Muitos elfos caminhavam pelo gramado. As mulheres, sempre lindas, com longos vestidos brancos, todos diferentes. Os homens usavam calça branca e camisa de manga comprida. Mesmo estando em grupo, andavam separados. Não que os elfos tivessem a obrigação de ser uma grande e unida família feliz; mas, normalmente, entre humanos, nós nos afeiçoamos mais a uma pessoa do que a outra e procuramos companhia em um grupo grande como aquele. Eles eram diferentes, todos permaneciam sozinhos. Mais do que isso, pareciam se sentir solitários. Conhece a expressão “sozinho na multidão”? Pois é, era exatamente isso que eu via.
Como se houvesse uma onisciência presente, todos voltaram a sua atenção para mim ao mesmo tempo. Assustador. Pior foi ver como os semblantes eram parecidos. Frios. Nenhum deles parecia feliz por me ver. Somente uma elfa acenou com a mão e, com um sorriso vacilante, veio em minha direção. A frieza dos demais fez meu corpo tensionar e arrepiar.
“O que você esperava? Flores, faixas, fogos de artifícios?”, perguntou meu lado racional com as duas mãos na cintura. “Claro que não! Só, sei lá, acho que não precisava ter tanto gelo assim”, respondeu meu eu sentimental, choramingando.
Penélope parou de trotar, deixando um amplo espaço entre os elfos e nós. Pelas explicações de William, ela não gostava muito de proximidade, portanto tratei de descer. Por sorte, foi muito mais fácil do que a subida.
– Obrigada, garota – dei um beijo em seu nariz. – Sem você, iria ficar vagando, perdida por horas.
Andei em direção a Top. Assim que me afastei de Penélope, a dor e a culpa em meu peito aumentaram; ela parecia ser um antídoto para minha agonia.
– Onde você estava? Como saiu da vila? Quem a ajudou?
Minhas forças tinham se esvaído. O cansaço de passar a noite toda acordada envolta por tantas novidades e emoções era demasiado para que agora enfrentasse a inquisição da elfa. Passei por ela e caminhei em direção ao lago. Top se virou para me acompanhar.
– Fui ver o túmulo da minha mãe. Saí da vila caminhando sobre a água, provavelmente da mesma forma que você. Estava com o William e a Penélope. Eles me mostraram onde encontrar a Megan. – Respondi a todos os quesitos de forma clara e concisa. Ponto para mim.
– Quem é Penélope?
– A unicórnia.
– Sofi, você nomeou um animal sagrado? – Sua voz aguda estava carregada de ultraje.
Fechei os olhos e suspirei, buscando força e paciência. Ela conseguia elaborar um questionário melhor que Megan. Minha mãe se foi e a elfa parecia logo querer tomar o seu lugar no quesito “vou cuidar direitinho de você, Sofi”.
– Não gosto de me dirigir às pessoas sem saber com quem estou conversando, você sabe muito bem como é – encarei a elfa. – Isso inclui minha nova amiga unicórnia. Ela na verdade não pareceu se importar muito com o nome que ganhou. Aposto que até gostou. Foi bem gentil em me trazer de volta quando pedi.
Novamente o olhar de surpresa passou pelo rosto de Top. Diferentemente do que acontecia com William, quando a elfa me olhava assim, eu me divertia.
– Vi mesmo que ela aceitou você. Agora que estamos em Eldrian, você não devia andar na companhia dos Nelyär, você é uma Tatyar...
Levantei a mão para interromper o perfeito discurso que estava a caminho. Não tinha vontade de discutir com ela que as diferenças entre eles não faria parte da minha vida por muito tempo, já que estava de partida, indo comprar meu bilhete de saída.
– Onde está meu pai?
Top fez um silêncio desconfortável. Estava prestes a começar meu interrogatório quando alcancei a margem do lago. Coloquei o pé na água, decidida a marchar vila adentro para encontrá-lo. Todavia, meus planos sofreram uma pequena alteração. O assunto com meu pai foi imediatamente rebaixado, pulou de prioridade número um para número dois, quando meu pé afundou na água, molhando a barra da minha calça.