Capítulo III

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Está brincando, não é? Por favor, diga que está brincando — ela pediu aflita.

— Gostaria de estar. Você parece ser o tipo de mulher difícil de esquecer.

— Difícil de esquecer? Sou impossível de esquecer! Sydney recuou e tropeçou nos saltos das sandálias.

Furiosa, tirou-as e pensou em atirá-las do outro lado do gramado, mas um segundo impulso, o de atirá-las na cabeça dele, a impediu de jogá-las para qualquer lugar. Normalmente, não era uma mulher violenta. Por isso, antes de agredi-lo, ela decidiu certificar-se de que não era vítima de uma brincadeira de mau gosto.

— Isso não é uma piada idiota, é? Quer se vingar por eu ter chutado seu traseiro?

Adam riu, e embora o som percorresse seu corpo como uma corrente elétrica, havia algo de estranho nele. Algo que não combinava com Adam.

Foi como se de repente o sangue congelasse em suas veias. Sydney notou uma cicatriz aninhada em uma das sobrancelhas.

— O que aconteceu com você?

— Um acidente. Foi o que me contaram.

Ela deixou cair as sandálias. Aturdida, aproximou-se e tocou os cabelos castanhos que quase cobriam sua testa.

— Oh, meu Deus...

— Isso não é nada.

Ele se virou e ofereceu uma visão completa da cicatriz que, ainda vermelha e inchada, marcava suas costas.

— Oh! Isso dói?

— Às vezes. Quando chove.

Sydney levantou a mão, mas deteve-se antes de concluir o gesto.

— Pode tocá-la. Não me incomodo.

Talvez não, mas ela certamente se incomodava. Não por descobrir que o corpo antes perfeito havia sido marcado por um sinal permanente e profundo, mas porque ele havia sofrido ferimentos sérios e ela não sabia absolutamente nada sobre isso.

— Quando? — perguntou.

— No dia doze de março do ano passado.

Doze de março? Ela o deixara no dia doze. Partira para a Escócia no dia treze. Lembrava-se bem da data, porque seu agente literário tivera de fazer um enorme esforço para enfiá-la em um avião num dia considerado de pouca sorte. Sydney não havia sido criada num ambiente supersticioso, filha de pais tradicionais e práticos, gente típica da Nova Inglaterra, mas havia adquirido o hábito com o tempo, provavelmente por ter lido muitos livros de terror e fantasia par anormal na infância e na adolescência.

— Foi no dia em que eu parti. Quero dizer, naquela noite... Eu o deixei naquela noite. Deve ter sido depois...

Adam virou-se e apontou para a sombra de uma árvore. Com as mãos nos bolsos da calça, ele caminhou até lá de cabeça baixa.

— Renée acredita que eu estava correndo e fui atropelado. Eu usava trajes esportivos e tênis, embora apenas um pé do meu Nike Air tenha sido encontrado no local do acidente.  
Ele apontou para um pneu pendurado em um galho, um balanço rústico e improvisado. Sim, Sydney sentia as pernas trêmulas, mas nunca tivera um brinquedo como aquele na infância. Seus pais preferiam brinquedos personalizados com assentos estofados e encostos macios. Por isso não se sentia animada a experimentar a acomodação tão rudimentar. Em vez disso, agarrou a corrente como apoio.

— Que horas eram? Quero dizer, saí de seu apartamento bem tarde.

— Deve ter sido um pouco antes da meia-noite, porque foi nesse horário que a polícia recebeu um chamado dando conta de um corpo caído no acostamento da estrada.

Atrevida e Ardente (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora