Era um ambiente diferente do que esperava. Não encontrei o quarto imaginado. Em vez disso, uma antessala, que lembrava uma sala de reunião de uma grande empresa.
A enorme mesa oval tomava conta do ambiente. Na cabeceira, uma magnífica cadeira translúcida cravada de pequenos diamantes se encontrava vazia. A decoração era um tanto excêntrica, com paredes encobertas por inúmeras estantes abarrotadas de livros que, em sua grande maioria, deixavam óbvias as marcas do tempo, com suas capas de couro desgastadas. Havia também alguns objetos estranhos, como cilindros de vidro que formavam um conjunto curioso, dentro do qual pedras e água se misturavam e se separavam. Havia ainda muitos vidros com líquidos, plantas e animais desconhecidos. Entre uma estante e outra, portas. Posicionados na frente de uma delas, dois elfos, altos e fortes, conversavam com a sacerdotisa ruiva. Pareciam guerreiros Tatyär. Tinham o rosto resplandecente e a pele perfeita, uma característica que agora sabia ser dos elfos do dia. Corpulentos e muito bonitos, ambos tinham cabelos castanho-escuros e longos. Aparentavam ter uns 40 anos e pareciam gêmeos, mesmo que um fosse completamente diferente do outro. O nariz de um era grande e afilado, enquanto o do outro parecia uma pequena batata; os lábios do primeiro eram grossos e curtos e os do segundo eram finos e compridos. Acho que era a postura semelhante que dava aos dois o ar de gêmeos encrenqueiros.
Ela se virou assim que entramos e não pareceu nada feliz em nos ver. Top curvou a cabeça, aproximou-se e dirigiu-se a eles em sua língua misteriosa. Os elfos fortões se posicionaram frente à porta como uma muralha, protegendo uma celebridade importante, provavelmente meu pai. Olhos da mesma cor me encaravam como se eu, em meu 1,59 metro, fosse um enorme desafio.
Logo as vozes agudas de Top e Red se alteraram. Admirei minha amiga elfa: Red não era fácil de se confrontar. Atônita, assisti à cena. Parecia um filme estrangeiro ruim e sem legenda. Top falava com sua voz fina e, apesar do seu tom alterado, pouco gesticulava. Red mantinha a voz decidida e segura, daquelas que, quando você ouve, tem logo um impulso de obedecer.
Os dois elfos pouco interviam. O mais narigudo, que imediatamente nomeei de Pinóquio, balançava a cabeça de um lado para o outro, nitidamente irritado, com os olhos cravados em mim. Seu amigo chamei de Dunga, pois seu nariz me lembrava da bolota do anão do desenho animado. Já que nomeei um pelo nariz, vi que não havia mal em fazer isso com ambos. Eles bem que tentavam argumentar; as duas, porém, não lhes davam atenção.
Cansada de ser passiva, andei até eles, decidida a fazer parte da conversa. O assunto tinha nome e sobrenome: Sofi Stone. Odiava ser mantida de fora quando a discussão era sobre mim.
– Top, Red. – As duas se calaram. Top balançou a cabeça, tentando me excluir. – Preciso conversar com ele!
– Sinto muito, isso não será possível. Ele precisa descansar depois de tudo por que passou – disse Red, a voz falsamente gentil e firme.
– Olhe, Red – comecei com calma, imaginando que a polidez me fizesse ganhar pontos. – Eu sou a única capaz de saber exatamente como tudo isso deve ter afetado meu pai. Mas, como ele, eu sou a maior interessada. Ele é meu pai, ambos perdemos alguém que amávamos muito e precisamos conversar.
– Esse é exatamente o problema. Não vamos permitir que ele passe por mais qualquer tipo de estresse. Você vai fazê-lo sofrer.
O ar de superioridade dela fez com que minha tênue educação fosse para o espaço e, cabum!, explodisse. Empinei o nariz, joguei o cabelo para trás dos ombros e parti para o ataque:
– Não me venha com essa! Você sabe muito bem que não sentem mais quando eu estou sofrendo. A poção de Top anulou isso!
Red encarou a elfa, que se encolheu.