Capítulo 6: Templo

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Caminhava sustentando a fachada de garota confiante, que sabia exatamente onde se metia. No fundo, estava insegura. Não havia garantia de que conseguiria entrar sorrateiramente no templo; afinal, por décadas permanecera isolado, inalcançável até mesmo para criaturas mágicas como os elfos. Incapaz de controlar minha curiosidade, prossegui. Uma estranha sensação me dizia que isso era importante, que precisava entrar lá.

Encontrava consolo em ter somente Penélope ao meu lado. Ela não ficaria curtindo com a minha cara quando eu falhasse. Ao menos acreditava que não, pois nada que viesse dela me surpreenderia. Preferia sua companhia, já que ela tinha o estranho poder de me acalmar.

Eu passava os dedos com cuidado em seu longo pescoço. A respiração pesada e a inquietude da unicórnia me alertavam de que talvez aquilo não desse certo. Ela parecia ter dificuldade ao trotar, como se lutasse contra a correnteza de um rio revolto. Cada centímetro que conseguíamos nos aproximar do templo era uma vitória. As grandes pedras coloridas estavam bem à nossa frente quando Penélope empacou de vez.

– Anda, garota, falta só um pouquinho – pedi, jogando o corpo para frente, na débil tentativa de forçar a unicórnia a trotar.

Penélope cravou as patas no chão. Inquieta, batia os cascos sem se mover. Saltei, preocupada. A pobre parecia querer fugir dali, mas, ainda que resistente, Penélope ficou ao meu lado. Procurei o elfo entre as árvores ao longe. Mesmo sem conseguir encontrá-lo, sabia que William permanecia lá, escondido.

– Bom, acho que chegou a hora de ver se consigo mesmo entrar.

Segui com pequenos passos receosos, já que não sabia exatamente o que aconteceria se minha presença fosse recusada. Será que daria de cara com uma parede invisível ou seria lançada para longe, caindo e batendo o traseiro no chão? Rezava para não ser nada muito doloroso nem constrangedor, principalmente para que eu não ganhasse mais nenhum hematoma. Desde que passei a andar com os elfos, ora ou outra parecia uma vaca malhada de tantas contusões.

Passo a passo, bem cautelosa, fui me aproximando do meu objetivo. Alcancei as pedras coloridas, notei o perfeito círculo esculpido em duas delas e até passei a ponta dos dedos nas estranhas palavras. Tudo era real, tudo existia! Curiosa, levantei o pé direito, para dar sorte. Passou-se um segundo tenso, até que a ponta do meu pé tocou o solo e pisei dentro do círculo. Suspirei, relaxando. Dei alguns passos e depois uma volta de 360 graus, admirando o lugar. O templo era exatamente igual ao meu sonho: as enormes pedras coloridas, o altar escuro com suas fontes e a árvore no centro do altar. O lugar era tranquilo e dava a mesma sensação de paz que eu sentia quando estava com Penélope. Fiquei feliz e animada; pela primeira vez, fazia algo importante, o tipo de coisa que os elfos como o meu pai e Top aprovariam. Queria ver a cara de choque que ela faria quando contasse. Comecei a rir alto enquanto imaginava a cena.

– Oi, Sofi. O que é tão engraçado?

Dei um pulo, reconhecendo a linda e fina voz da elfa que me chamava.

– Devo estar ficando maluca! – disse nervosa, olhando em volta.

Só tinha ouvido aquela voz quando estava bem quietinha deitada em minha cama, dormindo e sonhando. Sua dona deveria estar morta. Procurei dos lados, com medo. “Fantasmas não existem!”, disse meu lado racional. “Elfos também não, e olhe só para nós.”

– Não, Sofi. Vocênão está maluca – respondeu Naradá.

Pulei de susto novamente. Comecei a andar apressada entre as pedras coloridas, procurando por ela.

– Naradá? – perguntei cautelosa.

– Estou esperando por você há muito tempo. Por que demorou tanto?

O Despertar da GuillentOnde histórias criam vida. Descubra agora