chapter 4

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Sufocada (adj.f.): quando há algo do qual não te consegues libertar.

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-Lauren-

126 dias antes.

Depois de um longo dia de trabalho chegar a casa e enfiar-me na cama era quase como o paraíso na terra para mim. Eu realmente não queria pensar em mais nada a não ser que em poucos minutos estaria de volta ao conforto da minha casa. Bem, não era assim tão confortável. Um T2 para dividir entre cinco pessoas não era definitivamente confortável, e muitas das vezes era barulhento, mal cheiroso e, sendo muito honesta, era no mínimo nojento. Cinco pessoas a partilharem a mesma casa de banho originava a loucura todas as manhãs, mas todos nós realmente precisávamos de sair do sufoco em que estávamos antes. Cinco personalidades diferentes e fortes também eram um problema. Mas não era sempre tudo mau. Até aquela pocilga era melhor do que o sítio de onde cada um veio, e por isso havia certas coisas com as quais até nos habituámos a lidar todos os dias.

No caminho para casa tinha sempre tempo para pensar no quanto a minha vida mudou drasticamente em apenas meses. Assim que completei os meus dezanove anos pude finalmente libertar-me do pesadelo em que vivia, mas vi-me reduzida a pouco, quase nada. As noites frias a dormir na rua fizeram-me pensar em voltar atrás, mas eu nunca voltei. Eu não podia.

Aguentei dois meses a dormir enrolada em mantas velhas atrás de um caixote do lixo perdido num beco onde já ninguém passava. Mas foi aí que o encontrei. Conheci o Brad por mero acaso, e ainda hoje me pergunto se a nossa ligação chegou a ser algo mais além da pena que ele sentia de mim. Talvez ele apenas tivesse sentido a minha dor, afinal, ele passou pelo mesmo. Ser expulso de casa pelos próprios pais deixa sempre algum tipo de marca, e eu acho que ele me admirava por ter sido eu própria a querer sair.

Seja como for, entendemos-nos muito bem desde o início. Eu era a rapariga suja e imunda que precisava de um lugar para dormir, e ele era o típico rapaz que só precisava de uma boa foda. Isso eu realmente sempre fui capaz de lhe dar. Em troca, ele deixou-me ficar na cave onde ele estava alojado na altura e eu pude começar a orientar a minha vida. O Brad comprou-me algumas roupas, perfume, sapatos, e eu comecei a procurar emprego mas sempre sem sucesso. Talvez eu na altura estivesse a duvidar tanto da minha (pouca) sorte que não procurei nos sítios certos, e de facto demorou até eu realmente conseguir o emprego que hoje tanto preservo no restaurante de Gerard, e até isso eu acho que foi apenas sorte. E não foi Deus que ma deu, com certeza. Fui muitas vezes chamada de filha do Diabo e a cada dia que passa acredito mais nisso e já nem me importa.

Vivemos mais três meses nisto: "queres casa? Então fode-me.", e assim era. Mas para não perder a graça, e até porque eu estava completamente iludida e me deixei levar pela única pessoa que na altura realmente se importava com o meu bem-estar, apelidámos esta nossa relação estranha de "namoro". Porém, nunca nos amámos. Isso foi a maior certeza que já tive na vida, que nunca nos amámos. Mas acho que lhe trazia algum gozo e conforto que eu fosse apenas dele.

Foi exatamente nessa altura que conheci as amigas dele, a Lucy, a Veronica e a Keana. Lucy e Veronica eram um casal, e outra certeza que tenho é que elas se amavam mesmo. A Keana era apenas a rapariga quieta entre nós, ela era misteriosa, silenciosa, fria. Eu gostava dela. Eu gostava de todos, mas o Brad levava-me ao extremo.

Quando eu finalmente arranjei emprego e todos contribuíam (uns de forma mais honesta que outros) para o pagamento da renda, alugámos o T2. Eu e o Brad ficámos com um dos quartos, a Lucy e a Vero ficaram com o outro. A Keana insistiu para ficar no sofá, ela era a mais afastada e quieta do grupo, mas também a mais perigosa. Quando tive oportunidade, terminei tudo com o Brad. Eu não aguentava mais ser um objeto sexual, porque eu simplesmente já não retirava prazer algum daquilo, e ele jurou que me teria de volta. Mantive-me a morar com eles, mas apenas porque nessa altura eu já estava viciada.

Suffocated | camrenOnde histórias criam vida. Descubra agora