Ah! Lembranças - 7

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Pela primeira vez desde que me mudei para essa cidade e conheci Abby, essa foi a única vez que eu consegui realmente fazer com que ela viesse na hora em que eu liguei.
Abby sempre foi uma garota atrapalhada que sempre se atrasou pra tudo, mas do jeito que ela se preocupa comigo, era obvio que ela viria depois do meu telefonema. Dou graças à Deus por isso, porque passados vinte minutos, ela estava tocando a campainha desesperadamente enquanto batia na porta ao mesmo tempo.
"Jesus Angie, sua amiga vai derrubar minha porta!" Brandon largou a faca que usava para cortar uns legumes e foi em direção à porta.
"Eu vou socar a cara dela!" Abby é totalmente sem noção, mas ainda assim ela reclama de mim como se eu fizesse coisas piores que ela. Poupe-me Abby.
Brandon foi em direção à porta e eu me sentei no sofá, contando até dez para não ir brigar com ela por surrar a porta do vizinho.
"Angie, pelo amor de Deus, você tá bem??!" Ela correu na minha direção, sentando ao meu lado e me abraçando fortemente. Olhei rapidamente para a porta para observa-lo. Ele agora ria consigo mesmo, provavelmente pensando na loucura da Abby.
"Calma amiga, eu estou bem." Tentei afasta-la, mas ela continuou agarrada a mim.
"Vou deixar vocês conversarem sozinhas." Ele foi em direção ao quarto em que eu me hospedei por algumas horas.
"Pelo amor de Deus Angie, me conta tudo!" Ela sorria com empolgação.
"Ai Abby, pra falar a verdade, eu to bem cansada, não posso..." Fui cortada por ela imediatamente, exigindo que eu contasse cada detalhe, caso contrário ela não me levaria para casa.
Suspiro profundamente antes de prosseguir. Dai-me paciência Deus.
"Bom... Eu fui correr no parque hoje de manhã e estava distraída pensando em Joshua quando Brandon e eu acabamos dando um encontrão. Eu fui arremessada para o chão enquanto ele se manteve em pé. Fiquei roxa de ódio, me segurei muito para não meter um tapa naquela cara dele, mas me levantei e segui andando. Ele veio atrás de mim, mas como eu não queria sua presença por perto, tentei andar mais rápido em direção à rua. Ouvi ele me chamando, mas tentei fugir atravessando a rua rapidamente sem olhar, e foi quando eu já não vi mais nada, simplesmente apaguei. O que eu me lembro foi de sentir-me ser carregada no colo dele e de ser colocada na cama macia, depois disso, dormi o dia inteiro praticamente. Acordei assustada com ele segurando uma bandeja com panquecas feitas por ele, e foi aí que eu te liguei, foi basicamente isso." Digo dando de ombros.
"Espera, ele te fez panquecas?" Ela meio que sussurra, tentando manter sua felicidade calada.
"Não acredito que de toda a história que eu contei você só prestou atenção na parte das panquecas!"
"Claro que não sua boba, prestei atenção em todos os detalhes, mas esses me chamaram atenção." Ela levantou sua sobrancelha perfeitamente arqueada.
"Abby, por favor, eu só quero ir pra casa, preciso de um banho quente e minha cama. Podemos ir?" Jesus me ajude com que eu convença essa menina a irmos embora e que ela me deixe não contar cada mínimo detalhe da história.
Ela assente.
"Vamos Angie." Ela ajuda a me levantar lentamente.
"Vou chamar o Brandon para agradece-lo."
"Não precisa." Ele sorri. Seu sorriso me hipnotiza cada maldita vez que resolve dar o ar da graça. "Estou aqui." Ele completa. Sorrio envergonhada de volta.
"Estamos indo. Agradeço por tudo que fez essa tarde e te peço desculpa por tê-lo feito perder tempo comigo." Eu sei que sou 99% chata, mas existe aquele 1% educado dentro de mim do qual eu sei muito bem quando devo usa-lo e este era um desses momentos.
"Angela, não precisa se desculpar por nada. Eu espero que você se sinta melhor amanhã. Caso vocês necessitem, podem recorrer a mim." Agora sua conversa é com Abby, porque talvez ele saiba que eu jamais recorreria a ele novamente, se não fosse a única pessoa disponível, claro.
Me seguro nos ombros de Abby e me sinto um pouco tonta. Ele vem abrir a porta para nós e Abby me leva embora daquele apartamento comigo dando graças à Deus.
"Vem Angie, vou te colocar no banho." Ainda estou apoiada sobre seus pequenos ombros e sinto dó dela por ter que me carregar, não sou nada leve, nada.
Quando estou finalmente no banheiro do meu quarto, ela me senta na privada para me ajudar a tirar a camiseta.
Puta merda, a camiseta!
"Angie!!" Como se Abby tivesse lido meu pensamento, ela percebe que não estou vestida com minhas roupas.
