Era bom sentir a brisa que vinha da praia, trazendo o aroma salgado direto pelo corredor. A maresia fazia cócegas em meu rosto e as ondas de calor eram mais que bem vindas. Cruzei o lago rapidinho, sem pensar sobre o que estava fazendo. Era mais fácil assim. Apressada, fui em direção à floresta. O som seco de cascos chamou minha atenção. Olhei em volta, com receio de ser pega. Como não queria a companhia de ninguém, e muito menos ter de explicar o motivo da fuga, agachei atrás de uma flor gigante, que exalava um forte aroma adocicado. Pude ver quando Penélope começou a se aproximar. Primeiro me encolhi, na tentativa de sumir atrás da flor colorida, mas, quando vi que ela trazia William consigo, relaxei.
A visão era de tirar o fôlego. Montado sobre a unicórnia branquíssima, de calça e camisa pretas e envolto em sua ridícula capa, com os fios dos cabelos loiros voando, ele me desequilibrava. “Vai ser lindo assim lá longe!”, suspirei. Tinha vontade de gritar e me gabar: “Estão vendo aquele elfo lindo ali e aquele abdômen perfeito? Pois é, eu já segurei aquele abdômen. Podem acreditar, aquilo tudo é de verdade mesmo, nada de Photoshop. Ele existe sim!”.
Porém, não havia ninguém por perto para que eu pudesse contar vantagem e, se houvesse, era certo que os dois iriam me ouvir, atrapalhando meu elaborado plano de fuga. Então, fiquei encolhida, quietinha, cruzando todos os dedos possíveis para que ninguém me notasse. Quando se aproximaram, prendi a respiração. Se pudesse, controlaria também as batidas do meu coração, que fazia tanto barulho que me entregaria. Penélope, contudo, virou seu corpo, vindo diretamente para mim. A unicórnia parecia uma perdigueira, pois parou bem à minha frente, abaixando a cabeça para poder cheirar meu cabelo. “Droga de coração!” Demorou menos de um segundo para que William me notasse na posição constrangedora.
– Sofi? –perguntou, surpreso.
Ele saltou da unicórnia e me estendeu a mão, ajudando-me a levantar. Mantendo sua postura atenta, ele procurava pelo perigo.
– Oi, William – disse sem graça, tirando a terra do joelho e tentando manter um fiapo de dignidade.
– Sua aparência está melhor – ele disse enquanto me estudava dos pés à cabeça.
Permitindo-se relaxar um pouco, William deu um meio sorriso e deixou visível a covinha que tanto me atraía.
– Estou bem – respondi, tentando pôr ordem nas inquietas borboletas em meu estômago.
– O que você está fazendo aqui fora? Os humanos não costumam dormir durante a noite? – Seu olhar divertido me dizia que ele esperava que eu estivesse ali, metida em uma encrenca das grandes.
– Não sou humana, sou mestiça, esqueceu?
– Sim, você é uma guillent, metade humana e metade Tatyar. Sendo assim, o normal seria que você estivesse deitada em segurança na sua cama, dormindo.
– É, mas parece que meu sono não sabe disso. Ultimamente tenho dormido pouco, e é muito chato ficar deitada assistindo à Top dormir. Estava cansada de ficar lá olhando aquelas paredes brancas. Resolvi que podia muito bem aproveitar a noite quente de outra maneira. Sair para dar uma caminhada me pareceu uma boa ideia.
Mordi a língua antes que revelasse alguma coisa. Pela primeira vez, não queria a companhia de William e procurava uma maneira de me livrar dele.
– Você não deveria ficar andando pela floresta sozinha, não é seguro.
– Você se preocupa demais – revirei os olhos. – Estou acostumada a andar por florestas, sei me virar muito bem.
– Aqui não é uma floresta humana. Você pode se machucar.