Qual a necessidade de dizer que naquela linda manhã ensolarada acordei tal como um defunto? Não seria preciso falar o óbvio: havia uma Laila mastigada pela vida e devolvida coberta em sua baba; a minha, no caso. Portanto, quando levantei do meu espacinho no canto direito da cama de Vicente, não existia mais. O celular marcava quase uma da tarde e olhei para as pessoas que haviam dormido ali comigo, confortavelmente. No meio, Laura, e do outro lado, bem longe de mim, um Vicente apagado e sem camisa (gato, porém estava zoada demais para ficar desejando ele naquele momento).
Tomei um pouco de ar para recuperar a dignidade e a capacidade de ficar de pé. Devo ter passado uns dois minutos tentando lembrar como fui parar na cama. Minha última memória era de ter apagado no ombro de Eric, ainda dentro do carro de Breno a caminho de seu apartamento com Vivi. Depois disso foi uma longa noite de sono que não pareceu ter durado absolutamente nada, pelo cansaço que estava sentindo em todo o corpo.
Sair do quarto em meia luz para a sala tão clara quanto o sol foi um suplício. Antes de me acostumar com a claridade, a sensação de cegueira foi inevitável, enquanto andei meio desnorteada até o banheiro. Para minha sorte, já estava ocupado.
Minha capacidade de raciocinar estava falha — se pudesse definir o estado do meu cérebro no momento, com certeza usaria o termo "sinfonia de grilos" —e por isso, só bati na porta e me encostei na parede, arregaçada demais para lidar com a vida. Ao menos não demorou muito para que Breno abrisse e me encarrasse com um sorrisinho debochado.
— Bom dia, Lai — falou em um tom um tanto irônico assim que passei por ele. Eu apenas ignorei bati a porta atrás de mim, seguindo cambaleante até a privada.
Era estranho que ainda houvesse xixi para ser feito, mas beber é isso. Ficar louco e mijar mais do que o normal. E continuar mijando muito mesmo depois da loucura passar.
Um alivio, para ser sincera. Outra coisa aliviante também foi poder lavar o rosto e tirar a bagunça que minha cara havia se tornado com uma noite de sono sem limpar a maquiagem. Delineador todo borrado, a cara amassada, descabelada. Linda.
— Eu preciso de cafeína ou vou passar o dia inteiro igual um zumbi — grunhi assim que pisei na cozinha, antes de sentar na cadeira alta em frente ao balcão.
— A cada ano que passa parece que nós ficamos mais sensíveis com o álcool, Lai. Essa é a parte ruim de começar a ficar velho — Breno riu, colocando uma caneca azul na minha frente e então, servindo uma bela porção de café para mim. Eu o agradeci silenciosamente antes de me "hidratar" com o líquido escuro e forte, do jeito que sempre gostei.
Ele estava certo. Viviane, Vicente e eu, nós aos quinze e ele aos dezessete, bebíamos desde às seis da noite e só parávamos às quase quatro horas. Quem disse que tínhamos qualquer sinal de uma possível ressaca? Dez anos depois e éramos derrotados por algumas cervejas e doses de vodca; isso nunca aconteceria com nossas versões adolescentes. Era um sinal do apocalipse... Ou talvez da idade mesmo.
Vinte e quatro, quase vinte e cinco era muito? Não parecia tanto assim.
Atrás de mim, estavam Alexandre e Eric: um deitado do sofá, ainda apagado, e o outro em um colchão no chão, também parecendo aproveitar o sono mais que profundo. Aparentemente, só Breno e eu estávamos de pé. Digo aparentemente porque uns dois minutos depois, Vivi surgiu bocejando em um de seus pijamas mais velhos e o cabelo preso em um coque bagunçado.
— Bom dia, pessoa que eu amo demais. E estraga prazeres. — ela deu um beijo em Breno antes de abrir a geladeira e fechar sem pegar nada no fim das contas. Havia coisa melhor: o café recém passado feito pelo marido e futuro pai de seu filho (ou filha).
Ao menos fome não passaríamos; um a um, todos foram acordando. Breno e Eric tomaram conta da cozinha e começaram a fazer o almoço enquanto o resto de nós procurávamos por um canal que estivesse passando algo decente. Laura deixou num dos vinte canais Discovery e Viviane decidiu que seria mais interessante se conversássemos ao invés de assistir tv de fato.
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Os Homens dos Meus Sonhos
ChickLitLaila em seus vinte e cinco anos, não está tão preocupada quanto suas amigas em ter um relacionamento, casar e ter filhos. Na verdade, na verdade, está mais focada em conseguir um aumento, terminar de pagar as prestações do carro e parar de fumar. M...