"Cadê suas roupas?" Abby parece chocada, em pânico, como se fosse um sinal de que eu fiz algo com Brandon, do qual eu não deveria, para estar sem minhas roupas.
"Esqueci de pega-las, merda! Brandon disse que me trocou para que eu ficasse mais confortável." Fecho os olhos.
"Ele te viu nua?" Sua mão vai diretamente para sua boca, cobrindo-a em sinal de espanto com um misto de ânimo.
"Não. Pelo menos ele disse que eu estou de top ainda e que não olhou pra mim enquanto me trocava." Penso nele tentando mover uma garota praticamente desmaiada de quase sessenta quilos sem olhar para o que estava fazendo e acabo sorrindo sem querer.
"Angie, Angie..." Seu olhar é como uma faixa escrita "AI MEU DEUS ANGIE, ELE TE VIU NUA!". Agradeço por ser só um olhar e não gritinhos.
"Me ajude a tirar essa camiseta, Abby."
Aquele perfume impregnado em sua camiseta me faz querer ficar com ela para sempre, mas não sou do tipo maníaca tarada que fará isso. Lavarei sua camiseta e depois devolverei para ele, pegando minhas coisas em troca.
Sou colocada na banheira. Acho que é uma das poucas vezes em que usei essa banheira na vida.
Faz dois anos desde que me mudei para Seatlle, para esse apartamento, e quase nunca desfrutei da minha modesta banheira.
Quando meu corpo entra em contato com a água quente é como se ele fosse desligado automaticamente, me fazendo desmontar de tanto relaxamento. Soltou um gemido de prazer por finalmente não sentir dor.
Acho incrível como a água faz maravilhas no meu corpo, estou anestesiada e não quero sair dali. Quero dormir naquela banheira, quero passar meu resto do dia ali pensando na vida e relaxando. Quando termino esse pensamento, Joshua surge na minha mente e um aperto forte no meu coração, punge.
Por mais que minha raiva fosse maior que qualquer sentimento por aquele garoto, meu coração continuava pertencendo àquele cretino. Eu amo tanto o Josh que até dói, mas não era o mesmo que ele sentia por mim, já que quis dar um tempo.
Começo a chorar sem perceber lembrando de todas as coisas boas que passamos juntos desde o momento em que nos conhecemos.
Quando entrei na faculdade, meu curso de engenharia química era misturada com todos as outras engenharias, e foi ai que conheci Josh.
Como se fosse ontem, lembro-me de ter chegado atrasada naquela aula. O dia estava meio chuvoso, então cheguei um pouco encharcada. Quando entrei na sala, vi que todos os lugares estavam ocupados, menos o lugar ao lado dele. Me dirigi rapidamente para lá, pois o professor me lançou um olhar bravo e a ultima coisa que eu queria era levar uma bronca pelo atraso.
Não troquei contato visual com ele, mas percebi que ele correu os olhos por mim de cima à baixo, mas sem ser um olhar vulgar, era mais como um reconhecimento de uma estranha, como se um enorme ponto de interrogação surgisse em sua cabeça tentando entender quem era a desajeitada toda molhada e atrasada ao lado dele. Lembro-me de que em algum momento daquela aula, eu fui esticar o braço e acabei derrubando a garrafa de água do cara da mesa ao lado. Fiquei vermelha na mesmo hora, tentando disfarçar a vergonha de ser tão desastrada. Enquanto eu pegava a garrafa, ouvi um riso abafado vindo do Joshua, mas não quis encara-lo.
No final daquela aula, ele veio falar comigo e eu fiquei sem graça, querendo me enterrar num buraco.
Joshua sempre teve uma figura muito imponente. Seus quase um metro e noventa e dois deixavam qualquer um amedrontado. Ele era musculoso o suficiente para ressaltar bastante seus bíceps e tríceps através da camiseta, mostrando suas veias grossas percorrendo o antebraço. Seus olhos eram um verde quase esmeralda, brilhantes e chamativos, amedrontadores tanto quanto a imagem que ele passava, com cabelos castanhos escuros.
"Parece que hoje não foi exatamente seu dia de sorte." Virei-me um pouco assustada com sua voz logo atrás de mim.
"Pois é, parece que não." Sorrio.
"Vai melhorar, eu acho."
"Eu espero que sim." Junto meus cadernos para me levantar, mas como de costume, acabei derrubando umas folhas no chão.
"Merda." Resmungo comigo mesma.
"Ou talvez não..." Ele ri do meu jeito desastrado.
Eu estou abaixada no chão tentando juntar toda a papelada enquanto ele fica parado observando, decidindo entre ser gentil ou entre ser um completo babaca. Por sorte ele escolhe a primeira opção, o que me alegra um pouco mais.
Sem querer nossas mãos se tocam em um certo momento e eu congelo, sentindo seu toque tão acalentador. Era como se eu tivesse acabado de levar um choque que estivesse percorrendo cada milímetro do meu corpo, e a sensação? Sensacional!
"Preciso ir." Digo saindo afobada da sala de aula.
