As coisas que me levam a decidir - 17

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Três semanas já se passaram desde a declaração que o Brandon me fez. Eu estou tentando seguir minha vida adiante sem ser completamente atingida por ele. Nós nos encontramos nos ensaios da peça, fora isso, eu finjo não prestar atenção nele quando passa por mim e ele finge não me reconhecer quando estou por perto.
Joshua aceitou o fato de eu ter aceito fazer a peça justo com o cara que ele menos gosta na faculdade inteira. Nunca convidei meu namorado para ver os ensaios. Se nem eu me sinto à vontade com o Brandon, como o próprio Joshua iria aceitar? Estou tentando fingir que nada disso está acontecendo comigo.
Hoje o ensaio vai ser pior. A cena em que vamos trabalhar é justo a que Elizabeth e Damon finalmente se beijam e acabam entrelaçados um nos braços do outro.
Tentei praticar em casa, passar a cena sozinha e parecer a mulher mais corajosa do mundo, mas eu sei que a realidade é bem pior.
Chego ao teatro e Blake pede para nos prepararmos em cinco minutos. Subo no palco junto com os outros alunos e faço exercícios diversos para liberar todo o estresse e ansiedade presente em todos nós. Observo de canto de olho que Brandon está encostado na parede da coxia apenas observando.
"Tudo bem. Agora no palco só os que irão passar a cena cinquenta e seis, por favor." Blake bate uma palma para nos alertar. Eu me tremo inteira. É agora.
"Ação!" Está todo um silêncio na plateia e no palco estão apenas eu e Brandon.
"Eu não pertenço a você, Damon." Começo. "Eu não pertenço a ninguém." Sorrio de modo sarcástico.
"Não tente fazer seus joguinhos comigo, Elizabeth."
"Que joguinhos, Damon?" Minha personagem começava a andar em direção a ele, mantendo o sorriso sarcástico.
"Você sabe que nunca tentaria fazer meus joguinhos com você." Ela passa a mão pelo peitoral dele enquanto o rodeia.
"Elizabeth, pare." Era para soar como um aviso da parte dele, mas parecia uma súplica.
"Ou o quê?" Ela mantinha o sorriso ridículo na cara enquanto parava em frente a ele, passando a mão pelo rosto e peitoral dele.
"Às vezes você parece não conhecer a si próprio."
"Eu me conheço muito bem." Diz Damon.
"Aé? E se conhecendo tão bem como você, você sabe o que acontece agora, não é mesmo?" Ela se aproxima dos lábios dele lentamente.
"Elizabeth..." Ela faz sinal para ele se calar enquanto desabotoa sua camisa.
"Você não quer fazer isso." Ele alerta.
"Você não me conhece." Ela sussurra para ele.
"Gostaria de ter o prazer." Ele beija a bochecha dela, depois a outra e vai beijando seu rosto até beija-la na boca. Um beijo e tanto.
Quando Brandon encosta seus lábios nos meus, já familiarizados, eu esqueço que é um personagem e acabo levando para o lado pessoal. O beijo todo deveria ser com muita pegação. Ele passa seus dedos longos pela minha cintura até chegar na minha bunda, apertando-a. Eu o empurro na cama e subo em seu colo, retirando com pressa sua camisa. Damon me beija com mais intensidade até tirar meu vestido de época de uma forma muito rápida. Nós rolamos na cama e eu estou por baixo. Meus braços esticados para cima enquanto ele os segura e me beija até a barriga. Meus pelos se arrepiam e eu já não sei mais o que é real ou não.
"Continuem!" Grita Blake.
Eu rolo por cima dele e simulo estar montada nele como se estivéssemos mesmo no ato, rebolando um pouco e me apoiando em seu abdomên definido.
"Você pertence a mim, Damon." É o gemido que sou obrigada a fazer antes que a cena acabe.
Estou roxa, rosa, azul, todas as cores possíveis que representem a vergonha que estou sentindo no momento. Brandon interpretou bem, mas vejo que não passou disso. Ele agora está sério e quieto no seu próprio canto.
"Isso foi do caralho!" Abby está boquiaberta quando me aproximo.
"Como você está sentindo?"
"Invadida e envergonhada." Digo sem expressar emoção.
"Você deveria levar a coisa de atuação a sério. Essa cena é uma das melhores da peça!" Abby diferente de mim, está pulando de alegria.
"Não, obrigada." Acabo sendo um pouco ríspida com a minha amiga.
"O que foi? O que houve?" Ela pergunta como se realmente não fizesse ideia.
"Abby, não dá. Eu não consigo entender qual a ligação que eu tenho com o maldito do Brandon, mas quando ele se aproxima de mim eu fico toda arrepiada, com tremores, como se ele realmente importasse pra mim, quando na verdade quem é importante é o Josh." Quando cito o nome do meu namorado, Abby revira os olhos.
"Não revira os olhos pra mim. Você mais do que ninguém sabe o que eu ja passei por causa disso."
"Ok. Eu te entendo, mas em partes. Angie, ta na cara de vocês dois que alguma coisa entre vocês se acende toda vez que vocês estão juntos. A cena de hoje é a prova viva. Parecia real!"
"Mas não foi! Você não pode achar que por causa da droga dessa peça eu e ele vamos ficar juntos. Que saco!" Saio pisando duro de la sem nem olhar para trás. Sei que agora peguei pesado com a minha amiga.
Vou novamente para o banheiro. Preciso trocar minha roupa primeiramente, e enquanto faço isso, lágrimas escorrem pelo meu rosto. Eu me sento abraçando meus joelhos e tento entender porque estou chorando, porque estou assim por causa daquele homem. É algo que eu não tenho a resposta.
Como por hoje eu já não tenho mais aula, vou embora sem avisar ninguém. Vou indo para o estacionamento pegar meu carro e aproveitar que o horário ainda não tem muito fluxo de pessoas e veículos.
Caminho com a cabeça abaixada, tentando adivinhar o que acontece comigo, de quem eu gosto mesmo, Brandon ou Josh, e novamente lágrimas escorrem. Quando coloco a chave do carro na fechadura, sinto uma mão no meu ombro e me assusto na mesma hora.
"Desculpa. Não quis te assustar." Se me falassem que era um ET vestido de humano eu acreditaria mais do que o que estou vendo agora. Brandon me encarando com uma cara igualmente triste.
Passo as costas da mão rapidamente pela bochecha, tentando secar minhas lágrimas sem parecer uma idiota na frente dele.
"Por que você ta chorando?" Eu enxugo uma lágrima solitária com o polegar.
"Nada." Minto.
"Eu te vi sair do teatro. O que foi?" Ele diz.
"Sei lá. Estou confusa. Já não sei se devo continuar na peça." Digo a verdade, pelo menos uma parte dela.
"E..." Ele me pressiona.
"O que você quer que eu diga?" Pergunto com sinceridade.
"A verdade, Angie. O que você esta sentindo." Ele não deixa de me encarar nem por um segundo e isso me abala um pouco.
"Brandon..." Ele percebe que estou prestes a dizer que não vou entrar no assunto, então ele passa seus dedos pelo meu rosto, deixando-me com o coração acelerado.
"Eu sei o que você vai dizer." Faço uma careta de interrogação. "Mas quero ouvir o que você tem pra me falar."
"Acho que a gente não pode ficar mais juntos, em lugar nenhum, se é o que quer saber." Digo finalmente.
"E por que?" Ele pergunta.
"Porque toda vez que a gente ta junto, eu me sinto estranha, como se eu estivesse fazendo algo de errado. Eu fico acelerada, tremendo, não sei o que isso significa, mas não quero descobrir. Por isso acho que devo sair da peça, aliás eu nunca quis isso tanto quanto você." Finalmente tenho coragem de dizer tudo o que eu estava realmente pensando. Ele permanece me observando enquanto eu entro no carro, dou a partida e saio do estacionamento, rumo ao meu apartamento.
Chego em casa e vou direto para o chuveiro, preciso descarregar toda essa tensão que está cada vez mais acumulada dentro de mim. Como uma boa atriz que estou me tornando, faço questão de chorar no banho, igual fazem nos filmes de romance e drama.
Desliguei o celular assim que sai do banho e resolvi ir dormir. Chega de viver por hoje.
"Talvez Abby fique preocupada" Eu penso enquanto tento pegar no sono.
"Dane-se! Todos sabem onde me encontrar" Meu eu interior está bem raivoso hoje. Pego no sono rapidamente.
