitei-me a dizer, esperando que isso fosse suficiente e que não tivesse realmente que justificar o facto da porta estar trancada. Saltei do parapeito, gemendo quando voltei a pousar os pés no chão e os senti completamente gelados.

Fechei a janela e puxei as cortinas para os lados, deixando o sol iluminar o quarto. Peguei no primeiro conjunto que vi no armário, dando-me conta que já estava atrasada, e apressei-me a vestir-me, penteando o cabelo a caminho da cozinha.

- Buenos días! - sorri e depositei um rápido beijo na bochecha da minha mãe e da minha irmãzinha, que comia os seus cereais à mesa. O meu pai, como era de esperar, já tinha saído há, pelo menos, uma hora atrás. - Ainda por aqui, mãe?

- Qual é o motivo de tanto espanto? - perguntou confusa enquanto me estendia o cesto do pão e eu me sentava apressadamente à mesa, colocando o guardanapo de pano no colo.

- Só achei que a esta hora já estarias na empresa. - respondi, segurando o cesto. - É pouco comum ver-te em casa depois das oito.

- O teu pai disse que me substituía hoje. - explicou, limpando gentilmente a boca com o guardanapo. - Assim, eu tenho a oportunidade inédita de tomar o pequeno almoço com as minhas filhas e acompanhá-las à escola. - sorriu, quase emocionada até.

Era um facto que os meus pais raramente estavam em casa a não ser à noite, e eu até já me tinha acostumado a preparar a Sofi sozinha de manhã e a deixá-la na escola, mas era realmente reconfortante ter a minha mãe por perto.

Suffocated | camrenOnde histórias criam vida. Descubra agora