No dia seguinte, procurei chegar cedo e me surpreendi quando ele veio se sentar ao meu lado. Aparentemente ele era o cara mais gato da sala, vistoso e charmoso com seu jeito todo sensual de andar, falar e olhar.
Não entendi muito bem qual foi o motivo dele ter ficado tão fascinado comigo, eu, uma total desastrada que tropeçava nos próprios pés, cabelos castanho claro dourado e olhos num tom esverdeado . Media um e setenta com longos cabelos ondulados até a cintura e com um corpo normal. Eu não chamava a atenção por ser linda, nunca chamei, mas com ele era diferente, era como se ele me conhecesse profundamente para ter uma atração por mim.
Os dias foram passando e nós fomos ficando cada vez mais amigos. As garotas da sala me olhavam torto, provavelmente desejando que eu quebrasse a perna e não pudesse ir para a faculdade, dando uma chance para todas aquelas vadias predadoras irem atrás dele.
O dia em que nos beijamos pela primeira vez foi após um mês e meio sendo amigos bem próximos. Foi numa noite em que ele me chamou para fazer alguma coisa, já que seu colega tinha ido para a casa dos pais, deixando ele sozinho.
Aceitei na maior ingenuidade que existia dentro de mim, talvez tenha sido este meu erro, ou não. Sei que quando cheguei, ele havia preparado um macarrão para nós dois, o que me fez achar uma atitude bem legal. Depois do jantar nós fomos para o sofá assistir Netflix até se embebedar de séries e filmes. Foi no meio de um filme de comédia que assistíamos, que eu fiz algum comentário engraçado que o fez cair na gargalhada. Fiquei admirando-o rir por quase um minuto, o que acabou me fazendo rir junto. Quando finalmente paramos para respirar, veio o nocaute dele.
"Você é tão autêntica." Havia um brilho no seu olhar que me fazia engoli-lo com os meus e querer me enterrar na boca dele. Já fazia um tempo em que eu pensava nele, mas tentava não admitir pra mim mesma que estava atraída pelo maior gostosão da faculdade.
"Acho você engraçada pra caralho Angie, gosto do jeito como você me faz rir com tão pouco e gosto mais ainda de te ver rir com coisas bobas." Fico acanhada e abaixo a cabeça em um meio sorriso.
Sinto suas mãos acariciarem minha bochecha e levantar meu queixo delicadamente. Quando me viro em sua direção, já sinto sua respiração grudada no meu pescoço e um arrepio me percorrer pela espinha.
"Acho você gostosa pra caralho, você não sabe o quanto. Mexeu comigo desde o primeiro dia." Ele sorri no meu cangote e eu estremeço.
Fechos os olhos e solto a frase mais idiota de toda minha vida, "Quer me beijar?" E a resposta não veio em formato de fala e sim num beijo extravagantemente voraz e devorador. Me senti excitada com apenas o beijo dele, mas quando realmente começamos a namorar e eu comecei a ter experiências sexuais, meu grau de excitação era do inferno ao céu como uma variante em segundos, oscilando sem parar.
Joshua era grande e poderia suprir qualquer mulher. Quando tive minha primeira vez confesso que fiquei bem animada com o tamanho. Saber que ele me satisfaria por completo era a coisa mais maravilhosa.
Nós tínhamos uma ligação bem forte e uma vontade de transar maior ainda. Era todo dia, e quando ficávamos um dia sem, o próximo era reposto por horas até perdemos o fôlego.
Não posso reclamar das coisas que tivemos porque realmente foram muito boas, mas foi um grande choque quando ele começou a ficar esquisito e terminou comigo uma semana depois.
Chorei horrores por uma semana toda, quase desapareci com a minha perda de peso, e coisas como dormir e comer ficaram impossíveis para mim.
Agora estou eu aqui nessa banheira, depois de quase duas horas, pensando em tudo que já aconteceu na minha vida.
Resolvo que já está mais do que na hora de sair do banho e então saio enrolada na toalha pelo quarto procurando meu pijama que usei na noite passada, mas acho que Abby já sumiu com ele ou talvez tenha sido o duende escondedor de coisas, porque a frequência na qual as coisas somem em casa, é impressionante.
Saio de toalha pela casa em busca do pijama perdido, mas não o encontro. Volto frustrada para meu quarto e vejo a camiseta do Brandon dobrada em cima da minha cama. Lembro-me do cheiro delicioso impregnado nela e resolvo coloca-la novamente como pijama.
Sinto como se ele estivesse sentado ao meu lado na cama, seu cheiro é maravilhoso, cogito até na ideia de nunca lavar essa camiseta só para garantir seu cheirinho. Ok, talvez eu esteja um pouco louca. Talvez seja melhor eu dormir logo antes que mais bobagens passem pela minha cabeça.
Deito-me confortavelmente em minha cama não tão macia quanto a de hoje a tarde, mas é o suficiente para me fazer dormir em poucos segundos.

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