Escuto um barulho extremamente chato no meu sonho, tento achar de onde vem, mas não consigo fazer com que pare. Percebo que não é no sonho.
Levanto-me furiosa já que o tal barulho acabou me acordando. Ainda estou desnorteada, olho para o celular e lembro que o desliguei antes de dormir, olho o relógio sobre o criado-mudo, mas ele permanece silencioso, então identifico que o barulho é da campainha. Saco!
Saio furiosa da minha cama e vou em direção à porta. Estou totalmente despenteada e amassada. Se for Abby eu vou brigar feio com ela por ter feito todo esse barulho, se for o Josh, farei o mesmo. Estou de saco cheio de todos atrás de mim o tempo todo.
Abro a porta e não tenho tempo de pensar em nada, nem de receber a informação de quem é, quando percebo já estou sendo beijada.
É ele. Meu coração sabe exatamente quem é, e eu também. Meu corpo inteiro sente o seu toque sobre minha pele, sua boca na minha e nossa língua unida. Eu não sei exatamente como aconteceu. Lembro-me de abrir a porta e, talvez, vê-lo com o braço apoiado no batente da porta, que acabou indo pra cima de mim assim que a porta se abriu. Senti o toque rápido das mãos dele no meu rosto e logo em seguida o seu beijo no qual eu não fui capaz de rejeitar.
Estamos nos beijando agora, porque talvez tenha se passada segundos desde o momento em que abri a porta. Sinto todo seu corpo colado ao meu me pegando no colo e não me soltando nem para recuperar o ar. Ele parece desesperado e eu também, mas não consigo, por mais que eu tente, entender qual a magia que ele exerce em mim.
Vamos indo em direção ao sofá e eu continuo no colo dele, beijando-o como eu nunca beijei ninguém a minha vida toda.
"Angie..." Ele agarra meu cabelo enquanto me beija e tenta dizer algo ao mesmo tempo.
"Hmm..." Não consigo dizer nada, apenas beija-lo.
"Porra, eu te amo garota." Ele continua me beijando como se tivesse soltado a frase mais simples de todas, e não um eu te amo. Meu coração parece parar de bater no mesmo momento e eu pareço não respirar mais. Ele ainda continua me beijando mas eu me distraio e paro.
"O que você disse?" Estou assustada, talvez apavorada e com medo, como uma criança.
Ele agarra meu rosto com as duas mãos grandes e diz olhando serio.
"Eu amo você." Estou boquiaberta, sei que estou. Estou começando a ver a reação que ele tem depois de eu não responder nem um ah se quer.
"Brandon..." Eu saio de cima dele e me sento ao seu lado no sofá.
"Eu sei. Me desculpe. Você namora e eu não deveria ter feito o que fiz. Eu já estou indo." Eu consegui. Consegui trazer o Brandon frio de volta, aquele que me ignora e finge não ter o menor interesse em mim.
"Espera!" Levanto a tempo de agarrar seu pulso antes que ele passe pela porta. Ficamos nos encarando até ele dizer:
"Tudo bem, eu entendo." Mas eu não! Caramba, eu não sei o que está acontecendo, eu não sei de quem eu gosto, não sei nem o nomear o que sinto por ele.
"Por favor, deixa eu falar." Continuo segurando seu braço firme.
"Eu gosto de você. Gosto de um jeito que eu nem consigo explicar, mas ao mesmo tempo, eu estou confusa, não sei mais o que eu sinto pelo meu namorado, não sei se estou confundindo as coisas e a única coisa que eu tenho certeza é de que estou com muitos problemas." Despejo tudo, fico até surpresa comigo por isso. Vejo um breve sorriso no rosto dele.
"Eu gosto de você e isso eu já não consigo negar nem pra mim mesma." Ele sorri mais.
"Desculpa, mas antes eu tenho que me resolver pra poder te dar uma resposta." Passo meus dedos finos pelo braço nu dele e depois, pelo seu rosto com uma barba recém feita e seu maxilar bem marcado.
"Eu fico feliz por pelo menos você estar falando o que sente." Sorrio pra ele.
"Eu também." Estou meio envergonhada agora, mas me controlo. Ele começa a se voltar para a porta mas num impulso maior que eu, acabo puxando-o de volta e beijando-o. Ele corresponde, lógico. Depois de alguns segundo eu o deixo ir e fico como boba relembrando exatamente como tudo aconteceu.

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