Durante a tarde, depois da minha conversa com Red, Top finalmente apareceu. Ela estava distante e distraída, pouco falava. Levou-me para meu primeiro tour autorizado pela ilha. Melhor dizendo, por parte dela, já que para ambas o lado dos Nelyär era proibido. Isso aumentava drasticamente minha já crescente curiosidade em conhecer aquilo que não me era permitido.
Saímos tranquilas pelo lago. Apesar da distração da elfa, contei para ela tudo, inclusive sobre a minha visita para Naradá. Top era minha melhor amiga, eu confiava inteiramente nela. Não gostava da ideia de manter segredos entre nós. Ela ficou muito surpresa de eu ter conseguido mesmo conversar com Naradá. Fiquei pasma por ela concordar com William, dizendo que o assunto deveria ser mantido em segredo por enquanto. “Precisamos entender tudo sobre a Naradá antes de contar aos outros.” Para elfos que viviam em guerra, até que os dois concordavam em muitas coisas.
– Sofi. – Pela maneira como Top pronunciou meu nome, um jeito bravo, mas aliviado, percebi que a elfa estava pronta para soltar o que a andava incomodando. – Suas fugas estão me causando problemas, você precisa parar com isso.
– Por que estão “causando problemas para você”? Eu é que sempre levo um esporro todo vez que apareço.
Desconfortável, ela olhou em volta antes de continuar:
– Prometi que iria vigiar seus passos – Top relutou em admitir. Com certeza isso era mais uma coisa que estava proibida de me contar. – Tenho que informar ao conselho tudo o que você faz.
– Dividimos o mesmo quarto. É só você não me entregar. – O semblante da elfa deixava claro seu descontentamento. – Não consigo ficar lá olhando para as paredes brancas enquanto você dorme! Isso me sufoca, me deprime. Coisas em que eu não quero pensar ficam martelando na minha cabeça.
– Se descobrirem que estou ocultando informações, serei punida.
– Vou tentar me comportar – murmurei.
Top parecia notar o quanto isso era difícil para mim. Suspirando, ela disse:
– Permaneça na praia.
Chegamos ao gamado, ainda falando baixo, especulando sobre os acontecimentos da noite. Segui os comandos de Top e virei para a direita, distanciando-me da parte da floresta que já conhecia. Entramos na floresta multicolorida. Imediatamente o calor deu uma trégua, já que as árvores ajudavam a refrescar.
– Olhe! – Top apontou para as árvores, onde estavam os animais cor-de-rosa que lembravam macacos peludos. – Aqueles são os notuäs.
Tão logo ela pronunciou o nome deles, todos os cinco, que antes estavam calmos comendo frutas, ficaram agitados. Pareciam irritados, como se tivessem sido incomodados no meio do almoço.
– Por que os notuäs ficaram assim, tão agitados? – perguntei, tentando memorizar o nome.
– Sentiram que estamos prestando atenção neles. Ouviram quando eu disse seu nome – comentou Top, como se isso fosse comum.
– Como assim, “sentiram”? Eles são animais, não podem ser tão inteligentes a ponto de saber que estávamos conversando sobre eles. – Os animais ainda gritavam inquietos.
– As palavras élficas são diferentes. Quando pronunciadas, vêm carregadas de poder, e os animais são capazes de senti-lo. Não se preocupe, esses aí são inofensivos.
A maneira como ela disse que eles eram “inofensivos” deixou claro que havia alguns que não deveriam ser tão dóceis assim. Lembrei-me dos pássaros minúsculos e de aparência ingênua. Aqueles sim haviam me atacado e não eram nada inocentes.
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