Capítulo 7: Irritados

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Saí do templo tão revoltada que ignorei a pobre Penélope, que me esperava, inquieta, batendo os cascos no chão. Voltei descontando minha indignação pelo caminho.

– Aaarrr! – urrei, irritada, chutando uma pedra e causando mais danos aos meus pés.

Prossegui, determinada. Já havia passado da hora de me inteirar sobre o que acontecia em Eldrian. Estava temporariamente amarrada àqueles elfos. Por mais que esperneasse, isso era algo que eu não poderia mudar, pelo menos não imediatamente. Teria de ficar aqui e aprender algumas coisas sobre eles, até que fosse capaz de abrir um portal e dar o fora.

Não que pretendesse atender aos pedidos insanos da maluca Naradá. Imagine: eu agindo como a secretária da ONU para os elfos! Principalmente para os cinzentos Minyär. Nunca, jamais, em tempo algum isso iria acontecer! Ela pensa que sou uma espécie de Madre Teresa de Calcutá? Os desgraçados tiraram de mim a única coisa que realmente era importante e fundamental na minha vida. Agora, ela queria que eu fosse até eles para salvar a galera. Capaz! Mesmo que fosse louca como ela para aceitar isso como verdade, com certeza estaria morta, estabacada no chão, atingida por muitas flechas antes que pudesse levantar a bandeira branca.

Penélope me seguia como um cachorro; durante todo o percurso, ela foi minha sombra silenciosa. Nem sua forte presença acalmava o tsunami de ira que me engolia. Decidida sobre o que tinha de fazer, passei por William. Ele me olhou curioso, mas continuei andando, ignorando tudo e todos. O elfo passou a me seguir, como a unicórnia. Entrei na floresta. Obviamente, assim que as árvores se tornaram mais densas e a escuridão tomou conta de tudo, comecei a tropeçar. Gentilmente, William sempre me segurava antes que me esborrachasse no chão. Tão logo retomava o equilíbrio, eu tirava a sua mão do meu braço. Injusto, eu sei; ele só estava me ajudando, não tinha nenhuma culpa pelas loucuras da Naradá. Depois de eu ter passado um longo tempo caminhando e tropeçando no escuro, William se cansou da minha irritação e do silêncio.

– O que aconteceu, Sofi? – ele perguntou de forma gentil.

– Nada!

– Desculpe, você disse que os humanos às vezes precisam conversar. Não deveria ter perguntado. Só o fiz porque você está muito alterada.

Parei, voltando-me surpresa para William. Sua tentativa em me alcançar, mesmo isso não sendo comum a ele, me aplacou. Ele havia me escutado, não só ouvido. Não era justo descontar em cima dele as minhas irritações causadas por Naradá. Suspirei, pesando antes de desabafar:

– Espero que você saiba que a sua adorada sacerdotisa Naradá está viva e presa dentro daquele templo – apontei, ainda inflamada. – Só que ela pirou, está completamente abilolada. Definitivamente, os anos de solidão mexeram com a cabeça dela.

– Sofi... – ele aumentou o tom de voz e ficou tenso.

– Tá, eu sei – revirei os olhos, impaciente. – Você não gosta que eu fale assim da sua sacerdotisa. O lance da falta de respeito... desculpa. Só que ela me pediu...

Colocando toda a sua postura contida de lado, William me bombardeou de perguntas.

– Você realmente conseguiu? Entrou lá? Conversou com ela? Ela está viva!

– Teria sido melhor para mim se eu não tivesse conseguido entrar. Preferia isso a ter de ouvir as coisas malucas que ela disse!

– Não diga isso, é falta de respeito com a sacerdotisa.

– Sacerdotisa! – levantei os braços. – Sacerdotisa? Ela é louca, pinel, desparafusada total! Você não ficaria cheio de dedos se soubesse o que ela me disse.

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